Marchando por Santiago
Pedindo clemência...
Cheguei ao Chile acompanhando um economista que é consultor do IBASE, com a tarefa de organizar um debate do instituto no Fórum Social Chileno, cuidando dos detalhes práticos, pagamentos, burocracia etc. Também fui encarregado de escrever algumas reportagens sobre o evento e sobre a reunião da APEC. Como nosso debate só aconteceu no sábado, tivemos quinta e sexta para passear por Santiago - luxo incomum na agenda corrida do mundo ONG.
Na quinta-feira, fomos recebidos no aeroporto por um rapaz carioca, filho de uma ativista chilena de direitos humanos que se exilara em nosso país durante a ditadura Pinochet. Ele deveria nos levar até o hotel, mas a conversa estava tão boa que ele resolveu matar aula na faculdade de economia para nos acompanhar por um passeio por Santiago. Vimos os pontos turísticos: a plaza de armas, a colina de Santa Lucia, o Palácio La Moneda (emoção forte, estar ali não é brincadeira) e batemos papo sobre o Chile em volta de empanadas e cerveja.
Na sexta, foi a marcha de abertura do Fórum Social Chileno. Não tínhamos uma expectativa muito grandiosa com relação a ela: o Chile é um país pequeno, muito conservador. Imaginávamos encontrar apenas um punhado de militantes. Tívemos uma belíssima surpresa: uma multidão, principalmente de jovens, que fez uma bela passeata, marcada por bom humor e alegria. Os cálculos estão entre 40 e 50 mil pessoas, a maior manifestação política do país em 20 anos, desde o plebiscito que encerrou a ditadura de Pinochet. Pouco para os padrões de outras sociedades latino-americanas (um argentino provocou: "Grande coisa, colocamos um milhão de pessoas em Buenos Aires") mas um marco expressivo além dos Andes.
A marcha foi pacífica e muito bonita. Famílias inteiras participavam juntas, levando até os animais de estimação. Das janelas dos edifícios, as pessoas atiravam papel picado, jatos d´água (estava um sol muito forte) e agitavam bandeiras do Chile. Havia alguns grupos de jovens, com lenços cobrindo o rosto, que de vez em quando pichavam os muros, no que eram repreendidos por respeitáveis senhores de classe média: "Quem vai limpar isso?", "Sei lá, o Bush". Claro que o presidente dos EUA foi o alvo principal dos protestos. Uma revista satírica chilena, a The Clinic, chegou a publicar uma edição especial só com cartazes contra ele - fez grande sucesso.
A marcha terminou numa praça, onde aconteceriam shows, discursos etc. Como já era razoavelmente tarde, eu e meu colega de IBASE fomos almoçar e de lá continuamos a passear por Santiago. Somente horas mais tarde, ao conversar com amigos chilenos, soubemos do que se passou. Pouco depois de sairmos da manifestação, um grupo de jovens partiu para a violência. Arrancaram bancos da praça, destruíram o gramado, atacaram um supermercado das redondezas e saquearam o hotel mais próximo, onde estava hospedada a delegação russa à APEC. A polícia reagiu com carros blindados, tropa de choque e houve um grande confronto. De manhã, havia ocorrido outro semelhante, perto de uma lanchonete onde tomamos café - chegamos a ver os blindados dos carabineros passando por nós em alta velocidade. Em suma, nos livramos por pouco de dois encontros com esses senhores, no mesmo dia.
1 Comentarios:
Caros,
após alguma luta e problemas técnicos, finalmente consegui rodar o Hello, o que significa fotos no blog. Com isso, acabei apagando os comentários anteriores a este post. Em resposta a eles, afirmo apenas que: 1) Sim, a viagem ao Chile foi surreal, e ainda ficará pior (ou melhor). Aguardem as "confissões de um demagogo". 2) Sim, na América Latina a violência está sempre latente, e explode à primeira faísca. 3) Há novidades sobre o tio Ricky. Mas uma emoção forte de cada vez.
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