Quo Vadis, Europa?
A batalha pela Europa
Depois de amanhã os franceses votarão no referendo que vai aprovar ou rejeitar o Tratado Constitucional da União Européia. As pesquisas indicam 54% de preferências para o não, com um grande percentual de indecisos (20%) que pode mudar o jogo. Ontem o presidente Chirac fez um discurso em cadeia nacional de rádio e TV conclamando os franceses a assumir uma "responsabilidade histórica pelo futuro da Europa", dizendo que a rejeição à constituição lançaria o continente numa era de incerteza.
As divisões nas sociedades européias com relação ao tratado são grandes. Pelo sim está a maior parte da elite política e burocrática. Pelo não, dissidentes radicais de esquerda e de direita, bem como uma parcela considerável da população, assustada com a estagnação econômica e o desemprego recorde. Pessoas que culpam a UE pelas dificuldades que enfrentam e que sentem as instituições de Bruxelas muito distantes de seus problemas cotidianos.
No seminário em que estive na semana passada, os europeus - todos da extrema-esquerda - se dividiram quanto à questão. Metade condenava o Tratado Constitucional como sendo a consolidação das políticas de abertura econômica e livre-mercado que combatem, um arranjo institucional que favorece as grandes empresas em busca de mobilidade geográfica e economias de escala para competir no mercado global.
A outra metade observava que isso ocorre na Europa desde o início da integração, com a Comunidade do Carvão e do Aço e o Tratado de Roma , ainda nos anos 50. Por que ser contra somente agora? Houve até quem ressaltasse que uma regulação ruim do capital financeiro e das grandes empresas era melhor do que não ter qualquer norma.
Por trás dos debates, as preocupações com o novo quadro geopolítico do continente, a "Europa dos 25" criada com a entrada dos países ex-comunistas. Meus pais acabam de voltar de uma viagem pela República Tcheca e pela Hungria e ficaram chocados com a pobreza que encontraram por lá, bem como o aspecto abatido das pessoas. O euro ainda não foi adotado porque as autoridades temem um surto inflacionário na mudança da moeda, como houve nos países ocidentais.
Como cidadão europeu, eu votaria contra o Tratado Constitucional. Dados os enormes problemas de déficit democrático que observo na Comissão e no Parlamento Europeu, creio que está mais do que na hora da população acender um alerta vermelho em Bruxelas quanto aos rumos da integração. Perguntando no latim que unificou o continente no passado: Para onde vais, Europa?
2 Comentarios:
a europa vai para o despertar para a realidade. integração perfeita como ambicionaram nao é possivel. na verdade, ao que me parece essa tal constituição so cuida de mecanismos para facilitar a propagação das transnacionais na europa. como o moço disse acima, a realidade é complicada.
Os franceses deram sua resposta nesse domingo: Non! Sinceramente, me surpreendeu. Direita e esquerda estavam divididas, mas os líderes do PS e o presidente Chirác queriam o sim.
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