O Drama de Pedro Bial
Há alguns anos meu irmão veio me avisar que "tem um programa estranho no SBT, o Supla e o Alexandre Frota estão numa casa". No dia seguinte, maravilhado, conversei com minha chefe - na época eu tinha a vida mansa de escrever sobre cinema e literatura para o Cadê? - sugerindo a ela uma coluna sobre aquele fenômeno de mídia. Foi divertidíssimo. Ainda hoje me lembro de textos como a comparação entre Alexandre Frota e o mito da caverna de Platão, ou a descrição antropológica de Supla apresentando um livro aos colegas da Casa dos Artistas.
Como agora tenho um blog, armado e perigoso, decidi repetir a dose. Passarei a comentar aqui os episódios do Big Brother Brasil 5.
Como ontem foi o primeiro programa e ainda não conheço direito os participantes, me limitarei a dissertar sobre o apresentador. Pedro Bial vive um drama. É só olhar para ele para perceber os dilemas éticos que decorrem de seu posto como Chacrinha pós-moderno. Vejo ele se esforçar para parecer espontâneo, fingir que acha graça nas frases feitas que repete e noto nitidamente seus pensamentos:
"Vida cruel, eu preferia discutir o fluxo de consciência em James Joyce no meu programa de literatura na Globonews. O que será que minha turma de poetas marginais do Baixo Leblon vai pensar dessas piadinhas que conto aqui toda noite? Quando chegar em casa, vou tomar uma ducha para tirar essa poeira e assistir aos DVDs do Kieslowski, com as legendas em polonês e tudo".
Em suma, o clássico conflito de Fausto, o intelectual que vende a alma para o demônio em troca de poder. Bem, no caso está mais trocar uma atividade secundária por outra que permite ao sujeito ser reconhecido nas praias e, com sorte, conseguir um desconto no supermercado. No fundo traz menos danos à saúde do que escrever uma biografia apologética do Roberto Marinho. Bial deveria ler Goethe. Esses pactos sempre terminam mal e o inferno não tem serviço de atendimento ao consumidor.
À primeira vista, o programa promete. Jean, o professor universitário de literatura, tem tudo para ser meu próximo herói intelectual. Eu andava mesmo cansado de Rousseau.
Como agora tenho um blog, armado e perigoso, decidi repetir a dose. Passarei a comentar aqui os episódios do Big Brother Brasil 5.
Como ontem foi o primeiro programa e ainda não conheço direito os participantes, me limitarei a dissertar sobre o apresentador. Pedro Bial vive um drama. É só olhar para ele para perceber os dilemas éticos que decorrem de seu posto como Chacrinha pós-moderno. Vejo ele se esforçar para parecer espontâneo, fingir que acha graça nas frases feitas que repete e noto nitidamente seus pensamentos:
"Vida cruel, eu preferia discutir o fluxo de consciência em James Joyce no meu programa de literatura na Globonews. O que será que minha turma de poetas marginais do Baixo Leblon vai pensar dessas piadinhas que conto aqui toda noite? Quando chegar em casa, vou tomar uma ducha para tirar essa poeira e assistir aos DVDs do Kieslowski, com as legendas em polonês e tudo".
Em suma, o clássico conflito de Fausto, o intelectual que vende a alma para o demônio em troca de poder. Bem, no caso está mais trocar uma atividade secundária por outra que permite ao sujeito ser reconhecido nas praias e, com sorte, conseguir um desconto no supermercado. No fundo traz menos danos à saúde do que escrever uma biografia apologética do Roberto Marinho. Bial deveria ler Goethe. Esses pactos sempre terminam mal e o inferno não tem serviço de atendimento ao consumidor.
À primeira vista, o programa promete. Jean, o professor universitário de literatura, tem tudo para ser meu próximo herói intelectual. Eu andava mesmo cansado de Rousseau.
3 Comentarios:
Sinceramente, não tenho paciência de ver esses programas estilo Big Brother e Casa dos Artistas. É muito melhor saber o que acontece neles por blogs e afins
O BBB sempre umas pessoas jogando conversa fora, ao redor de uma piscina, aparelho de ginástica ou mesa de jantar, como se estivessem em um presídio. Com a diferença que no presídio as pessoas sempre estão tramando um meio de escapar, enquanto no BBB querem encontrar um meio de continuar presos.
Toda vez que vejo esses programas me lembro do livro "O Zoológico Humano", que compara o comportamento vital do animal ao ar livre e o comportamento neurótico do animal confinado no zoológico e do ser humano que vive nas grandes cidades.
PS: Gostei da frase "Bial deveria ler Goethe. Esses pactos sempre terminam mal e o inferno não tem serviço de atendimento ao consumidor." Será devidamente apropriada, certo?
E pensar que, na ingenuidade da minha dolescência, eu quis ser jornalista inspirada no Bial. Adorava vê-lo em episódios como a queda do Muro de Berlim ou o fim da URSS. Agora, aqui entre nós, já que não sou mais ingênua e crédula: pelo dinheiro que ele ganha, eu também aturava os Bambans, Tirsos, Manuelas e Caubóis da vida feliz!
A minha lembrança do Bial é à frente de manifestantes quebrando o muro de Berlim, com a camisa suada, olheiras, reportando "estou exausto, mas meus olhos não se cansam de testemunhar a história."
(...)
Fico PUTO de vê-lo fazendo essa MERDA.
Tudo bem, tudo bem, eu como todo mundo, vou zoar mas vou acabar dando uma espiadinha ocasional. Ainda assim, é uma merda.
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