Nelson Rodrigues, Jornalista
Um mestre em ação
Continuo em meu projeto de mergulhar no que a cultura brasileira tem de melhor, para lavar a cabeça do mar de lama da política nacional. Depois de reler a biografia de Vinicius de Moraes, agora foi a vez de "O Anjo Pornográfico - a vida de Nelson Rodrigues", de Ruy Castro, que tinha lido pela primeira vez quando era calouro de jornalismo.
Deixo para meus amigos atores a tarefa de comentar o Nelson dramaturgo. Me limito a observar que ele levou a Semana de Arte Moderna de 1922 ao teatro, renovando a linguagem dos palcos. O que mais me agradou nessa releitura da biografia foi o lado jornalista do mestre.
O pai de Nelson, Mario Rodrigues, foi um homem de imprensa importante na República Velha, chegou a ser dono de dois jornais - "A Manhã" e "Crítica". As reportagens da época não eram brincadeira, manipulação e fraude eram a regra. Uma mulher ofendida numa matéria invadiu a redação em busca de Mario e, não o encontrando, assassinou a tiros um de seus filhos, Roberto - desenhista e pintor de enorme talento, que morreu cedo demais.
Outro Rodrigues a se destacar na imprensa foi o irmão mais velho de Nelson, Mario Filho, que praticamente inventou o jornalismo esportivo no Brasil, liderou a campanha pela construção do Maracanã e ainda fundou o Jornal dos Sports. Mesmo não sendo minha praia, é fascinante acompanhar as sacações dele para cobrir as copas do mundo na Europa e o uso inovador que fez da fotografia.
O próprio Nelson, evidentemente, foi um dos jornalistas mais geniais que o Brasil já teve. Nem tanto como repórter, sua contribuição foi mais como cronista e comentarista de TV. Os textos de "A vida como ela é..." e "Confissões" são primorosos, bem como a capacidade dele em capturar tipos populares, gírias, personagens típicos do Rio de Janeiro e colocá-los em suas histórias. Chorei de rir com ele escrevendo "Engraçadinha" em folhetim no jornal "Última Hora", usando seus amigos e colegas de redação como protagonistas, com freqüencia nas situações mais constrangedoras.
Também vale destacar o consultório sentimental que Nelson herdou de Vinicius de Moraes, no semanário "Flan". Ambos escreviam com pseudônimos femininos (Elenice e Susana Flag), mas Nelson só respondia a mulheres , alegando que "homens não têm coração" e num estilo que lembra os joelhaços do Analista de Bagé.
Sigo na jornada pelas belas letras do jornalismo pátrio. O próximo na cabeceira é Rubem Braga, mestre maior da crônica.
1 Comentarios:
Nelson Rodrigues também foi excelente cronista de futebol, apesar de não entender nada do esporte (como ele mesmo confessava). Para escrever sobre um jogo banal, criava frases como "o Fla-Flu começou 45 minutos antes do nada".
Ele era tricolor fanático, e deixava isso bem claro nos seus textos. O Fluminense sempre teve times fracos, que ganhavam no último minuto com lances de sorte. Nelson falava que era o "Sobrenatural de Almeida" em ação.
Há uns 15 anos foi publicada uma coletânea de algumas de suas crônicas esportivas, no livro "Fla-Flu: o clássico das multidões". Recentemente outra coletânea foi publicada, "À sombra das chuteiras imortais".
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