Quem construiu as portas de Tebas?
Quem construiu as portas de Tebas?
Nos livros constam os nomes dos reis.
Foram eles que carregaram as rochas?
O jovem Alexandre conquistou a Índia.
Conquistou sozinho?
César bateu os gauleses.
Não tinha ao menos um cozinheiro consigo?
Felipe da Espanha chorou a perda de sua esquadra.
Só ele chorou?
Cada página uma vitória.
Quem prepara os banquetes?
Tantas histórias.
Tantas perguntas.
Brecht, "Perguntas de um operário que lê" (trechos)
Ontem assisti a "Peões", de Eduardo Coutinho. O filme é o irmão gêmeo de "Entreatos". Enquanto João Moreira Salles cobriu os bastidores da campanha de Lula à presidência, Coutinho foi conversar com os metalúrgicos que participaram das grandes greves de 1979/1980. Pessoas que fizeram a História mas que não se tornaram famosas, a não ser através do líder sindical de sua categoria.
Coutinho é o decano dos documentaristas brasileiros e admiro muito seu trabalho, mas seus últimos filmes ("Edifício Master", "Babilônia 2000") tinham tanto sofrimento que achei que não fosse ver este. Mudei de idéia após comentários positivos do meu irmão e de colegas de IUPERJ. De fato, "Peões" é excelente, emociona e faz pensar nos rumos que a história recente do Brasil tomou.
Os metalúrgicos que são entrevistados no filme têm uma trajetória parecida: pouca escolaridade, muitos vindos do Nordeste, para tentar a sorte na indústria automobilística do ABC paulista, então o supra-sumo da modernidade econômica do país. No quadro operário brasileiro, são privilegiados: ascenderam ao status de uma pequena classe média, com casas equipadas com bons eletrodomésticos e filhos na faculdade (uma das minhas melhores amigas no doutorado é filha de um metalúrgico).
A participação no movimento das greves foi decisiva em suas vidas. Transparece o orgulho de ter participado de um momento importante da história do país, de ter rompido com uma cultura autoritária e conformista e de ter forjado uma identidade coletiva no calor da luta.
O mundo da fábrica aparece como um lugar de trabalho duro, sujeito a acidentes, descaso e grosserias dos patrões e capatazes. Um senhor mostra as mãos marcadas por ferimentos e comenta que "as cicatrizes da alma são muito piores".
Fiquei pensando que uma das tragédias de Lula é ter chegado ao poder depois do enfraquecimento, senão destruição, do movimento operário que o tornou um líder nacional. Em 25 anos muita coisa mudou, a indústria automobilística se automatizou e os metalúrgicos atuais têm nível secundário ou universitário, além de serem em número muitíssimo menor. A fantástica capacidade de mobilização e pressão se perdeu. É como se o PT fosse como as estrelas, que irradiam uma luz que deixou de existir há vários anos, mas só agora chega até nós. Que o diga a nova ministra Roseana Sarney...
1 Comentarios:
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