quarta-feira, julho 20, 2005

Os Jornalistas e a Cidade


A musa maior dos cronistas Posted by Picasa

Ontem assisti no jornal O Globo a um debate sobre "O Colunismo e a Cidade", coordenado por Arthur Xexéo e com a participação de Arthur Dapieve, Cora Rónai, Ancelmo Góis e Joaquim Ferreira dos Santos. O foco da discussão era a relação dos jornalistas que escrevem crônicas ou colunas de notas com a cidade do Rio de Janeiro.

Dapieve destacou que a crônica é um gênero jornalístico tipicamente carioca (mais do que brasileiro) e não é encontrada em outros países. Ressaltou que há algo semelhante nas revistas americanas, como a New Yorker. De fato, no jornalismo anglo-americano existe o ensaio, do qual aliás sou um apreciador. São textos maiores e mais analíticos, podem ser lidos em publicações como a London Review of Books ou sua contraparte New York Review of Books.

Todos os palestrantes foram unânimes em reconher a influência do Rio sobre o que escrevem, apontando fatores como a linguagem informal, as gírias, a mistura de classes sociais e tipos humanos etc. Evidentemente, foram citados os grandes cronistas dos anos 50/60, o curioso é que não se observou que todos eram de fora da cidade: de Pernambuco (Nelson Rodrigues, Antonio Maria), Minas Gerais (Fernando Sabino, Paulo Mendes Campos) ou Espírito Santo (Rubem Braga). Antonio Maria ainda homenageou o Rio com a belíssima Valsa de uma Cidade.

Um aspecto desagradável do debate foi o bairrismo dos palestrantes, que se perderam em provocações contra São Paulo - sintoma de um certo provicincianismo que às vezes se abate sobre a cena cultural carioca. Fiquei pensando se o enfraquecimento da grande crônica não está ligado à decadência político-econômica do Rio de Janeiro, como se o cronista só pudesse sobreviver às custas de retratar a vida pulsante da então capital da República. A própria degradação do convívio social, com a violência, também deve ter influenciado.

Perguntei à mesa se acreditavam que os blogs davam continuidade à tradição da crônica, ao que mestre Rubem Braga chamou "ofício de viver em voz alta". Dapieve achou que em alguns casos é isso o que ocorre, mas em outros os blogueiros apenas difundem uma versão pública do "Meu Querido Diário". Cora Rónai disse que o tom confessional dos blogs, em primeira pessoa, é um dos elementos que fazem a crônica se diferenciar da reportagem.

Portanto, podemos nos considerar como herdeiros e modernizadores de uma nobre tradição. Imaginem só quando rádio e vídeo forem baratos e fáceis o suficiente para serem acoplados aos blogs.

3 Comentarios:

Blogger Unknown said... Weblog Commenting and Trackback by HaloScan.com

Os videos eu nao sei, mas os radios já chegaram. Parece que os Podcasts estão funcionando muiito bem....
Beijão

julho 21, 2005 11:06 PM  
Blogger Maurício Santoro said... Weblog Commenting and Trackback by HaloScan.com

Salve, Claudia.

Um amigo que foi meu chefe no Cadê? é um entusiasta do rádio na Internet e até apresenta um programa. Será que em breve teremos os Conspiradores em rádio? Por que não? A tecnologia avança numa velocidade que é um estímulo à criatividade.

Abraços,

julho 22, 2005 10:17 AM  
Blogger Unknown said... Weblog Commenting and Trackback by HaloScan.com

É isso aí, Maurício! A tecnologia não só estimula mas viabiliza a criatividade. Utopia? Sei não... Com um pouquinho de disposição e vontade de trabalhar, nossa mesa transforma-se no que quisermos, de estação de rádio à redação e ilha de edição. Por que não?
Beijão

julho 30, 2005 5:36 PM  

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