Depois do Não
O novo premiê francês
"Você acha que a Constituição Européia vai ser resolvida no tapetão?", me perguntou ontem meu irmão. Respondi que isso havia ocorrido em fases anteriores da integração. Quando países pequenos como a Irlanda rejeitavam tratados importantes, o que Bruxelas fazia era repetir a votação até o que resultado fosse aquele pretendido pelos senhores da Europa. O problema é que agora o não foi veio de um pilar da UE, a França (e ao que tudo indica, os holandeses seguem hoje o mesmo caminho). Ou seja, é preciso entender o recado das urnas.
O presidente Chirac agiu a seu modo, substituindo o impopular primeiro-ministro, Jean-Pierre Raffarin, por Dominique de Villepin. O novo premiê, em suas primeiras declarações, defendeu o Estado de Bem-Estar Social da França, afirmando que é preciso que a UE seja compatível com ele. É uma posição que o distingue del Nicolas Sarkozy, presidente da UMP e o principal líder em ascensão da direita francesa, que fez campanha pelo sim e por reformas liberais. O Estado francês é caro, talvez caro demais para uma população com muitos velhos e aposentados, e com empresas que podem se mover para outros países com menos regulações e encargos.
Não acredito que Villepin tenha a capacidade necessária para a dificílima tarefa a que se propôs. Ele é um membro típico da elite tecnocrática francesa: diplomata, filho de diplomata, formado pela Escola Nacional de Administração, que treina a nata dos dirigentes do país. Passou a maior parte da vida no exterior, ou no ambiente do alto funcionalismo público. Nunca foi eleito para nada, nunca disputou um voto. Sem dúvida é um homem muito qualificado do ponto de vista intelectual e técnico, mas sem a sensibilidade e a vivência dos problemas da maioria da população.
Para onde vai o voto dessas pessoas? Para os novos partidos de extrema-direita, com um programa de protecionismo econômico, nacionalismo, hostilidade aos imigrantes e ao mundo globalizado. Na maioria dos países europeus, a extrema-direita cresceu a 1/3 dos votos. Na França, mais do que em qualquer outro. Le Pen foi o segundo mais votado nas últimas eleições presidenciais e roubou boa parte do eleitorado tradicional dos partidos de esquerda, como os trabalhadores não-qualificados.
O Partido Socialista francês se dividiu quanto à Constituição. A maioria optou pelo sim, mas o não teve adesões importantes, como a do ex-premiê Laurent Fabius e a da viúva de Mitterand. Como Fabius é candidatíssimo às eleições presidenciais de 2007, é de se esperar que PS ao menos tente formular uma alternativa para o impasse político em que caiu a França.
1 Comentarios:
Meu caro,
Nesta semana o governo alemão divulgou um relatório onde aponta um crescimento de 25% no número de neonazistas do país. Com a taxa de desempregados em níveis iguais à da época da ascensão de Hitler, não é para causar espanto.
Abs
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