quinta-feira, julho 07, 2005

O Horror, O Horror


Mais sofrimento inútil Posted by Picasa

No ano passado o chefe da polícia de Londres avisou que era extremamente provável que a cidade sofresse um ataque terrorista em grande escala. Os temores diminuíram após as eleições gerais de 2005, que deram mais um mandato a Tony Blair. E parecia que julho seria um mês de glórias para o primeiro-ministro, com a escolha de Londres como sede das Olimpíadas de 2012 e a liderança britânica na Cúpula do G-8 em temas sociais como o combate ao aquecimento global e a abolição de parte da dívida dos países africanos. Mas a Al-Qaeda tinha outros planos.

Ainda não há confirmação de que a rede liderada por Osama Bin Laden seja a autora dos atentados que mataram cerca de 40 pessoas em Londres e feriram centenas. Contudo, o padrão de ataques múltiplos, no metrô e nos ônibus, é exatamente o modo de atuação da Al-Qaeda. Razões não faltam: o Reino Unido é o principal aliado dos EUA na ocupação do Iraque e do Afeganistão. A conjuntura política também é perfeita para potencializar a atenção da mídia, pois as bombas explodiram em meio à reunião dos países mais ricos do mundo e em plena euforia pela escolha olímpica.

Os atentados de 11 de setembro de 2001 levaram os EUA à guerra, os de 11 de março de 2004 tiraram a Espanha do Iraque. Quais serão as conseqüências dos ataques de 7 de julho para o Reino Unido? A população havia se posicionado contra a guerra organizando protestos com milhões de participantes. A manipulação de informações quanto à suposta posse de armas de destruição em massa por Saddam Hussein foi um escândalo que quase custou à reeleição a Blair. E a opinião pública britânica resistiu à limitação das liberdades em nome do combate ao terror, mesmo em algo tão banal (para os brasileiros) quanto a introdução de uma carteira de identidade.

Em 1956 o Reino Unido falhou miseravelmente ao tentar invadir o Egito e reocupar o Canal de Suez. Desde então, sua política externa tem se pautado pelo reconhecimento de que os dias de grande potência acabaram, pela aliança com os EUA e por uma participação relutante na integração européia. Esse padrão se mantém com os conservadores ou trabalhistas, ao contrário do que ocorre em países como a Espanha ou a Itália, no qual governos de esquerda podem adotar uma linha diplomática mais crítica em relação a Washington.

Além disso, o Reino Unido tem uma enorme população muçulmana, oriunda dos quatro cantos do império em que o sol nunca se punha. Material inflamável para grupos extremistas, particularmente numa conjuntura em que os jovens islâmicos se tornem alvos de movimentos racistas, que vem crescendo em toda a Europa.

Os interesses britânicos são muito fortes no Oriente Médio e na aliança com os EUA para que o país possa se dar ao luxo de uma retirada do Iraque. Ao mesmo tempo, o descontentamento da opinião pública e a questão sensível da população muçulmana diminuem a margem de manobra do governo Blair para implantar estratégias radicais de "guerra contra o terror", como as de George W. Bush. O mais provável é que o primeiro-ministro aprofunde a tendência a que já havia dado início, de se tornar o porta-voz de uma agenda social para os países em desenvolvimento, sobretudo os islâmicos, como uma contrapartida reformista ao terrorismo.

De certo, somente que quatro anos após a tragédia do 11 de setembro, a militarização das relações internacionais imposta pelo governo Bush não trouxe paz nem prosperidade, apenas medo, destruição e morte. Os principais beneficiados são os extremistas dos dois lados do combate.

Uma grande amiga mora em Londres, a duas quadras do local onde ocorreu um dos atentados. Ela está bem e relata o que presenciou em seu blog.

4 Comentarios:

Anonymous Anônimo said... Weblog Commenting and Trackback by HaloScan.com

Nunca fiquei tão feliz por estar no Brasil. Mesmo com o mensalão.

julho 08, 2005 4:53 PM  
Blogger Unknown said... Weblog Commenting and Trackback by HaloScan.com

E o triste é constatar que estudar Relações Internacionais tem se tornado o exercício da busca histórica por padrões, fatos ou razões que expliquem o surgimento de guerras e atentados terroristas. Queria muito que alguém me dissesse que estou errada...

julho 11, 2005 11:42 PM  
Blogger Biranta said... Weblog Commenting and Trackback by HaloScan.com

Tanta ingenuidade! Todos estes atentados têm a marca dos serviços secretos, tais como a CIA.
No meu blog, Sociocracia, tem vários artigos e links para sites que esclarecem esta coisa obscura e incompreensível de só morrerem cidadãos anónimos e humildes, neste tipo de atentados...

julho 12, 2005 10:14 AM  
Blogger Maurício Santoro said... Weblog Commenting and Trackback by HaloScan.com

Cláudia,

Infelizmente você tem razão.

Mestre Raymond Aron dizia que as RIs sempre se dão à sombra da guerra e da violência. Os nórdicos têm razão ao afirmar que deveríamos estudar com mais afinco as causas da paz.

Biranta,

trabalhe o tema e você terá um bom roteiro para um filme de suspense. Só não compro a versão porque acho que falta competência à CIA.

Abraços

julho 12, 2005 11:31 AM  

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