Bolívia: a disputa pelo gás
Sindicatos protestam na Bolívia
O Bruno me pediu comentários sobre a crise na Bolívia. O estopim é a disputa pelo gás natural, que é extraído por empresas estrangeiras, sendo que a maior é a Petrobras, na qual trabalha meu amigo. Ele escreveu um post sobre o assunto. Eu tinha tratado do tema no artigo para o Globo, criticando o comportamento da empresa brasileira com relação ao meio ambiente e à responsabilidade social.
A Bolívia é um país com população muito pobre, mas território rico em recursos naturais: prata, estanho e gás natural. Mas a riqueza permanece concentrada nas poucas empresas que exploram esses recursos, e nos bolivianos associados a elas. Seu poder é imenso: a Petrobras é a maior pagadora de impostos da Bolívia. Sem ela, o fisco quebra.
Nesta semana o Congresso boliviano aprovou após longos debates uma Lei dos Hidrocarbonetos que aumenta os impostos e royalties sobre o gás de 18% para 50%. As empresas estrangeiras, Petrobras inclusive, reagiram dizendo que vão repensar seus investimentos no país. O presidente Carlos Mesa não vetou nem aprovou a lei: simplesmente a mandou de volta ao parlamento, lavando as mãos como Pilatos. Grupos mais radicais querem expulsar as corporações estrangeiras. Houve até um atentado terrorista contra a Petrobras.
A maioria da população é de origem indígena e como em outros países da região andina os índios começaram a se organizar em partidos. Seu líder mais importante é o aymará Evo Morales, do Movimento ao Socialismo, o segundo mais votado nas últimas eleições presidenciais e o favorito para as próximas, em 2007. Morales joga com uma agenda mais ampla do que a etnia: articulou uma aliança entre índios, sindicatos e os pequenos proprietários rurais plantadores de coca. Querem maior controle sobre o gás natural para implantar reformas sociais. Há também um partido puramente indígena, o Pachakutik, liderado pelo quéchua Felipe Quispe, que controla 5% do parlamento.
O mais provável é que Mesa não complete o mandato e renuncie ou tente antecipar as eleições. Acho que o Brasil irá buscar entendimentos com os bolivianos, que dependem demais do mercado brasileiro para pensar seriamente num rompimento de contrato. Acerta-se um aumento nos impostos sobre os estrangeiros que permita aos políticos locais sobreviver à fúria do eleitorado e está tudo resolvido.
Dois bons links para a crise boliviana: “História Sem Fim”, um artigo escrito por meu orientador, que é consultor da Petrobras para assuntos de política sul-americana; e também uma análise do argentino Rosendo Fraga, sobre “Impacto Regional de la Crisis Boliviana”.
Viajo daqui a pouco para Rio Bonito, estou organizando um seminário internacional num hotel fazenda na região. Volto domingo à noite, defendo meu projeto de tese na segunda-feira e em seguida embarco para São Paulo, para outro evento do mesmo tipo. Imagino que conseguirei descansar no feriadão.
4 Comentarios:
Caro Santoro.
Prazer em ler seu blog e verificar que suas preocupações sobre a América Latina são parecidas. Obrigado por ter feito o comentário no meu blog e por ter iniciado contato. Seu blig em poucos minutos estará lá na minha lista. Vou aparecer mais vezes por aqui e espero seus comentários lá no Soy Loco.
Gracias
Eis que minha veia jornalística e todo o tempo do mundo concedido pelo meu monótono plantão no jornal me fez descobrir um blog cujos escritores já deram ou me dão aula...Vcs todos estão de parabéns pelos textos...Obviamente, que ninguém aqui vai ligar o meu nome à minha pessoa...M, sou a aluna jornalista da pós que vc identificou ter feito ECO e talvez o coordenador J lembre da aluna que no último sábado disse que fará Mestrado na PUC no ano que vem e que a culpa é dele...
Salve, Jacqueline.
Lembro de você, tanto da ECO quanto da Cândido Mendes. Bem-vinda ao blog. Por favor, desconsidere os trechos constrangedores. Professores de RI têm reputação ilibada e vida exemplar, quase tanto como os aliados do governo no Congresso.
Abs,
Soube que vc é amigo de uma grande amiga minha, a Carol Morand... Quanto aos "trechos constrangedores", não sei do que vc está falando.. :o) Descobri, aliás, uns comentários seus e do João sobre um aluno da pós e me diverti muito...Confesso que concordo com o comentário sobre ele...
Um abraço, Jackie.
P.S.: Vcs já perceberam como a Garotinha e o Garotinho estão cada vez mais parecidos? Os dois estão uma bolinha (aliás, apelido que ela carinhosamente o chama) ...
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