sexta-feira, junho 10, 2005

Interlúdio Poético

"Talvez não haja uma saída para esta crise. Talvez a própria política, no fundo, não sirva para muita coisa e a gente precise dela apenas como uma invenção para seguir vivendo."

O pensamento veio de um veterano economista e professor universitário, consultor do IBASE. Trabalhamos em dois projetos e viajamos bastante, tanto pelo Brasil quanto por outros países. Gosto muito de conversar com ele e ouvir suas histórias de tempos passados, pedir dicas de leitura ou simplesmente falar sobre a vida.

Ele estava com uma coletânea de textos de Caio Fernando Abreu e leu para mim algumas das cartas do escritor gaúcho, a maioria escritas quando ele estava desbundando em Londres, nos anos 70. Demos umas boas risadas imaginando a reação da mãe do autor às descrições das seitas erótico-esotéricas que ele freqüentava na capital britânica.

Por concidência, nesta semana uma amiga do IBASE me presenteou com uma coletânea de outro gaúcho, o poeta Mário Quintana. Concordamos que em meio a tantas turbulências, um interlúdio poético é bem-vindo. Uma dose de beleza para lembrar que o ser humano é capaz de muito mais do que se prostituir na luta pelo poder.

Mas a boa política também é uma aposta na capacidade das pessoas em praticar a arte do encontro - mesmo que haja tanto desencontro pela vida. Já escrevi aqui sobre minha visita à Conectas Sur, uma ONG paulistana que entre outros belos projetos faz um intercâmbio com africanos. A amizade que nasceu em torno de uma feijoada deu frutos. Hoje uma das pesquisadoras de lá e eu conseguimos interessar a direção do IBASE em receber um moçambicano como intercambista. Ainda precisamos fechar vários detalhes, mas a boa vontade e o entusiasmo são contagiantes. Acho que todos sairão ganhando.

Por isso sempre serei contra visões de mundo cínicas, que acham que tudo está perdido. A vida é muito mais divertida quando a gente pensa o contrário, mesmo que seja a invenção citada por meu colega de instituto. É preciso ser um pouco poeta para sobreviver aos perigos deste mundo maluco.
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