Dom Quixote em Porto Alegre
Vira e mexe amigos ou alunos me perguntam se as propostas apresentadas pelas organizações da sociedade civil são viáveis. Algumas são, outras não. Há também aquelas que parecem absurdas à primeira vista - todo progresso social começa como um tipo de delírio até se concretizar.
Vi uma penca de excelentes eventos: uma palestra com Gilberto Gil e artistas africanos sobre a relação entre arte e política; uma discussão entre pessoas de todos os continentes sobre reforma da ONU e uma exposição emocionante da campanha Diálogos contra o Racismo do IBASE, na qual vários dos presentes choraram.
É claro que em meio a tantos eventos, há vários que me fazem pensar que uma política mais rigorosa de internação psiquiátrica faria maravilhas pelos movimentos sociais. Para centenas (quiçá milhares) de pessoas por aqui, o Muro de Berlim não caiu e a URSS tinha o melhor time, mas foi mal treinada e roubada pelo juiz. Também existe muito voluntarismo - achar que basta discursar de modo raivoso e agressivo para que o mundo comece a mudar. E às vezes um radicalismo preguiçoso de ser "contra tudo que está aí". A vida é mais complicada do que isso.
Outras são idéias simples que funcionam muito bem. Há uma ótima feira no FSM só com produtos feitos em cooperativas de economia solidária ou agricultura familiar. Pode se comprar de tudo nelas: alimentos, bebidas, roupas. Virei freguês dos sucos, maravilhosos e baratinhos (R$1). Está muuuuito quente em Porto Alegre, deve estar perto de 40oC. Líquido o dia inteiro, meus caros, senão ninguém aguenta.
Se a qualidade política das atividades varia, uma coisa se mantém constante: o fantástico nível de alegria, bom humor, jovialiadade e fraternidade que rola por aqui. Todo dia conheço pelo menos uma meia dúzia de pessoas legais, de cabeça aberta, com vontade de conversar e trocar idéias. Caminhar à beira do rio Guaíba (amigos geógrafos me fizeram a gentileza de esclarecer que ele não é lago, apesar do nome oficial dizer o contrário) me lembra que a vida pode ser muito mais bela, diversa e livre do que a rotina do escritório pode fazer pensar.