China - o Legado de Tiananmen
Comecei uma série de leituras sobre China e Índia - os atores em ascensão na política internacional. Até agora, o que mais gostei foi "The Legacy of Tiananmen", do jornalista James Miles, que chefiava o escritório da BBC em Pequim.
Miles pinta um panorama sombrio da China de meados dos anos 90. Embora destaque o crescimento acelerado da economia, chama a atenção para os problemas que afetam o país: êxodo rural, aumento do crime e das desigualdades, disputas ferozes no interior do Partido Comunista, corrupção e repressão política.
A pergunta central do livro é se a China conseguirá manter as reformas iniciadas por Deng Xiaoping nos anos 70, após a morte de Mao, ou se as tensões sociais forçarão uma mudança de rumo. O jornalista chega a levantar a hipótese de fragmentação e guerra civil - à maneira da Rússia e da Iugoslávia - devido às diferenças entre Pequim e as províncias do sul, onde o ambiente pró-capitalismo é mais forte.
Miles é britânico e para um brasileiro sua interpretação dos problemas sociais da China parece exagerada. A maioria é bem menor do que aqueles enfrentados pelos países em desenvolvimento da América Latina. Contudo, sua descrição das injustiças e das dificuldades impressiona e ajuda a compreender um pouco os que os marxistas chamariam de "acumulação primitiva do capital" que vem ocorrendo no país.
A reportagem tem boas entrevistas com os principais dissidentes democráticos da China, como Wei Jingsheng, um dos criadores do célebre "Muro da Democracia" que antecedeu as gigantescas manifestações da Praça da Paz Celestial, em 1989. Miles acredita que o desenvolvimento econômico chinês aumenta as possibilidades de movimentos democráticos, ao criar uma nova classe média e empresarial menos disposta a se submeter às decisões do PC. Ele destaca ainda a crescente desilusão ideológica entre os membros do partido e a engrenagem de fazer dinheiro, com freqüência por meios escusos que envolvem governo, Forças Armadas e polícia.
O que achei mais interessante foi a análise de Miles de que há uma liderança democrática em potencial nos chineses de meia idade que fizeram parte da Guarda Vermelha durante a Revolução Cultural dos anos 60. Originalmente foi um movimento de extrema-esquerda lançado por Mao contra a velha máquina do partido, mas muitos dos antigos guardas vermelhos teriam mudado de posição. O argumento é instigante: de fato, o próprio Wei seguiu essa trajetória e deve haver diversas pessoas como ele.
O livro tem apenas um capítulo sobre relações internacionais, com foco pessimista nas tensões entre China, Hong Kong e Taiwan. Gostaria de ler mais sobre as rivalidades com as Coréias e com o Japão. À distância, parece ser um dos principais barris de pólvora da política internacional.
2 Comentarios:
Na "The economist" saiu há algum tempo uma resenha de um livro sobre a possível mudança política na China; "China's Democratic Future : How It Will Happen and Where It Will Lead" escrito por Bruce Gilley.
Quanto as "rivalidades" China-Japão! esse assunto é história pura! hoje em dia com os altos investimentos nipônicos na China, pode se dizer que há um jogo duplo por parte de Beijing: Estimular o ódio popular via lembranças da guerra e ao mesmo tempo manter uma posiçõa diplomática amena para nõa afugentar os yens que vem de Tóquio.
Eu disse ao Maurício que dúvido que encontrem um Exército mais cruel que o japonês no século XX. Eles até alimentavam os cachorros com carne humana dos chineses. Não chamaria de rivalidade Maurício, é ressentimento forte, ódio mesmo.
Espero poder conversar mais sobre isso em breve contigo!
Salve, meu caro.
Aguardo sua próxima visita ao Rio. Estava mesmo curioso para saber o que você achou do pedido de desculpas dos japoneses, nas celebrações dos 60 do fim da Segunda Guerra Mundial.
Tudo pronto para te hospedar quando você vier fazer as provas para o mestrado. Recusas não serão aceitas.
Abraços
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