Alice
Daqui a duas semanas volto para os EUA. Tenho que procurar um novo apartamento e recomeçar o processo de tese. Ao contrário dos personagens da Glória Perez, tenho um aperto de coração imenso quando volto para lá -- deixo por aqui pessoas muito queridas e que significam muito para mim. Mais ainda, deixo meu país, onde me sinto bem e realmente em casa.
Depois de quase dois meses por aqui, tive a infelicidade de acompanhar de perto ("em tempo real") a atual crise política, seus personagens, histórias, argumentos fajutos e CPIs teatrais. Cientista Político é uma raça estranha -- assiste CPI até as duas da manhã, inclusive quando figuras obscuras que ninguém conhece descrevem complicados processos de licitação e de lavagem de dinheiro ou de técnicas de arapongagem.
Escrevo sobre isso porque a minha experiência com o governo Lula tem sido errática. Já morava nos EUA quando ele foi eleito. E a cada seis meses, quando volto ao Brasil, acompanho com pequenos flashes a situação nacional. Minha decepção crescia em períodos de seis meses. Sinto-me como Alice no País das Maravilhas -- os persongens nunca mudam, mas a lógica vira de cabeça para baixo.
O cenário se arma para um próximo governo aventureiro -- com essa desilusão geral, as condições para um perigoso governo "outsider" ou com discurso "moralizante" (à la Collor) crescem bastante. Sinto que o país não agüentaria um novo Collor ou um Garotinho (Deus nos livre). Ser pessimista neste momento parece ser a atitude normal. Todos nos sentimos um pouco como Fukuyama -- a história da política no Brasil "acabou". Mas como ele, estamos todos errados.
Saio do Brasil com um aperto na garganta. Se a minha profissão me ensina a ser sempre um cético para entender a realidade, insisto em manter, no fundo, um resto de otimismo, uma reserva intocável de confiança em tudo. Odeio sentir-me um ingênuo em meio a raposas, mas se assim não fosse não conseguiria fazer o que faço, não conseguiria estudar o que estudo. Simplesmente não faria sentido.
Mas, no fim, fica a lição de Voltaire: "il faut cultiver notre jardin". Assim o farei.
Depois de quase dois meses por aqui, tive a infelicidade de acompanhar de perto ("em tempo real") a atual crise política, seus personagens, histórias, argumentos fajutos e CPIs teatrais. Cientista Político é uma raça estranha -- assiste CPI até as duas da manhã, inclusive quando figuras obscuras que ninguém conhece descrevem complicados processos de licitação e de lavagem de dinheiro ou de técnicas de arapongagem.
Escrevo sobre isso porque a minha experiência com o governo Lula tem sido errática. Já morava nos EUA quando ele foi eleito. E a cada seis meses, quando volto ao Brasil, acompanho com pequenos flashes a situação nacional. Minha decepção crescia em períodos de seis meses. Sinto-me como Alice no País das Maravilhas -- os persongens nunca mudam, mas a lógica vira de cabeça para baixo.
O cenário se arma para um próximo governo aventureiro -- com essa desilusão geral, as condições para um perigoso governo "outsider" ou com discurso "moralizante" (à la Collor) crescem bastante. Sinto que o país não agüentaria um novo Collor ou um Garotinho (Deus nos livre). Ser pessimista neste momento parece ser a atitude normal. Todos nos sentimos um pouco como Fukuyama -- a história da política no Brasil "acabou". Mas como ele, estamos todos errados.
Saio do Brasil com um aperto na garganta. Se a minha profissão me ensina a ser sempre um cético para entender a realidade, insisto em manter, no fundo, um resto de otimismo, uma reserva intocável de confiança em tudo. Odeio sentir-me um ingênuo em meio a raposas, mas se assim não fosse não conseguiria fazer o que faço, não conseguiria estudar o que estudo. Simplesmente não faria sentido.
Mas, no fim, fica a lição de Voltaire: "il faut cultiver notre jardin". Assim o farei.
3 Comentarios:
Companheiro,
Não subestime a capacidade deste país de aguentar lideranças absurdas. Já fomos governados por Pedro I e pelo Padre Feijo, já tivemos Jânio Quadros e Eurico Dutra, Já tivemos Floriano Peixoto e Emilio Medici. Quem aguentou um Costa e Silva, aguenta um garotinho com o pé nas costas.. Sempre pode ficar pior... Pense que a Argentina já teve Isabelita, o Equador já teve El Loco.
Nosso jardim latino americano é o jardim da Alice, encontraremos sempre centopéias e narguilés, coelhos apressados e gatos sorridentes, tesoureiros picaretas e publicitários carecas, ou tesoureiros carecas (PC) e publicitários picaretas, não sei mais..
No fundo sempre será como Tara.. A nossa casa, de onde tiramos força para assistir ao absurdo.
Nunca vi crise como essa. Acredito no ditado: "Há males que vem para bem". Isso tudo vai servir para inibir pelo menos um pouco os políticos no Brasil. A imprensa e as pessoas estão cada vez mais cientes da real situação do país e não irão deixar barato.
Foi uma honra recebê-lo no meu Blog. Bjus Simy.
Meu comentário é totalmente off-topic: o modo como você arrumou os comentários não permite ao leitor ter certeza do dia em que postado (aparece apenas a hora). Não daria para mudar isso?
Abraços,
André
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