sexta-feira, fevereiro 09, 2007

O Vöo da Rainha

Nesta semana a primeira dama da Argentina, senadora Cristina Fernández de Kirchner, esteve em viagem oficial na França. O contexto do tour é a possível candidatura de Cristina à presidëncia. Circulam todos os tipos de rumores e imprecisöes: dizem que Nestor Kirchner está muito doente e näo poderá concorrer, insinuam que apenas está experimentando a popularidade de Cristina, ou que está se poupando para só anunciar sua própria candidatura na última hora. A ver. O fato é que a Casa Rosada apostou bastante na viagem da primeira dama e está tratando sua excursäo européia como prioridade.

Fiquei pensando no paralelo com o chamado "Tour do Arco-Íris", que Evita Perón fez à Europa no início dos anos 50. Claro que o contexto era bem diferente: num continente ainda destroçado pela guerra e meio faminto, a entäo próspera Argentina era um ator de peso e a viagem foi um triunfo para Evita. Um diplomata espanhol chegou a afirmar que "A Espanha näo teve Plano Marshall, mas näo precisou porque contava com a Argentina". No musical de Andrew Llyod Webber a viagem é narrada numa das melhores cançöes, Rainbow High:

Eyes, hair, mouth, figure
Dress, voice, style, movement
Hands, magic, rings, glamour
Face, diamonds, excitement, image

I came from the people, they need to adore me
So Christian Dior me from my head to my toes
I need to be dazzling, I want to be Rainbow High
They must have excitement, and so must I


Cristina K é uma mulher de personalidade forte e fez um bom discurso em Paris, assinando um tratado internacional de direitos humanos, patrocinado por França e Argentina. Comparou o terrorismo de Estado durante a ditadura ao Holocausto - a comunidade judaica argentina näo gostou, mas seu mal estar se limitou aos comentários em off nos jornais . Cristina também aproveitou para celebrar com a seleçäo argentina de futebol, que jogou e venceu na França.

Em todos os gestos, a primeira dama se esforçou para mostrar que pode ser täo dura quanto qualquer homem. Estilo que está mais para Hilary Clinton e Margareth Thatcher do que para Michele Bachelet ou Segouleme Royal. Ou Evita.

I'm their product, it's vital you sell me
So Machiavell me, make an Argentine Rose
I need to be thrilling, I want to be Rainbow High
They need their escape, and so do I

Enquanto Cristina debutava em Paris, o front doméstico pega fogo. O governo demitiu a chefe do INDEC, o instuto estatístico responsável, entre outras coisas, pelo vital cálculo da inflaçäo. Os funcionários protestaram e a reaçäo do secretário de comércio foi terrível, chamando-os de mafiosos. Todos acusam o governo de manipular os índices oficiais de inflaçäo, que foram 9,6% em 2006. Mas produtos e serviços vitais como frango, frutas e planos de saúde tiveram aumentos bem maiores, acima de 20%.

Contudo, a oposiçäo aos Kirchner é täo fragmentada entre Roberto Lavagna, Elisa Carrió e Maurício Macri que é difícil imaginar outro resultado que näo a vitória de Nestor ou Cristina. A ironia é que ainda näo conheci nenhum peronista. Nos círculos acadëmicos e de classe média alta que freqüento, o peronismo é sempre visto com desconfiança, seja por aqueles que se inclinam ao liberalismo, seja pelos que estäo mais à esquerda e consideram os seguidores do general Perón como demagogos e populistas.

6 Comentarios:

Blogger Rodrigo Cerqueira said... Weblog Commenting and Trackback by HaloScan.com

O quê, Maurício? Foste à Argentina e ainda não conheceste nenhum peronista? Cruzes! Que lugares você anda freqüentando? Agora fico à espera do dia que você vai dar um pulo a Caracas. Periga voltar dizendo que não há chavistas na Venezuela! Hehehe...

fevereiro 12, 2007 12:30 PM  
Blogger Maurício Santoro said... Weblog Commenting and Trackback by HaloScan.com

Rodrigo, meu caro.

Estive em Caracas no ano passado, para o Fórum Social Mundial, e conheci uma penca de chavistas.

A diferença é que lá a maioria das pessoas que conheci eram ativistas de movimentos sociais, ao passo que na Argentina meu ambiente é o da classe média alta universitária.

Para näo dizer que näo conheci nenhum peronista, há alguns taxistas.

Abraços

fevereiro 13, 2007 9:01 PM  
Anonymous Anônimo said... Weblog Commenting and Trackback by HaloScan.com

Maurício,
O Lopez Murphy ainda tem alguma representatividade política? Conheci ele pessoalmente em um congresso no ano passado e a sua palestra foi cativante, mas não sei como ele está dentro do cenário político atual. Outra coisa, você vai estar por aí afinal ou vai para a patagônia durante o carnaval?

fevereiro 14, 2007 12:44 AM  
Anonymous Anônimo said... Weblog Commenting and Trackback by HaloScan.com

Journalista brasileiro necessita peronista. Indispensável militança nos anos '70. Traer o carnet de afiliaçäo.

HAHAHA

Rodrigo, nas classes médias e altas os peronistas säo rara avis. Há que compreender que os beneficiários da política de Perón foram os estratos obreros e baixos (que säo os que determinam o resultado eleitoral) e que a classe média sempre se inclinou pelo radicalismo, o socialismo e (especialmente nos seitores mais elevados) o liberalismo. Os grupos cultos näo gostam do autoritarismo de Perón e do peronismo em sim porque todos os peronistas têm um estilo muito pessöalista à hora de governar.
Para ver-lo de outra forma: Vocë conheçe muitos admiradores de Getúlio Vargas entre a classe média brasileira?
Saludos desde Buenos Aires

Paulo, López Murphy está aliado a Maurício Macri (formam o Pro) e agora tem problemas com ele porque Macri gostaria aliar-se a Sobisch (gobernador de Neuquén, província patagónica) e L. Murphy näo gosta dissa aliança. Já näo tem o apoio que tiva no 2003 e (pessoalmente) creo que é muito difícil que chegue à presidença.

Maurício, seus artigos säo um exellente ponto de referença pelos lusoparlantes que gostem de saver mais sobre as política e história argentina. Säo boas e objetivas sinteses.
Coincido com sua especulaçäo do resultado eleitoral. É difícil que Néstor ou Cristina näo consigam o 45%, que consigam entre 45% e 40% e que um opositor chegue a mais de 30% (caso em que há segunda volta) e considero imposível que näo cheguem ao 40% (segunda volta).
Um pequeno error: Evita näo foi à Europa nos anos '50 senäo na mitade dos anos '40.
Ah, desculpe se näo gosta que esté contestando a seus amigos quase como si eu fora o conspirador rsrs, mas eu tentei responder só o primeiro faz umos dias, tive problemas com a internet, guardei o comentário e logo foi creciendo... creciendo
Abraços e siguemos en contato!

fevereiro 14, 2007 3:09 PM  
Blogger Maurício Santoro said... Weblog Commenting and Trackback by HaloScan.com

Caros,

vejo que o Patricio já lhes informou muito melhor do que eu poderia. O rapaz é a esperança da jovem liderança da Uniäo Cívica Radical em retomar seu papel de destaque na vida do país. Aliás, o que vocë achou da reportagem que o Clarin publicou esta semana, sobre o fato de que a UCR näo irá apresentar candidato à presidëncia, pela primeira vez em sei lá quantos anos?

Obrigado pela correçäo quanto à Evita, Patricio. Vocë tem razäo, ela morreu em 1952, já estava bastante doente na década de 50.

Contudo, no que diz respeito a Vargas, vocë encontra vários admiradores dele na classe média brasileira. É um pouco o que estávamos conversando no outro dia, sobre o lugar central que o desenvolvimento econömico ocupa na vida política brasileira.

Paulo, sobre minha agenda: estou em Mendoza e volto para Buenos Aires na sexta-feira, dia 16. Mas é provável que viaje novamente, para Bariloche, na segunda dia 19. Acho que näo conseguiremos nos encontrar na sua estada portenha...
:-(

Abraços

fevereiro 14, 2007 9:35 PM  
Anonymous Anônimo said... Weblog Commenting and Trackback by HaloScan.com

Desde 1938 a UCR sempre tivo um candidato à presidença. Nos anos 1946 e 1999, nas alianças eleitoráis com outros partidos, o presidente era radical.
Abraços

fevereiro 16, 2007 9:20 PM  

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