terça-feira, agosto 02, 2005

Um Defensor de Lula


Nesta manhã assisti à palestra do secretário do Tesouro dos EUA, John Snow. Ele se derramou em elogios a Lula e a Palocci. Foram tantos os cumprimentos que cometi um ato falho nas minhas anotações, e escrevi que Snow defendera a política econômica de "Bush e Palocci".

Snow ressaltou que enquanto a estabilidade macroeconômica for mantida, os Estados Unidos não vêem problemas no que toca à crise de corrupção. Significativo que Washington tenha mandado o titular do Tesouro, e não a encarregada da diplomacia, nesta viagem de apoio ao governo Lula. O eixo são as finanças.

As últimas semanas foram bastante movimentadas nas relações entre EUA e América Latina, com mobilizações contra a emissora de TV criada por Chávez e Kirchner e a nomeação de um encarregado da mudança do regime cubano após a morte de Fidel. O mais importante: foi escolhido o novo diretor do Banco Interamericano de Desenvolvimento e o vencedor foi o colombiano Luis Moreno, que ocupava o cargo de embaixador daquele país junto aos Estados Unidos. Moreno foi um dos criadores do Plano Colômbia e sua única experiência no mercado financeiro, à frente do mexicano Banco do Pacífico, resultou no seu indiciamento por fraude.

Snow o elogiou, dizendo que espera que o BID seja capaz de investir fortemente em infra-estrutura na América Latina, através das Parcerias Público-Privadas (PPP). Obras grandiosas, créditos a juros baixos, pouca transparência... claro que as empreiteiras estão adorando. Inclusive as brasileiras, como mostra meu colega de instituto Carlos Tautz, em seu artigo: "Imperialismo" Brasileiro.

O secretário do Tesouro também destacou a aprovação do acordo de livre comércio dos EUA com a América Central (Cafta), afirmando que o tratado ajudará nas negociações da Alca e da Rodada de Doha, da OMC. O diplomata que presidia a cerimônia, embaixador Botafogo Gonçalves, retrocou lembrando que o Cafta foi aprovado por uma margem muito pequena no Congresso americano, e a própria população estava muito receosa de mais abertura na economia.

De fato, Snow tem enfrentado muitas críticas de sua gestão. Ele substituiu Paul O´Neil, que saiu do governo Bush atirando. Está às voltas com uma dívida pública gigantesca, oriunda da guerra do Iraque e do corte de impostos dos ricos e das grandes empresas, e com o dólar desvalorizado. Mas a economia cresce e ele citou projeções que apontam para uma redução do déficit, de US$400 bilhões para US$300 bilhões, ainda em 2005. Aguardemos.
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