segunda-feira, dezembro 13, 2004

Os Sonhadores

Os Sonhadores” é um desses filmes do estilo “ame ou odeie”. Estou no primeiro grupo. A história de sexo, cinema e política ambientada em alguns dias turbulentos na Paris de maio de 1968 é a melhor que Bernardo Bertolucci dirigiu em muitos anos. A trama é simples: um americano tranqüilo, Matthew freqüenta a Cinemateca Francesa e se torna amigo de um casal de gêmeos, Theo e Isabelle. Quando os pais deles viajam, os três se trancam no apartamento da família e passam os dias jogando jogos sexuais e cinematográficos, enquanto a cidade vira de cabeça para baixo com os protestos dos estudantes e operários.

O título original francês, Les Innocents, era mais interessante. A princípio, parece que o ingênuo Matthew é que será iniciado pelos sofisticados e algo cínicos gêmeos franceses – o tema clássico da “corrupção” da América pela Europa, que está presente, por exemplo, em vários dos romances de Henry James. Mas à medida que o filme avança, percebe-se que a realidade é mais complicada e quem é inocente (ou sonhador) é uma questão para debate.

O cinema é uma parte essencial da trama e os personagens se referem o tempo todo a filmes famosos, inclusive jogando um tipo de mímica que tem papel importante na trama. Apesar de cinéfilo, minhas referências culturais são bem distantes das mencionadas no filme, mas a paixão pela tela de prata é a mesma, de modo que me diverti bastante. Dá para imaginar cenas parecidas com os filmes que gosto.

E ainda há, claro, a política. Você pode viver uma vida fechada no próprio prazer, dando as costas para o que acontece na sociedade? Pode mudar o mundo tentando permanecer fora dele? São algumas das questões colocadas pelo filme. As cenas das manifestações e barricadas são excelentes, em particular uma seqüência esplêndida em que “a rua entra na casa” e os protagonistas se envolvem nos protestos ao som de “Je ne regrette rien” (Não me arrependo de nada). Canção, aliás, que não páro de ouvir, na voz de Cássia Eller. Avec mes souvenirs, j´allume le feu...



2 Comentarios:

Blogger Glauco Paiva said... Weblog Commenting and Trackback by HaloScan.com

Eu realmente não conheço a resposta para todas essas questões existenciais, mas a idéia de praticar jogos sexuais enquanto o mundo desaba lá fora me parece ótima!

dezembro 14, 2004 2:03 PM  
Blogger Maurício Santoro said... Weblog Commenting and Trackback by HaloScan.com

Caros,

de fato, o filme divide opiniões. Claro que não é o melhor do Bertolucci, mas o achei bem superior ao que ele fez nos últimos anos (Beleza Roubada, O Assédio). Pupo, obrigado pelas informações, pensei realmente que o título original fosse em francês, também não conhecia a entrevista do diretor ao Estadão.

dezembro 14, 2004 3:47 PM  

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