segunda-feira, agosto 08, 2005

Corações e Mentes


No fim de semana assisti a "Corações e Mentes", de Peter Davis, o clássico documentário sobre a guerra do Vietnã realizado ainda em meio ao conflito e que está de volta ao circuito. Muitos dos meus professores na pós elogiavam bastante o filme e por isso estava curioso para vê-lo. Fiquei um tanto decepcionado. Imagino que deve ter sido uma bomba atômica quando foi lançado, mas 30 anos depois perdeu muito do que tinha de inovador, embora continue a ser um testemunho impressionante do período.

O documentário não tem narrador: a história é contada através da sobreposição de entrevistas com políticos e soldados dos EUA e civis do Vietnã. "Corações e Mentes" é um libelo contra a guerra e as opiniões de seus defensores são freqüentemente desmentidas pela edição. Por exemplo, uma seqüência de vietnamitas chorando desesperados por seus mortos é contraposta por uma declaração do general Westmoreland, que comandava as tropas americanas no país, afirmando candidamente que "os orientais não dão o mesmo valor à vida do que nós."

O filme é muito forte, com imagens de morte, tortura, degradação e destruição - a platéia ficou perturbada em vários momentos. Me pergunto se hoje seria possível realizar um documentário vencedor do Oscar que causasse tanto incômodo nos espectadores. "Ah, mas tem Michael Moore", dirão alguns. Em termos. A obra de Moore tem temas semelhantes, mas a linguagem é muito mais ágil, leve e bem-humorada. Em comparação com o dinamismo pop de "Tiros em Columbine", "Corações e Mentes" tem o peso de um avô um tanto ranzinza ao mundo da MTV.

Outra característica que me desagradou no filme - e que também ocorre nos documentários de Moore - é a manipulação das emoções e opiniões do espectador. Eu gostaria de ouvir as posições das pessoas favoráveis à guerra, para tentar entender porque pensam assim, mas elas são sistematicamente ridicularizadas como ingênuas ou cínicas. Oxalá o mundo fosse tão simples, mas com freqüência pessoas boas tomam decisões ruins, ainda que baseadas nas melhores intenções. Nesse ponto, uma obra de ficção como o romance "O Americano Tranqüilo", de Graham Greene, me diz muito mais sobre os erros dos EUA no Vietnã.

3 Comentarios:

Blogger Anjo Mecânico said... Weblog Commenting and Trackback by HaloScan.com

Maurício,

Apenas penso que não se pode dar conta de tudo o tempo todo. Se você faz um filme anti-bélico, isso não significa que você precisa buscar as boas intensões por trás das pessoas más que também são boas, já que todos são maus e bons, pois no que toca à guerra, são apenas más.

Quando pensava que o New Deal perdia a força vimos a Guerra do Golfo I, a Guerra do Afeganistão e a Guerra do Iraque (Golfo II?), ou seja, se a economia parece perder o folêgo é só fazer uma guerra que ela se aquece rapidinho.

Será que o Euro pode mudar um pouco esse quadro perverso? Afinal, mesmo com a punjança da economia dos Estados Unidos o dolar continua se desvalorizando... Um dúvida que me surgiu agora.

agosto 09, 2005 6:33 PM  
Blogger Maurício Santoro said... Weblog Commenting and Trackback by HaloScan.com

Salve, Anjo.

Sim, é por aí. Os documentários de David e de Moore foram feitos no calor da batalha, com propósitos anti-bélicos. É claro o enfoque dos filmes é diferente, mas como estou à distância gostaria de outra abordagem.

O dólar está desvalorizado porque o governo americano enfrenta uma dívida pública gigantesca, por causa da guerra e do corte de impostos. Também acredito que o fortalecimento econômico da UE ajude a conter ao menos alguns dos ímpetos agressivos dos EUA.

Abraços

agosto 10, 2005 5:09 PM  
Blogger Anjo Mecânico said... Weblog Commenting and Trackback by HaloScan.com

É, eu compreendo essa explicação (sobre a divida pública e o dolar), mas é justamente que antes essa fórmula era imbatível, pois não havia moeda que lhe fizesse força no mundo, então tratava-se de um instrumento perfeito de lucro (guerra - pesquisa - indústria) em uma relação prostituída entre publico e privado.

A questão é que agora existe o Euro como referencial forte também, será que a fórmula é ainda infalível ou vai se esgarçar?

agosto 11, 2005 1:26 PM  

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