segunda-feira, novembro 29, 2004

Revolucao!

Por que os homens se rebelam? O que ocasiona uma revolucao? Cuidado antes de dizer as respostas mais comuns: "pobreza", "desigualdade", "injustica".

O estudo academico de revolucoes eh fascinante, nao soh pelas implicacoes do conhecimento, mas tambem por razoes politicas -- alguns querem promove-las, outros querem evita-las. Mas saber o porque, quando e como acontecem ainda eh fundamental para os dois lados. Tambem nao eh surpresa que durante os anos 60 e 70 este tipo de estudo tenha se tornado extremamente popular por estas bandas. Com a Guerra Fria correndo solta pelo Terceiro Mundo, revolucoes pareciam surgir do nada. Para variar, as duas superpotencias, os EUA e a URSS, procuravam evita-las.

Digo que as respostas faceis sao enganosas porque um monte de tinta foi gasta, os numeros foram analisados e sao poucas as certezas. O seu maior proponente, Karl Marx, tentou dizer que seria na Alemanha ou na Inglaterra, por exemplo -- errou por muito. O maior problema eh que, para cada Revolucao bem sucedida, ha varias que falham. Portanto, para analisa-las, precisamos colocar todas as instancias de revolta. No fim, varios estudos empiricos mostram que nenhum dos tres motivos acima leva a uma revolucao por si soh (o caso brasileiro eh um bom exemplo disso). Para usar uma metafora de Lenin, para que aconteca uma Revolucao, eh preciso "chutar portas apodrecidas".

Apesar de fascinante, o tema estah fora de moda por razoes obvias. Ouvi recentemente que revolucoes sao tao raras que estuda-las equivale a "estudar especies raras de ornitorrinco". Serah que este o fim do estudo de revolucoes?

2 Comentarios:

Blogger Bruno Lopes said... Weblog Commenting and Trackback by HaloScan.com

Sim, é interessante estudar uma revolução, mas, por serem ocasiões tão particulares não sei se é possível fazer um estudo científico delas. Elas não se repetem, algo essencial para se fazer um estudo científico. E acompanhar uma revolução "in loco" é algo que relativamente poucos fazem - e muitos desses desaparecem no meio do turbilhão e não podem contar a história.

Você precisa se basear em relatos de outras pessoas, e esse estudo acadêmico também é muito difícil. As revoluções despertam muita paixão, seja contra ou a favor delas, o que vai dificultar não só a elaboração do estudo mas também sua defesa frente aos pares. Se você der sorte, uma parte dos colegas e professores irá apoiar e outra atacar. Se der azar, ficará como o herói grego, sozinho e lutando contra todos.

Mas, de novo, se você estiver a fim de estudar academicamente alguma revolução, faça isso, por favor. É como tentar namorar a garota mais bonita do colégio: as chances de falhar são grandes, mas as recompensas enormes.

novembro 30, 2004 2:06 PM  
Blogger Maurício Santoro said... Weblog Commenting and Trackback by HaloScan.com

É curioso as pessoas falarem em fim das revoluções, porque faz pouco (1989-1990) que passamos por um ciclo grande delas, que colocou fim aos regimes socialistas na Europa Oriental. Não acho impossível que algum tipo de revolução exploda na Árabia Saudita nos próximos anos. Enfim, continua a ser uma questão relevante na periferia do sistema internacional.

Ainda há muito o que conhecer sobre as revoluções do século XX. Por exemplo, por que a maioria das rev. socialistas ocorreram a partir de guerras camponesas, como na China e no Vietnã, ou em larga medida na própria Rússia? Esse é um ponto que passou longe da análise de Marx. Gramsci entendeu isso melhor olhando a "revolução passiva" da Itália do Risorgimento.

Particularmente, acho que o melhor ponto de partida é Tocqueville, e sua noção de "revolução das expectativas crescentes" - as pessoas se rebelam quando começam a melhorar de vida, ampliam seus horizontes, descobrem seu potencial de ação e passam a considerar intolerável a injustiça que antes era aceita como natural e inevitável.

novembro 30, 2004 4:39 PM  

Postar um comentário

<< Home

Creative Commons License
This work is licensed under a Creative Commons License. Weblog Commenting and Trackback by HaloScan.com