Sandálias da Humildade
Há alguns dias uma amiga me sugeriu escrever um romance sobre a atual crise política. Seu argumento é interessante: se os escândalos não forem retratados na ficção, em breve serão esquecidos. Recusei delicadamente a proposta, argumentando que minha parca imaginação não é capaz de dar conta da galeria de tipos pitorescos e anti-heróis que desfilam por Brasília. Diante da Jeane Mary e do tesoureiro Jacinto Lamas (o pai do rapaz foi profeta!) só posso me recolher à condição de espectador.
A resposta de Palocci às acusações de corrupção feitas por seu ex-assessor Rogério Buratti foi a auto-defesa mais competente realizada por um membro do governo Lula. O ministro convocou a imprensa e falou de modo tranqüilo e sereno, calçando as sandálias da humildade ao dizer que não é insubstituível, que a economia do país é sólida etc. Deu a entrevista num domingo e evitou o medo no mercado financeiro na segunda-feira.
À parte a competência política do ministro em se defender, as denúncias de Buratti são bastante sérias. O ex-assessor foi secretário de governo quando Palocci era prefeito, cargo de confiança que dá acesso aos meandros da administração. As acusações envolvem propinas de empresas de lixo sendo desviadas para o caixa 2 do PT, o que já rende dores de cabeça ao partido desde o governo de Marta Suplicy em São Paulo. Em suma, há fumaça. Cabe às investigações descobrir se existe fogo.
A oposição tem se mostrado muito temerosa em envolver Palocci na crise: PSDB e PFL não querem o risco de turbulências na economia, ainda mais podendo levar o Planalto em 2006. Dirigentes empresariais, aqueles mesmos que defenderam a dona da Daslu, também falaram a favor do ministro. Como diria Jeane Mary, em casa de tolerância não existe donzela. Já sinto pizza.
2 Comentarios:
Olhe, se eu tivesse qualquer perspectiva de que algo de bom pudesse surgir de uma crise verdadeira, eu torceria para não acabar em Pizza, mas não tenho nenhuma perspectiva de que uma crise aguda não acabasse num fascismo autoritário como tantos outros.
Ah, Maurício, mas que daria um belo romance, daria! Depois de "Família Santoro, a Máfia de Santa Teresa", é claro.
beijos!
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