segunda-feira, fevereiro 12, 2007

Diamante de Sangue

Sou fanático pela África e aproveito todas as oportunidades para assistir a filmes ambientados no continente. Porém a maioria dessas producöes säo feitas por americanos ou europeus e me incomoda bastante o olhar que eles lancam sobre os africanos, que quase invariavelmente säo apresentados como selvagens bárbaros, presos a ciclos de violëncia irracional, e cuja única esperanca de salvacäo passa pela intervencao de alguma boa alma branca e/ou ocidental que irá ajudá-los a escapar de sua prisao infernal.

"Diamante de Sangue" repete todos esses cliches, embora conte uma história de suspense e acäo muito bem narrada. O foco da trama é a descoberta de um diamante gigantesco por um pescador de Serra Leoa, que quer utiliza-lo para reencontrar sua família, separada pela guerra civil. Para cumprir esse objetivo ele contará com o apoio de uma idealista jornalista americana e com o auxilio ambiguo de um contrabandista e mercenario do Zimbabwe.

O filme se pretende uma denuncia contra a ganancia das grandes empresas de mineracao, na linha do que "O Jardineiro Fiel" fez pelas tramoias da industria farmaceutica. Mas enquanto a obra de John Le Carré tinha uma construcäo mais interessante, em "Diamante de Sangue" os africanos malvados parecem saídos de alguma matinë dos anos 40, comportando-se como versöes pós-modernas de Átila, o Huno.

Contudo, apesar da minha discordäncia com a visäo social do filme, ele é muito bem-sucedido ao retratar os novos atores da política internacional, mostrando como a pressäo da imprensa e da opiniäo pública pode alterar os parämetros das disputas. No caso, o filme mostra a criacäo do Processo Kimberley, que procura estabelecer embargo a diamantes extraídos em zonas de conflito.

Minha curiosidade agora é para a estréia de "O Último Rei da Escócia", sobre Idi Amin, que entra em cartaz em breve. Mas parece preso a mesma fórmula da bárbarie africana redimida pelo ocidental bonzinho que denuncia ao mundo suas mazelas.Minha decepcäo com essa abordagem primária é ainda maior pelo fato de que há excelentes romances na literatura africana prontos para virarem grandes filmes. As obras dos angolanos José Eduardo Agualusa, Pepetela, do mocambicano Mia Couto e da sul-africana Nadine Gordimer, entre outros, mostram uma Africa bem mais interessante. Moderna, contraditoria, esperancosa ou triste, mas sempre em movimento. Por que nao leva-la para as telas do cinema?

5 Comentarios:

Blogger Leandro Bulkool said... Weblog Commenting and Trackback by HaloScan.com

Fala Mauricio!

Não sei por que eu estava esperando muito mais desse filme. Realmente algo mais próximo do "Jardineiro Fiel". Seu post tirou o meu interesse de vê-lo. :)

fevereiro 14, 2007 11:55 AM  
Blogger Glauco Paiva said... Weblog Commenting and Trackback by HaloScan.com

Vou tirar onda de ator:
Diamante vale a pena tão somente pelas interpretações. Estão tecnicamente perfeitas.

fevereiro 14, 2007 7:24 PM  
Blogger Maurício Santoro said... Weblog Commenting and Trackback by HaloScan.com

Salve, Leandro.

Acho que vale a pena ver o filme, pelo menos é uma matinë divertida.

Glauco, meu caro.

Pensei muito em vocë e em nossos amigos atores por causa da riqueza da vida teatral de Buenos Aires. É fora de série.

Gostei bastante do trio de protagonistas do Diamante, aliás de todo o aspecto técnico do filme, minha única bronca é com a visäo que ele apresenta da Àfrica.

Abraços

fevereiro 14, 2007 9:37 PM  
Anonymous Anônimo said... Weblog Commenting and Trackback by HaloScan.com

Sobre "A ciencia política vai ao condomíno" de 2006
Mauricio, esse papo de condominios, sindicos não é bricadeira...edito um jornal para este segmento há 6 anos, escuto todo tipo de coisa diariamente. É uma escola...estava eu aqui buscando algo diferente para colocar no site que estamos fazendo para nossa publicação e encontrei vc...te convido a escrever um artigo a respeito. Vc mesmo disse que "pós-graduação em ciência política tinha que servir para alguma coisa!" Topas?

fevereiro 23, 2007 5:57 PM  
Blogger Unknown said... Weblog Commenting and Trackback by HaloScan.com

Olá professor,

Bem, sobre a crítica a visão clichê em narrar realidades da África,concordo plenamente. Triste saber que ainda há essa lacuna cinematográfica por parte dos Ocidentais, mas ainda assim, se olharmos com outros olhos, é possível perceber o que é realmente relevante nestes filmes.
Uma excelente pedida, eu ao menos gostei bastante, é o filme "Abril Sangrento", que narra o genocídeo em Ruanda.Impactante.

março 15, 2008 10:31 PM  

Postar um comentário

<< Home

Creative Commons License
This work is licensed under a Creative Commons License. Weblog Commenting and Trackback by HaloScan.com