Os Jornalistas e a Cidade
A musa maior dos cronistas
Ontem assisti no jornal O Globo a um debate sobre "O Colunismo e a Cidade", coordenado por Arthur Xexéo e com a participação de Arthur Dapieve, Cora Rónai, Ancelmo Góis e Joaquim Ferreira dos Santos. O foco da discussão era a relação dos jornalistas que escrevem crônicas ou colunas de notas com a cidade do Rio de Janeiro.
Dapieve destacou que a crônica é um gênero jornalístico tipicamente carioca (mais do que brasileiro) e não é encontrada em outros países. Ressaltou que há algo semelhante nas revistas americanas, como a New Yorker. De fato, no jornalismo anglo-americano existe o ensaio, do qual aliás sou um apreciador. São textos maiores e mais analíticos, podem ser lidos em publicações como a London Review of Books ou sua contraparte New York Review of Books.
Todos os palestrantes foram unânimes em reconher a influência do Rio sobre o que escrevem, apontando fatores como a linguagem informal, as gírias, a mistura de classes sociais e tipos humanos etc. Evidentemente, foram citados os grandes cronistas dos anos 50/60, o curioso é que não se observou que todos eram de fora da cidade: de Pernambuco (Nelson Rodrigues, Antonio Maria), Minas Gerais (Fernando Sabino, Paulo Mendes Campos) ou Espírito Santo (Rubem Braga). Antonio Maria ainda homenageou o Rio com a belíssima Valsa de uma Cidade.
Um aspecto desagradável do debate foi o bairrismo dos palestrantes, que se perderam em provocações contra São Paulo - sintoma de um certo provicincianismo que às vezes se abate sobre a cena cultural carioca. Fiquei pensando se o enfraquecimento da grande crônica não está ligado à decadência político-econômica do Rio de Janeiro, como se o cronista só pudesse sobreviver às custas de retratar a vida pulsante da então capital da República. A própria degradação do convívio social, com a violência, também deve ter influenciado.
Perguntei à mesa se acreditavam que os blogs davam continuidade à tradição da crônica, ao que mestre Rubem Braga chamou "ofício de viver em voz alta". Dapieve achou que em alguns casos é isso o que ocorre, mas em outros os blogueiros apenas difundem uma versão pública do "Meu Querido Diário". Cora Rónai disse que o tom confessional dos blogs, em primeira pessoa, é um dos elementos que fazem a crônica se diferenciar da reportagem.
Portanto, podemos nos considerar como herdeiros e modernizadores de uma nobre tradição. Imaginem só quando rádio e vídeo forem baratos e fáceis o suficiente para serem acoplados aos blogs.
3 Comentarios:
Os videos eu nao sei, mas os radios já chegaram. Parece que os Podcasts estão funcionando muiito bem....
Beijão
Salve, Claudia.
Um amigo que foi meu chefe no Cadê? é um entusiasta do rádio na Internet e até apresenta um programa. Será que em breve teremos os Conspiradores em rádio? Por que não? A tecnologia avança numa velocidade que é um estímulo à criatividade.
Abraços,
É isso aí, Maurício! A tecnologia não só estimula mas viabiliza a criatividade. Utopia? Sei não... Com um pouquinho de disposição e vontade de trabalhar, nossa mesa transforma-se no que quisermos, de estação de rádio à redação e ilha de edição. Por que não?
Beijão
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