O Inimigo Interno
Muçulmanos britânicos protestam contra terror
A notícia mais surpreendente das investigações sobre o atentado de Londres foi a descoberta de que os suspeitos de serem os terroristas suicidas eram cidadãos britânicos, a maioria de ascendência paquistanesa. A TV mostrou a loja onde um deles trabalhava, na cidade de Leeds: era um típico restaurante "fish and chips", antes o cenário do tédio cotidiano do que o lugar do qual se espera que floresçam ódio e sentimentos de vingança, como os campos de refugiados palestinos ou a desolação do Iraque e do Afeganistão.
É claro que a experiência de crescer numa Europa marcada pela discriminação racial/religiosa e por dificuldades econômicas estimula o fundamentalismo. Não é à toa que muitos dos terroristas que atacaram Londres fossem do norte da Inglaterra, região na qual a extrema-direita é muito forte e onde houve até conflitos de rua entre ativistas e muçulmanos. Nas duas viagens que fiz ao Velho Mundo, fiquei impressionado com a força do racismo, não só nas manifestações dos fanáticos, mas como esses sentimentos impregnam até a conversa daquelas pessoas amáveis, que batem papo nos cafés ou na fila dos museus.
Só que a exclusão não explica tudo. Na Foreign Affairs deste mês o artigo "Europe´s Angry Muslims", de Robert Leiken, discute esse perfil e também um segundo tipo de terrorista, com instrução universitária, em ascensão social. Leiken é linha-dura e o texto por vezes defende opiniões radicais, mas é boa fonte de informação.
A meu ver, o que está em curso na Europa é um choque de expectativas sociais frustradas, aumentadas por um contexto internacional explosivo. Os jovens muçulmanos, filhos de imigrantes, aprenderam na escola a cartilha ocidental sobre igualdade e liberdade. E bateram de frente com sociedades onde o que está à sua disposição é quando muito uma cidadania de segunda categoria, senão a exclusão racial e um fanático pronto para lhes encher de pancada na esquina. Some a esse caldo os conflitos no Oriente Médio e temos um objetivo político para canalizar a raiva e a violência. Como diz a BBC, os piores medos britânicos foram confirmados e está em xeque o sonho multicultural do Reino Unido.
A semana foi repleta de atentados, no Iraque, em Israel, na Espanha. Para os leitores interessados no Oriente Médio, fica a recomendação do blog Terra Estranha, da jornalista Daniela Kresch, correspondente da GloboNews em Israel. No post desta sexta ela conta a história da brasileira morta quando um míssil disparado por terroristas palestinos atingiu sua casa.
1 Comentarios:
Com certeza o maior problema da Europa hoje é a xenofobia e sem solução a curto prazo já que com os ataques terroristas aumenta ainda mais este sentimento nos europeus. Mas agora sabem que o perigo mora dentro do próprio país, isto piora ainda mais a situação.
Postar um comentário
<< Home