quinta-feira, julho 28, 2005

O Vendedor de Passados


“Dê um passado melhor aos seus filhos”, diz o protagonista deste romance mais recente do angolano José Eduardo Agualusa, gentilmente emprestado por JD.

Félix Ventura vive do ofício de inventar biografias e genealogias para os novos ricos de Angola, gente que fez fortuna em negócios escusos na guerra civil e na administração pública. Cria com engenho e arte histórias que dignificam seus clientes e o trabalho é tão bem-feito que os próprios beneficiados passam a acreditar naquelas memórias – alguém aí pensou nos contos de Jorge Luís Borges? O mestre argentino é uma das referências do livro, presente até na epígrafe.

O fio condutor do enredo é a chegada de um cliente misterioso, um fotógrafo especializado em cobertura de guerras, que deseja uma identidade angolana. É o que basta para desencadear uma enxurrada de eventos de força trágica, que mostram que nenhuma pessoa e nenhum país conseguem escapar ao próprio passado.

Agualusa é um escritor talentoso e criativo e o romance está cheio de belas passagens sobre identidade, verdade/mentira, literatura, felicidade e deliciosas observações sobre temas diversos, como o outono no Rio de Janeiro – descrito como uma estação sutil na qual os cariocas teimamos em acreditar, mas que os estrangeiros afirmam não existir. Ou como o trecho no qual fala da felicidade como um momento de irresponsabilidade.
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