quinta-feira, março 01, 2007

Novo Endereço

Devido a problemas com o sistema do blogspot e dificuldades de realizar a migração para a nova versão, resolvi criar um blog para substituir Os Conspiradores. Agora se inicia Todos os Fogos o Fogo. O estilo e espírito se mantém, mas o novo endereço é http://todososfogos.blogspot.com. Por favor, atualizem seus marcadores.

terça-feira, fevereiro 27, 2007

Fim de Temporada

¿ Era nuestra mirada demasiado estrecha,
demasiado tendenciosa,
demasiado apresurada?

¿ Fueron nuestras conclusiones muy rígidas?

Puede ser.

Do filme "Diários de Motocicleta"

Acabou, ou quase. Hoje é meu último dia completo na Argentina, amanhä embarco para o Brasil. Contra a vontade, gostaria de permanecer aqui pelo menos até o fim do ano. Mas minha bolsa e minha licensa do trabalho terminam e é necessário voltar. A caixa de mensagens já está repleta de mensagens de alunos e colegas de emprego me solicitando tarefas. A única que recusei foi um pedido para preparar e apresentar um informe sobre comércio internacional em Genebra no início de março, atualmente o único aspecto do tema que me interessa é a compra dos meus souvenirs - duas malas repletas de livros, cds e dvds.

Estes meses que passei na Argentina mudaram bastante minha maneira de ver este país. Para resumir a ópera, relativizei os aspectos mais "europeus" da história argentina e ficaram mais claros os laços que unem este país à América Latina. Reuni excelentes informaçöes para minha tese e revi várias das hipóteses iniciais. Também levo material para trabalhar em ensaios sobre memória e trauma com relaçäo à guerra das Malvinas e à ditadura militar de 1976-1983. Quero entender melhor esse período.

Embora eu viaje muito, esta foi a primeira vez que passei mais de um mës longe do Brasil e adorei a experiëncia, bem mais do que havia imaginado. Em parte é por eu estar bastante insatisfeito com várias coisas no país, em boa medida também é pela excitaçäo das aventuras e das descobertas, bem como a fantástica qualidade de vida que desfrutei em Buenos Aires. Curiosamente, a maioria dos brasileiros que conheci por aqui morrem de saudades do Brasil e acham que tudo é melhor por lá. Questäo de gosto. Como me disse uma amiga argentina, "Vos sos un tipo raro, un brasileño sin saudade."

Levo a certeza de que quero repetir esta experiëncia e viver outras temporadas no exterior. Como professsor-visitante, como pesquisador ou jornalista, sei lá. É bom para abrir os horizontes e arejar a cabeça.

domingo, fevereiro 25, 2007

Acertando as Contas

- Entäo vocë vai nos deixar, Maurício?
- Pois é. Volto ao Brasil na quarta-feira. Gostaria de fechar minha conta no Banco do Brasil da Argentina e usar o que sobrou nela para comprar dólares.
- Por que näo pesos?
- Os dólares säo para poupar. Meu passaporte para voltar aqui no próximo ano.
- Claro, boa idéia. Aliás, qual foi a razäo pela qual vocë esteve aqui?
- Para estudar ciëncia política.

Neste momento, os outros clientes na fila se juntam à conversa:

- Mas com os políticos que temos aqui? ¡ Estás loco, chico!
- Acredite, os do Brasil näo säo melhores.

Saquei meu dinheiro e me despedi do pessoal do Banco. Era a última providëncia burocrática importante para tomar antes da viagem, estes últimos dias säo para visitar os amigos e passar na universidade pela última vez, para dizer adeus a minha orientadora e aos funcionários.

O Banco do Brasil é um capítulo à parte nesta aventura argentina. Ele está sempre cheio de brasileiros que väo para lá achando que estäo numa agëncia do centro do Rio de Janeiro ou Säo Paulo, e que podem movimentar suas contas facilmente. Näo é assim. Trata-se na verdade de um banco dedicado ao comércio exterior, sem infra-estrutura para atender às hordas de turistas que lá aportam e as senhoras histéricas que querem pagar a última parcela do IPTU em 15 minutos. O comportamento dos meus compatriotas é täo vergonhoso que em geral prefiro ficar calado num canto, escondendo a cara atrás de um jornal portenho e fingindo que nada a tenho a ver com aquele povo que faria os hunos e visigodos parecerem modelos de civilidade.

Tive que abrir uma conta no exterior para receber a bolsa da CAPES e a burocracia foi täo grande que quase tive pena daqueles corruptos que depöem nas CPIs por causa de contas offshore nos paraísos fiscais. Bem, mas estou certo que eles entendem do assunto bem mais do que eu. Ainda assim, tudo funcionou, embora eu näo vá ter saudades da papelada bancária. Como explico esses milhares de dólares numa conta em Buenos Aires, senhor senador? Olhe, tudo começou com uma tese de doutorado...

quinta-feira, fevereiro 22, 2007

Patagönia



A Argentina näo pára de me surpreender. Depois de Mendoza, achava que näo iria encontrar nada mais bonito neste país, mas aí vim passar a semana na Patagönia e simplesmente me apaixonei por esta regiäo, que é sem dúvida uma das mais lindas do planeta.

A única que conheço que se compara a ela säo os vales alpinos da Itália, mas aqui há um contraste ainda mais impressionante entre lagos, montanhas, bosques e a estepe árida. Além disso, a populaçäo é muito mais amável e gentil, e os preços säo muito baixos. Todas as excursöes que fiz por aqui, somadas, me custaram menos de R$150. E isso incluiu percursos de centenas de quilömetros, subidas aos Andes, passeios por lagos e vilas montanhosas etc. Estou até cansado, porque em geral minha programaçäo durava cerca de 12, 13 horas por dia.

Minha base foi Bariloche e fiz os circuitos tradicionais ao redor da cidade, passeando pelo lago Nahuel Huapi e pelo cerro Catedral - onde pela primeira vez na vida brinquei na neve, pois havia nevado em pleno veräo! Bariloche é muito charmosa e simpática e gostei bastante de passear pela rua Mitre, o centro comercial, e me fartar nas lojas que fazem desta cidade a "capital do chocolate da Argentina".

Também fiz o circuito dos Sete Lagos e Trës Parques, pegando a estrada e conhecendo as cidades de Villa la Angostura e San Martin de los Andes. Ainda assim, vi apenas uma pequena parte do que está disponível na regiäo. Com certeza quero voltar e explorar o extremo sul da Patagönia, para conhecer as geleiras e os parques naturais, de Santa Cruz à Terra do Fogo.

A regiäo passa por uma grande expansäo do turismo, que aumentou muito após a desvalorizaçäo do peso em 2002. É fantástico ver o potencial desse tipo de serviço e a infra-estrutura disponível é muito boa. Mas insisto que o melhor é a incrível gentileza das pessoas, que a todo tempo nos agradecem por visitar sua linda Patagönia e nos tratam com uma delicadeza vai muito além da cordialidade profissional.

segunda-feira, fevereiro 19, 2007

Cartas de Iwo Jima


Clint Eastwood há muito entrou para meu clube de cineastas favoritos, aqueles de quem vejo todos os filmes. "Cartas de Iwo Jima" consegue a proeza de ser ainda melhor do que "A Conquista da Honra", mas minha sugestäo é que vocë assista aos dois com poucos dias de diferença, porque ambos se complementam de maneira esplëndida para retratar uma das batalhas mais sangrentas da Segunda Guerra Mundial.

Em "Conquista da Honra" Eastwood contava a história dos soldados americanos que posaram para a famosa foto que simbolizou a batalha por Iwo Jima, e refletia sobre a construçäo política dos heróis. Em "Cartas" temos o ponto de vista japonës daquele sangrento confronto, narrado sobretudo da perspectiva de dois personagens, interpretados por excelentes atores: o general Kuribayashi (Ken Watanabe) e o recruta Saigo (Kazunari Ninomiya).

Kuribayashi recebe a missäo impossível de defender a ilha, isolada após a destruiçäo da frota japonesa na batalha das Marianas. Ele assume a tarefa com zelo e dedicaçäo - os americanos precisaram de 40 dias para derrotá-lo, em vez dos trës que planejavam - mas enfrenta a desconfiança de seus subordinados, que questionam suas táticas de recuo.

Saigo é o anti-herói, um padeiro que está no Exército contra sua vontade e só pensa em se safar para retornar para sua mulher e filha recém-nascida. Melhor dizendo, seu estilo pé-no-chäo é o contraponto para a ética de honra guerreira dos japoneses.

"Conquista" e "Cartas" tëm cenas em comum, na realidade o segundo filme explica várias situaçöes esboçadas ou mostradas de relance no primeiro. Juntos, os dois formam um painel excecpcional da guerra, numa visäo humanista que reconhece as qualidades em ambos os inimigos. Os filmes tëm recebidos prëmios importantes, mas näo foram bem na bilheteria. Compreensäo e toleräncia nunca foram campeöes de popularidade, muito menos nos dias atuais.
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