domingo, junho 19, 2005

Nelson Rodrigues, Jornalista


Um mestre em açãoPosted by Hello

Continuo em meu projeto de mergulhar no que a cultura brasileira tem de melhor, para lavar a cabeça do mar de lama da política nacional. Depois de reler a biografia de Vinicius de Moraes, agora foi a vez de "O Anjo Pornográfico - a vida de Nelson Rodrigues", de Ruy Castro, que tinha lido pela primeira vez quando era calouro de jornalismo.

Deixo para meus amigos atores a tarefa de comentar o Nelson dramaturgo. Me limito a observar que ele levou a Semana de Arte Moderna de 1922 ao teatro, renovando a linguagem dos palcos. O que mais me agradou nessa releitura da biografia foi o lado jornalista do mestre.

O pai de Nelson, Mario Rodrigues, foi um homem de imprensa importante na República Velha, chegou a ser dono de dois jornais - "A Manhã" e "Crítica". As reportagens da época não eram brincadeira, manipulação e fraude eram a regra. Uma mulher ofendida numa matéria invadiu a redação em busca de Mario e, não o encontrando, assassinou a tiros um de seus filhos, Roberto - desenhista e pintor de enorme talento, que morreu cedo demais.

Outro Rodrigues a se destacar na imprensa foi o irmão mais velho de Nelson, Mario Filho, que praticamente inventou o jornalismo esportivo no Brasil, liderou a campanha pela construção do Maracanã e ainda fundou o Jornal dos Sports. Mesmo não sendo minha praia, é fascinante acompanhar as sacações dele para cobrir as copas do mundo na Europa e o uso inovador que fez da fotografia.

O próprio Nelson, evidentemente, foi um dos jornalistas mais geniais que o Brasil já teve. Nem tanto como repórter, sua contribuição foi mais como cronista e comentarista de TV. Os textos de "A vida como ela é..." e "Confissões" são primorosos, bem como a capacidade dele em capturar tipos populares, gírias, personagens típicos do Rio de Janeiro e colocá-los em suas histórias. Chorei de rir com ele escrevendo "Engraçadinha" em folhetim no jornal "Última Hora", usando seus amigos e colegas de redação como protagonistas, com freqüencia nas situações mais constrangedoras.

Também vale destacar o consultório sentimental que Nelson herdou de Vinicius de Moraes, no semanário "Flan". Ambos escreviam com pseudônimos femininos (Elenice e Susana Flag), mas Nelson só respondia a mulheres , alegando que "homens não têm coração" e num estilo que lembra os joelhaços do Analista de Bagé.

Sigo na jornada pelas belas letras do jornalismo pátrio. O próximo na cabeceira é Rubem Braga, mestre maior da crônica.

1 Comentarios:

Blogger Bruno Lopes said... Weblog Commenting and Trackback by HaloScan.com

Nelson Rodrigues também foi excelente cronista de futebol, apesar de não entender nada do esporte (como ele mesmo confessava). Para escrever sobre um jogo banal, criava frases como "o Fla-Flu começou 45 minutos antes do nada".
Ele era tricolor fanático, e deixava isso bem claro nos seus textos. O Fluminense sempre teve times fracos, que ganhavam no último minuto com lances de sorte. Nelson falava que era o "Sobrenatural de Almeida" em ação.
Há uns 15 anos foi publicada uma coletânea de algumas de suas crônicas esportivas, no livro "Fla-Flu: o clássico das multidões". Recentemente outra coletânea foi publicada, "À sombra das chuteiras imortais".

junho 20, 2005 9:55 AM  

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