quarta-feira, novembro 24, 2004

Confissões de um Demagogo


Um grande homem Posted by Hello


O evento que organizei em Santiago teve como expositor o ex-ministro da Fazenda de Salvador Allende. A vida política e cultural do Chile parece girar em torno de três figuras: Allende, Pinochet e Neruda. O período em que os três viveram seu auge (o presidente se matou no golpe do general e Neruda morreu dias depois, de tristeza, como cabe aos poetas) foi tão marcante para o país que até hoje sua influência continua. Estava preocupado com a possibilidade de que nosso expositor tivesse ficado preso a esse momento, que foi também o ápice de sua carreira política.

Felizmente, eu estava errado. Ele nos encontrou no hotel, algumas horas antes do evento, e conversamos longamente sobre a situação política no Chile e na América Latina. Nosso interlocutor é um homem idoso, afável e sereno, com uma incrível disposição para se abrir ao novo e tentar entender as transformações deste mundo do início do século XXI. Fez uma bela palestra ressaltando que o Chile vem se afastando da América Latina e investindo no Pacífico, mas que há limites para essa política, os laços que unem o país ao continente são muito fortes.

Minha função era apenas cuidar do aspecto organizacional do debate, mas nosso expositor insistiu para que eu também desse uma palestra, porque os chilenos têm muita curiosidade sobre o Brasil. Falei a respeito da política externa de Lula, em especial das articulações com os países em desenvolvimento, e embora elogiasse a iniciativa, expus as críticas das ONGs a certos aspectos desse processo, destacando a agenda alternativa que propomos, como a conferência que realizamos na África há dois meses.

Nunca gostei de pessoas que tratam da política de modo empolado e abstrato, como se o assunto fosse chato e distante da vida cotidiana. Além disso, a platéia era jovem, quase adolescente. Apostei no humor, contei várias anedotas pessoais e apelei até para a demagogia ("Uma boa parte da atual elite política brasileita exilou-se no Chile nos anos 60 e se casou com mulheres daqui. Isso também é integração regional, e fácil de entender, porque vocês chilenas são muito bonitas"). OK, golpe baixo: mas sincero, elas realmente são umas gracinhas. A platéia gostou, ganhei até beijos no final. Da próxima vez, levarei um violão.

Meus exercícios de demagogia continuaram, porque depois do debate dei algumas entrevistas e participei de um debate numa rede de rádios comunitárias da América Latina. Destaquei questões que tinha abordado na palestra, chamando atenção para a importância dos avanços chilenos na questão dos direitos humanos e forças armadas, que podem se tornar um modelo para o continente (falarei mais sobre isso em outro post). Fiquei impressionado com a força do movimento, eram 150 emissoras e cobriram o fórum na base de trabalho voluntário por jornalistas. É um instumento de comunicação valioso, que ainda precisamos conhecer melhor.

Soube depois que Colin Powell deu uma escapada da APEC e passeou por Santiago à noite. Também atirou beijos às chilenas. Pobre país, eu não era o único demagogo à solta! Mas pelo menos não invadi o Iraque e depois posei de santo de bordel.

1 Comentarios:

Anonymous Anônimo said... Weblog Commenting and Trackback by HaloScan.com

Meu amigo, que orgulho de você!!! Dando palestras, participando de debate na rádio...Tá perdoado da demagogia, rsrsrsrs!

beijos,
Leticia

novembro 25, 2004 8:13 PM  

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