quarta-feira, agosto 17, 2005

Sem Olhos em Gaza


Há poucas semanas dei aulas sobre os conflitos no Oriente Médio e fiquei impressionado com o interesse dos alunos pelo tema. Comecei com a desintegração do Império Otomano no século XIX e prossegui até os dias atuais. Foram muitas perguntas sobre os resultados de cada guerra e os diversos acordos de paz na região. Com freqüência, queriam saber se eu acreditava na possibilidade de se chegar a um entendimento entre árabes e israelenses. Em geral respondo que a política não é capaz de resolver tudo. Longe disso. Se conseguir amenizar os efeitos mais catastróficos dos conflitos humanos, já podemos nos dar por satisfeitos.

A retirada de Israel da Faixa de Gaza é a maior esperança para a paz na região desde os acordos de Oslo, de 1993. Foi uma decisão corajosa do primeiro-ministro Ariel Sharon, tomada em meio a profundas divisões na sociedade israelense, inclusive em seu próprio partido. Creio que só foi possível porque o histórico de linha dura do premiê – entre outras coisas, responsável pela invasão do Líbano e pelos massacres dos campos de refugiados palestinos de Sabra e Chatila – lhe deu força para enfrentar os radicais que se opõem a qualquer negociação com os árabes.

A retirada tem se dado de forma razoavelmente pacífica, simbolizada por imagens emocionantes como os soldados abraçados aos colonos, em lágrimas. A saída de Israel de Gaza é um passo importante no Mapa da Paz, o precário acordo costurado em 2003 por intermediação dos EUA, Europa, Rússia e ONU. Agora o desafio recai sobre a Autoridade Palestina, que terá que conter os terroristas do Hamas e da Jihad Islâmica e administrar um território empobrecido após os anos turbulentos da Segunda Intifada.

Muitas questões permanecem em aberto, inclusive os pontos explosivos da soberania conjunta sobre Jerusalém e o direito de retorno dos refugiados palestinos na Jordânia, Síria e Líbano, estimados em 3,7 milhões. E, claro, o que irá ocorrer na Cisjordânia, onde se concentram a maioria dos colonos e quase todos os locais sagrados citados no Velho Testamento. Gostaria de estar lá, acompanhando os fatos. Sem olhos em Gaza, sigo os acontecimentos pelo excelente blog da Daniela Kresh, que escreve direto do front.

4 Comentarios:

Anonymous Anônimo said... Weblog Commenting and Trackback by HaloScan.com

Prezado Maurício,
sou aluno do Clio e serei seu aluno neste semestre que se inicia. Não sou tão otimista quanto à retirada de Gaza. Não acredito que Sharon tenha mudado da água para o vinho. Para mim, o objetivo por trás do abandono de Gaza é justamente ganhar mais força para manter a ocupação da Cisjordânia indefinidamente. Quando a comunidade internacional cobrar a retirada de Israel da Cisjordânia - infinitamente mais valiosa e importante que a desértica e empobrecida Gaza -, os sionistas poderão argumentar que já sairam de Gaza e que o processo de retirada deve ser lento, podendo, assim, "empurrar com a barriga" e não desocpuar as terras palestinas.

agosto 18, 2005 12:23 PM  
Blogger Maurício Santoro said... Weblog Commenting and Trackback by HaloScan.com

Olá, Cristiano.

Bem-vindo ao blog! Há um debate sobre a retirada de Gaza rolando numa lista de blogueiros que assino e a discussão é exatamente nos termos que você mencionou. Sem dúvida, a Cisjordânia é muito mais complexa: são bem mais colonos e a região abarca os locais sagrados do Judaísmo.

Ainda assim, acredito que Gaza pode ser um balão de ensaio para um eventual acordo na Cisjordânia. Israel mostrou compromisso e determinação em enfrentar os colonos e a oposição dos próprios partidos conservadores

Abraços

agosto 18, 2005 4:51 PM  
Anonymous Anônimo said... Weblog Commenting and Trackback by HaloScan.com

Fala Maurício, tudo legal? Eu só queria te chamar atenção para uma coisa. Por mais que abomine o Sharon (ao menos até essa semana), não é correto dizer q ele foi responsável pelo massacre de Sabra e Chatila. Parece que foi o exército israelense q cometeu o massacre, qdo na realidade ele fez vista grossa. Gostaria tb de lembrá-lo q existe um precedente ao q acontece agora em Gaza: a retirada de colonos israelenses do Sinai qdo da assinatura de paz com o Egito. Bj, Monique

agosto 20, 2005 5:19 PM  
Blogger Maurício Santoro said... Weblog Commenting and Trackback by HaloScan.com

Oi, Monique.

O Sharon era o ministro da Defesa quando houve os massacres e foi o principal defensor da invasão do Líbano. Embora o trabalho sujo fosse cometido pelas milícias cristãs libanesas, o Exército estava lá para dar proteção a elas.

Você tem razão sobre a retirada dos colonos do Sinai, até houve alguns jornais que abordaram o precedente.

Bjs

agosto 22, 2005 12:23 PM  

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