segunda-feira, fevereiro 05, 2007

Avenida Corrientes

Um dos meus lugares favoritos em Buenos Aires é a Avenida Corrientes, em especial os quarteiröes ente o Obelisco e a Avenida Callao, que concentram uma enorme quantidade de teatros, livrarias e centros culturais. No sábado à noite fui assistir a uma peça por lá, com uma amiga argentina, e praticamente podiamos respirar arte ao longo daquelas quadras.

Queríamos assistir à "Morte do Caixeiro Viajante", mas os ingressos já estavam esgotados. Minha amiga sugeriu uma comédia argentina, "¿Estás ahí?", que terminou sendo um ótimo programa. É uma história que brinca com fantasmas para falar dos problemas de comunicaçäo entre casais, ganhou vários prëmios e é muito divertida.

Na saída, a avenida fica congestionada com o fluxo das pessoas que saem dos diversos espetáculos em cartaz, do público de classe média alta que busca os clássicos até a platéia mais popular das peças do teatro de revista, uma tradiçäo que continua forte na Argentina. Imagino que a Cineländia ou a Praça Tiradentes do Rio de Janeiro dos anos 40 e 50 devia se parecer um tanto com a Corrientes de hoje.

As livrarias locais também säo um show à parte. Buenos Aires é famosa pela quantidade de livrarias, mas hoje a maior parte delas pertence a grandes cadeias comerciais como Cúspide, Distal e El Ateneo. Contudo, na Corrientes ainda é possível encontrar um pouco da figura do velho livreiro e da livraria especializada, como aquelas dedicadas ao teatro ou às ciëncias sociais. Há muitas com um ambiente muito agradável, música ao fundo - em geral jazz ou bossa nova - e discussöes animadas.

Numa delas dois amigos discutiam e um citava Tom Jobim, "Tristeza näo tem fim, felicidade sim". Näo pude conter o riso, só mesmo a melancolia portenha para pescar um dos versos mais tristes do maestro. Coitados, eles näo fazem idéia do quanto säo felizes, e da cidade espetacular que possuem.

Ah, sim. Se vocë é tanguero deve estar se lembrando da letra do tango "A Media Luz", que cita a Avenida Corrientes:

Corrientes tres cuatro ocho,
segundo piso, ascensor;
no hay porteros ni vecinos
adentro, cocktel y amor.


Isto vem da época em que a avenida era a fronteira onde se podia escutar e dançar tango, depois dela vinha a zona "decente" da cidade, na qual o ritmo nascido nos bordéis portenhos näo era tolerado. Claro que hoje o tango é um símbolo nacional (ao lado do doce de leite, dizia Jorge Luís Borges), mas o endereço citado na cançäo virou um estacionamento. Contudo, a julgar pelos panfletos que se distribuem na Corrientes, ainda há nela muitos estabelecimentos como aquele descrito pelo compositor.

4 Comentarios:

Anonymous Anônimo said... Weblog Commenting and Trackback by HaloScan.com

Foi aí mesmo, na corrientes, que eu conheci um livreiro- Julio- que trabalhava na Libertango e agora está no CCC ( não confundir com "aquele" nosso CCC), ao lado, e sua estupenda seleção de CDs. Acaba que agora, quando vou a Baires, compro até música brasileira. A seleção dele é melhor do que a maioria das lojas daqui de Sampa. Vai lá!

fevereiro 06, 2007 11:30 AM  
Blogger Maurício Santoro said... Weblog Commenting and Trackback by HaloScan.com

Oi, Maray.

Sempre me surpreendo em como se escuta música brasileira por aqui, outro dia mesmo ouvi na Ateneo o CD de sambas da Marisa Monte, que ainda näo conhecia. Mas näo estou comprando nada do Brasil por aqui, isso faço no Rio de Janeiro!

Abs

fevereiro 07, 2007 12:37 PM  
Anonymous Anônimo said... Weblog Commenting and Trackback by HaloScan.com

Te falei que meu pai ficava cantando esse tango o tempo todo quando visitamos Buenos Aires? :)

fevereiro 07, 2007 1:32 PM  
Blogger Maurício Santoro said... Weblog Commenting and Trackback by HaloScan.com

Ha ha ha.. Näo, Nica, nem conhecia o lado tangüero do seu pai. Mas sempre que menciono a Corrientes, alguém canta o diabo desse tango.

Besos

fevereiro 08, 2007 5:47 PM  

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