domingo, fevereiro 25, 2007

Acertando as Contas

- Entäo vocë vai nos deixar, Maurício?
- Pois é. Volto ao Brasil na quarta-feira. Gostaria de fechar minha conta no Banco do Brasil da Argentina e usar o que sobrou nela para comprar dólares.
- Por que näo pesos?
- Os dólares säo para poupar. Meu passaporte para voltar aqui no próximo ano.
- Claro, boa idéia. Aliás, qual foi a razäo pela qual vocë esteve aqui?
- Para estudar ciëncia política.

Neste momento, os outros clientes na fila se juntam à conversa:

- Mas com os políticos que temos aqui? ¡ Estás loco, chico!
- Acredite, os do Brasil näo säo melhores.

Saquei meu dinheiro e me despedi do pessoal do Banco. Era a última providëncia burocrática importante para tomar antes da viagem, estes últimos dias säo para visitar os amigos e passar na universidade pela última vez, para dizer adeus a minha orientadora e aos funcionários.

O Banco do Brasil é um capítulo à parte nesta aventura argentina. Ele está sempre cheio de brasileiros que väo para lá achando que estäo numa agëncia do centro do Rio de Janeiro ou Säo Paulo, e que podem movimentar suas contas facilmente. Näo é assim. Trata-se na verdade de um banco dedicado ao comércio exterior, sem infra-estrutura para atender às hordas de turistas que lá aportam e as senhoras histéricas que querem pagar a última parcela do IPTU em 15 minutos. O comportamento dos meus compatriotas é täo vergonhoso que em geral prefiro ficar calado num canto, escondendo a cara atrás de um jornal portenho e fingindo que nada a tenho a ver com aquele povo que faria os hunos e visigodos parecerem modelos de civilidade.

Tive que abrir uma conta no exterior para receber a bolsa da CAPES e a burocracia foi täo grande que quase tive pena daqueles corruptos que depöem nas CPIs por causa de contas offshore nos paraísos fiscais. Bem, mas estou certo que eles entendem do assunto bem mais do que eu. Ainda assim, tudo funcionou, embora eu näo vá ter saudades da papelada bancária. Como explico esses milhares de dólares numa conta em Buenos Aires, senhor senador? Olhe, tudo começou com uma tese de doutorado...

2 Comentarios:

Anonymous Anônimo said... Weblog Commenting and Trackback by HaloScan.com

Se há uma coisa em que eu não acredito é palavra de político e enriquecimento de bolsistas. Tenho uma filha que se mata de estudar e depois de adulta tem que viver complementada com mesada nossa, porque o CNpouquinho da CNPQ não dá nem pro ônibus e pro bandejão...Pelo menos em Baires a gente ganha pouco mas pode chorar as mágoas em bom e barato vinho tinto, né não? :)

fevereiro 26, 2007 11:53 AM  
Blogger Maurício Santoro said... Weblog Commenting and Trackback by HaloScan.com

Maray,

o que acontece é que agëncias como CAPES e CNPQ foram projetadas para enviar bolsistas aos EUA e á Europa. Aí aparece um dissidente como eu e pede bolsa para a América Latina. Resultado: me deram o mesmo valor que eu receberia se fosse para Nova York ou Washington.

Bem, suponho que US$1.100 ao mës näo compra um hamburguer em Manhattan, mas com essa grana vivo muito bem em Buenos Aires, com direito a um bom Malbec e tudo o mais.

Igor,

preenchem os cofres e as cuecas. Näo se esqueca, o estilo é sempre fundamental.

Mañana estou de volta aos trópicos. Marquemos um dos nossos almocos.

Abracos

fevereiro 27, 2007 10:54 AM  

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