A Lei de Ferro
"Quem diz organização diz poder, e todo poder é conservador". Assim escreveu há 100 anos o sociólogo Robert Michels, em seu clássico "Os Partidos Políticos: um estudo sobre as tendências oligárquicas da democracia".
Tarso Genro desistiu de ser candidato do Campo Majoritário à presidência do PT. A tarefa passou para Ricardo Berzoini, cujo maior feito como ministro da previdência no governo Lula foi ter mandado velhinhas de 90 anos para a fila de recadastramento do INSS. Genro dera um ultimato para que Dirceu e sua trupe se afastassem do PT, porque não conseguiria reformar o partido com a presença do deputado.
Michels era militante do Partido Social-Democrata da Alemanha (SPD), então o maior da esquerda mundial. O SPD nasceu do movimento operário que enfrentou Bismarck e se consolidou como uma das principais forças políticas da Alemanha no início do século XX. Mas os antigos dirigentes sindicais que se tornaram a liderança do partido e se afastaram das bases operárias. Quando a I Guerra Mundial estourou, apoiáram o Kaiser e mandaram seus filiados servir de bucha de canhão nos campos de batalha.
O PT não consegue extirpar suas maçãs podres. Talvez o partido não seja capaz de financiar sua enorme estrutura sem o esquema montado por Dirceu e Delúbio. Com a perda da mobilização da militância, será difícil sustentar o PT só com a venda de camisas e estrelinhas, ainda mais com as dividas milionárias da sigla.
Michels concluiu que a lógica da organização de um partido político exige a formação de um aparato burocrático, de técnicos especializados, que fatalmente leva ao distanciamento da liderança com relação às bases sociais. No limite, a cúpula faz o que for necessário para manter o poder, mesmo que às custas de acordos e conchavos com a elite de direita, abandonando o programa de mudança social do partido. O sociólogo chamou o processo de "a lei de ferro da oligarquia".
Se não conseguir se renovar, o PT corre o risco de virar um novo PMDB: um belo passado de lutas e um presente marcado por clientelismo e corrupção. O partido não acaba. Sempre sobra um ou outro Pedro Simon para lembrar dias mais gloriosos. Mas em vez de mudar o mundo, termina-se amigo do Sarney.
As pessoas a quem o partido dizia representar se desiludem e buscam outras opções políticas - às vezes trágicas. O velho Michels se cansou da burocracia e apostou as fichas em líderes carismáticos que falariam direto às massas. Morreu como o queridinho de Mussolini, lecionando ciência política na Itália fascista. Ah, esses meus colegas de ofício....