terça-feira, dezembro 28, 2004

Quem construiu as portas de Tebas?


Quem construiu as portas de Tebas?
Nos livros constam os nomes dos reis.
Foram eles que carregaram as rochas?

O jovem Alexandre conquistou a Índia.
Conquistou sozinho?
César bateu os gauleses.
Não tinha ao menos um cozinheiro consigo?
Felipe da Espanha chorou a perda de sua esquadra.
Só ele chorou?

Cada página uma vitória.
Quem prepara os banquetes?

Tantas histórias.
Tantas perguntas.


Brecht, "Perguntas de um operário que lê" (trechos)


Ontem assisti a "Peões", de Eduardo Coutinho. O filme é o irmão gêmeo de "Entreatos". Enquanto João Moreira Salles cobriu os bastidores da campanha de Lula à presidência, Coutinho foi conversar com os metalúrgicos que participaram das grandes greves de 1979/1980. Pessoas que fizeram a História mas que não se tornaram famosas, a não ser através do líder sindical de sua categoria.

Coutinho é o decano dos documentaristas brasileiros e admiro muito seu trabalho, mas seus últimos filmes ("Edifício Master", "Babilônia 2000") tinham tanto sofrimento que achei que não fosse ver este. Mudei de idéia após comentários positivos do meu irmão e de colegas de IUPERJ. De fato, "Peões" é excelente, emociona e faz pensar nos rumos que a história recente do Brasil tomou.

Os metalúrgicos que são entrevistados no filme têm uma trajetória parecida: pouca escolaridade, muitos vindos do Nordeste, para tentar a sorte na indústria automobilística do ABC paulista, então o supra-sumo da modernidade econômica do país. No quadro operário brasileiro, são privilegiados: ascenderam ao status de uma pequena classe média, com casas equipadas com bons eletrodomésticos e filhos na faculdade (uma das minhas melhores amigas no doutorado é filha de um metalúrgico).

A participação no movimento das greves foi decisiva em suas vidas. Transparece o orgulho de ter participado de um momento importante da história do país, de ter rompido com uma cultura autoritária e conformista e de ter forjado uma identidade coletiva no calor da luta.

O mundo da fábrica aparece como um lugar de trabalho duro, sujeito a acidentes, descaso e grosserias dos patrões e capatazes. Um senhor mostra as mãos marcadas por ferimentos e comenta que "as cicatrizes da alma são muito piores".

Fiquei pensando que uma das tragédias de Lula é ter chegado ao poder depois do enfraquecimento, senão destruição, do movimento operário que o tornou um líder nacional. Em 25 anos muita coisa mudou, a indústria automobilística se automatizou e os metalúrgicos atuais têm nível secundário ou universitário, além de serem em número muitíssimo menor. A fantástica capacidade de mobilização e pressão se perdeu. É como se o PT fosse como as estrelas, que irradiam uma luz que deixou de existir há vários anos, mas só agora chega até nós. Que o diga a nova ministra Roseana Sarney...

segunda-feira, dezembro 27, 2004

Noite Nem Tão Feliz

O Natal de 2004 teve um toque melancólico - vários amigos passaram por problemas sérios no fim de semana. Um deles levou uma surra de pit boys, no próprio dia de Natal, e o pior é que o principal agressor é filho de um delegado da Polícia Federal. Outra teve uma crise de saúde e está internada. Um terceiro me ligou em plena ceia no meio de algo que só posso descrever como um surto de depressão aguda.

A história mais bizarra, como sempre, coube ao tio Ricky. Minha tia foi jantar na casa do ex-marido e portanto não esperávamos nosso tio no dia 24. À meia noite, as favelas da vizinhança explodiram em fogos de artifício e, nessa balbúrdia, ouvimos alguém mexendo no portão. Era o tio Ricky entrando quase às escondidas, como um ladrão. Ele ficou sozinho no apartamento da minha tia por longas horas, enquanto ela estava com o ex-marido. Acho que nunca testemunhei uma cena de tanto desamparo e carência emocional.

O Natal faz coisas estranhas com as pessoas. As expectativas com relação à data são altas demais, como se a vida pudesse ter a felicidade de um comercial de margarina. Claro que a realidade é diferente, ler Dostoiévski talvez fosse um treinamento mais adequado - o Natal do tio Ricky, por exemplo, me lembrou uma passagem de "Os Possessos", um dos romances mais dramáticos do grande escritor russo.

Felizmente também houve bons momentos nos últimos dias. Ontem almocei com um grupo de tradutores voluntários ao Fórum Social Mundial. O ambiente era muitíssimo agradável: uma casa em Santa Teresa, nas encostas da Floresta da Tijuca, com direito a macacos na varanda. Ótima comida e ótima companhia, o papo foi sobre o que faremos em Porto Alegre no próximo mês.

À noite jantei com uma amiga com quem planejo um pequeno livro sobre política externa americana (basicamente, uma fusão de nossas teses de mestrado), começamos a discutir os detalhes do projeto e as mudanças que teremos que fazer para nos adequarmos às exigências da editora.

Eu no Rio (ou "Being in Rio", sendo brasileiro)

Uma desculpa se faz necessaria para aqueles que haviam se acostumado aos meus posts frequentes aqui nos Conspiradores -- descobri que, enquanto estou no Rio desfrutando as minhas merecidas ferias, checar e-mails acabou se tornando uma parte inseparavel do (argh...) trabalho. Portanto, estou tentando me manter afastado dos computadores por algum tempo, o que estah definitivamente me fazendo bem.

No mais, ainda estou passando por estranhezas. Minha temporada na Barra da Tijuca estah me fazendo repensar o que significam os conceitos de "neo-colonialismo", "subordinacao cultural" e "macaquice", nao necessariamente nesta ordem. Ontem mesmo, enquanto passava na frente de uma academia da regiao, li na fachada: "get your flying skills" na frente de uma foto de "climbers". Como isso ficava logo depois do "Barra Life Medical Center" e do "Downtown", achei que fazia sentido. No entanto, ainda nao consegui entender o sentido da Lady Liberty no "New York City Center". De repente, ela estah representando o livre-mercado, conceito perfeitamente natural para as "auto dealerships" da regiao, por exemplo. Jah achando que nao tinha saido exatamente do pais onde estava, me arrependi de nao ter trazido mais dolares. Mas no momento em que parei no sinal, percebi que os nossos "city dwellers" ou "homeless" sao assaz jovens, quase "teens". Mas isso eh soh um pequeno detalhe, nao eh mesmo?

Para nao dizerem que eu sou um chato completo, tenho a dizer que os dias de sol no Rio sao inigualaveis, lindos e maravilhosos. Tenho vontade de nao fazer nada enquanto penso que, na cidade onde moro no pais do norte, a temperatura atual eh de -2 graus Celsius. Como dizem os habitantes da Barra, "Ainda bem que estou no awesome Rio, com excellent weather, bons e velhos friends, me divertindo lots and lots!"

Mais um dia de multi-culturalismo na Cidade Maravilhosa!

quinta-feira, dezembro 23, 2004

De Cole Porter à Pré-História

Primeiros dias de férias, com muitas coisas para fazer, vários pequenos problemas que estavam para resolver por falta de tempo. Isso inclui compras de Natal (alô, meninas, para mim é obrigação, não prazer) mas também programas culturais.

Aproveitei para assistir a "De-Lovely - vida e amores de Cole Porter", que foi muito malhado pela crítica, a meu ver injustamente. A idéia do filme é ser um musical que conta a vida do grande compositor americano a partir de suas canções - que são tão bonitas que compensam qualquer coisa. Além disso, Kevin Kline está bem legal no papel de Cole e Ashley Judd impressiona pelo charme e pela beleza, ainda que a gente saiba que na vida real a esposa do compositor era bem mais velha do que ele.

Outro bônus do filme é que as canções são interpretadas por cantores contemporâneos, como Alanis Morrissete, Robbie Williams, Elvis Costello, Sheryl Crow, Natalie Cole e Diana Krall. Faltou o Bono, do U2, que gravou uma ótima versão de "Night and Day" e de repente Norah Jones podia ter participado também.

Fui conferir também algumas das exposições de arte pelo Rio de Janeiro. A coleção Roberto Marinho, no Paço Imperial, vale a visita com belas telas de Portinari, Di Cavalcanti, Pancetti e - o que achei mais interessante - quadros raros de Roberto Rodrigues, desenhista e pintor irmão de Nelson Rodrigues que morreu assassinado com apenas 23 anos (foi um crime trágico, a mulher que o matou procurava pelo Rodrigues pai, que a havia caluniado no jornal da família). Nelson dizia que mano Roberto era o único gênio que ele havia conhecido. As pinturas impressionam, com certeza ele teria se tornado um grande artista se tivesse vivido mais.


Fechando o ciclo, fui visitar a exposição "Antes - Histórias da Pré-História", focada em descobertas arqueológicas feitas no Brasil e que está no CCBB. Ela me foi recomendada por uma amiga e fiquei espantado por não ter lido nada na imprensa. É mais um daqueles espetáculos multimídias do melhor centro cultural da cidade. Tem de esqueletos de preguiças gigantes à reprodução de sambaquis (grutas pré-históricas feitas de pedras e ossos), passando por um incrível trabalho de artesanato e cerâmica. O que mais gostei foi uma animação de pinturas rupestres. Os primórdios do cinema já estavam lá, há milhares de anos.

Essa exposição é a segunda numa série do CCBB sobre as matrizes da cultura brasileira (a primeira foi dedicada à arte africana). Isso me faz pensar numa idéia do crítico de arte Mário Pedrosa, do Brasil construir um Museu das Origens. Penso nisso desde a Mostra do Redescobrimento, é pena que o PT não leve o projeto adiante -Pedrosa foi o filiado número 1 do partido.

Um pequeno detalhe. Quando visitei "Antes", havia um grupo de meninos e meninas vendedores de balas fazendo o mesmo. Eles estavam sozinhos, deixaram disciplinadamente seus produtos e sacolas no guarda volumes e passearam fascinados pelo CCBB, deslumbrados com as imagens e os sons da exposição. Os outros visitantes foram solidários e iam dando dicas do que havia de melhor para ver. Não é sempre, mas às vezes bate uma bela esperança de que um dia este lugar vai ser um bom país.

terça-feira, dezembro 21, 2004

Bizarre Love Triangle

Ontem fui levar meu carro na oficina do Sr. Jabá, respeitável estabelecimento em Santa Teresa, para que ele fosse reparado dos três arrombamentos e dois ataques de vândalos que sofreu nos últimos nove meses. Quando comentei com o Sr. Jabá que minha tia elogiou o serviço de lanternagem dele, imediatamente me perguntou: "E o seu tio? Já saiu da UTI?". Respondi que sim, estava tudo bem, e só não mencionei a serenata porque divulgar a roupa suja da família vai contra meus princípios éticos e meu caráter discreto e sereno.

Ser sobrinho de uma celebridade local tem dessas coisas. Quanto às perguntas que muitos de vocês tem me feito a respeito dos resultados da serenata, lembro a todos que na minha família as respostas nunca são simples. Tentarei esclarecer a situação.

Num primeiro momento, sim, o Guerreiro do Amor foi bem-sucedido. Tio Ricky voltou em grande estilo para Santa Teresa, embora tenha levado uma bronca da Senhora Minha Mãe por expor a intimidade de seu relacionamento nos alto-falantes. Ele se limitou a rir.

Mas no fim de semana vim a saber que minha tia irá passar o ano novo na casa de campo que seu ex-marido tem numa estância hidromineral de Minas Gerais. Acredito que está em curso um tipo de arranjo de revezamento segunda/quarta/sexta e terça/quinta, mas permanece a dúvida cruel: e o domingo? Pertence a Deus? Será o dia do descanso?

Posso apenas dizer, como um personagem de Ettore Scola em "Concorrência Desleal": "Tenho dois tios tão diferentes que nem parece que são tios do mesmo sobrinho."

sábado, dezembro 18, 2004

Relatório de Festa

De: Presidente da organização
Para: Lista Geral dos Funcionários

Prezados colegas,

em relação à festa de confraternização anual de nossa instituição, realizada na noite de ontem, gostaria de prestar os seguintes esclarecimentos:

1- A idosa cantora, de dotes musicais discutíveis, não possui nenhum tipo de relacionamento afetivo-sexual com os membros mais avançados em anos de nossa diretoria, apesar das insinuações maldosas de alguns colegas.

2-Eu ter ganhado no amigo oculto um CD cuja primeira canção começa com "vou entrar na cidade sozinho e tomar conta de tudo" não será recebido como uma crítica a meus métodos de gestão.

3-A senhora de vestido preto que circulava junto à mesa de comes e bebes recolhendo copos e pratos quando as pessoas se distraíam não era um fantasma, mas sim uma funcionária do clube onde realizamos a festa. As ameaças a sua integridade física foram recebidas com manifesto desagravo por parte daquela instituição.

4-O fato de um dos nossos mais respeitados parceiros ter um toque de celular ridículo não deveria transformá-lo em objeto de piadas de gosto duvidoso.

5-A frase "os alemães são portugueses que aprenderam álgebra" foi extremamente ofensiva a nossos financiadores daquele país, de onde aliás vem o salário de vários de vocês.

6-Nosso plano de educação continuada, recém-implantado, não dá direito a funcionários que completaram o doutorado de beijar colegas casadas e roubar as bolas de encher da decoração. As mesmas restrições se aplicam a colegas com outros títulos acadêmicos, como mestres e especialistas.

7-Só porque a filha de nossa faxineira foi mulata de Sargentelli, isso não significa que seu decote tomara-que-caia deva ser fotografado de modo exaustivo, em particular com a máquina da empresa.

8-A propósito, seria de bom tom que o funcionário que fotografou a festa afirmando que "isso lhe faria muito bem na carreira" (frase que se presta a interpretações ambíguas) apagasse as imagens, para o bem de reputações pessoais e a estabilidade de certas famílias.

9-O grupo de funcionários localizados junto à porta, que falava constantemente em "tomada de poder revolucionário da comissão de festas" estão convidados a repensarem suas opções políticas ou ter uma conversa com o departamento de pessoal.

10-A mesma decisão se aplica quanto aos propósitos expressos por essas pessoas de fundar um jornal satírico para retratar o cotidiano de nossa organização. Aliás, alguém pode me explicar o que diabos é um blog? É como um vírus de computador?

Sem mais, desejo a todos e a todas um feliz natal e um ótimo ano novo. Nos revemos daqui a duas semanas, quando se encerrar nosso recesso anual.

sexta-feira, dezembro 17, 2004

A Ditadura de Gaspari

Um dos livros que estavam na minha lista de leitura brasileira era o quarto volume da serie escrita por Elio Gaspari sobre a Ditadura. Acabei de ler o ultimo (o que mais me interessava por razoes profissionais) e acho que depois de quatro livros posso fazer alguns comentarios preliminares a respeito.

(1) Os livros sao todos maravilhosamente escritos. (Para os amigos jornalistas que leem este blog: voces escrevem infinitamente melhor do que Cientistas Sociais em geral. Isto eh fato.) Gaspari nao soh tem um poder de sintese e narrativa impressionantes, mas tambem tem experiencia confrontando diferentes fontes e sempre apresentando criticamente versoes diferentes dos mesmos episodios. Pelo menos, parece ser uma aula de jornalismo investigativo para todos que acham que isso nao eh importante.

(2) Gaspari teve acesso aos principais arquivos do periodo. Para o quarto livro, ele conta principalmente com o arquivo de Heitor Ferreira (secretario do Geisel) e do Golbery. Fantasticas fontes historicas. Entretanto, acho Gaspari timidamente critico com relacao a essas fontes em especial. Como a narrativa eh centrada na triade Geisel-Heitor-Golbery, eh compreensivel que eles sejam mais "poupados". Mas ainda assim, acho que o livro ganharia mais se essas fontes nao fossem apresentadas como palavra final.

(3) A tese da anarquia da "tigrada" vs. a hierarquia militar eh muito interessante e tendo a concordar com ela. A tal dialetica da tigrada parece acertar na explicacao, mas geralmente sou implicante para argumentos fechados. Qualquer um que leia o livro, eh levado a acreditar que os momentos de confrontacao entre a "tigrada" e a hierarquia aconteceram extamente da maneira como Gaspari os descreve e os interpreta. Apesar disso ser a norma em qualquer estudo historico, preferia que outros trabalhos fossem publicados usando as fontes que Gaspari possui para uma visao diferente. Isso soh vai enriquecer o trabalho de Gaspari.

(4) A analise politica eh impecavel. Poucos livros sao tao ilustrativos de como funciona um periodo de transicao politica com as incertezas, idas e vindas, e os calculos dos atores. Acho que Gaspari dah uma aula de Ciencia Politica para quem quiser se aprofundar no tema das transicoes de regime politico.

(5) Por fim, mesmo bobo, vale o comentario: Qualquer livro que me mantenha acordado ateh altas horas lendo por prazer, merece toda minha admiracao.

quarta-feira, dezembro 15, 2004

A Serenata do Tio Ricky

LOCUTOR: Boa tarde, ouvintes da Rádio Conspiradores. Apresentamos a vocês mais um capítulo da novela que emociona multidões, “Segredos de Família”. No capítulo anterior, acompanhamos uma batalha de vida e morte numa UTI, que culminou com o fim de um grande amor. Terá sido para sempre? No capítulo desta quarta-feira, “A Serenata do Tio Ricky”, prosseguimos com este dramático folhetim.

NARRADOR: Era uma noite tranqüila em Santa Teresa. Até que de repente...

SONOPLASTIA – Carro derrapando e freando bruscamente.

VIZINHOS – O que será? Deve ser um argentino!

PERSONAL SERENATOR – Olá! Oi de casa? Procuro uma cinqüentona, na flor da idade, bondade e retidão no espírito.

TIA – Sim?

PERSONAL SERENATOR – A senhora recebeu uma homenagem. Uma declaração de amor. Por favor, se aproxime enquanto colocamos a canção no alto-falante. Ela vem com o oferecimento de alguém que lhe quer muito.

SONOPLASTIA – Entra canção no estilo Wando. O trecho publicável da letra diz que “você é minha tentação torturante”.

PERSONAL SERENATOR – E não acabou! Ainda tem mais...

SONOPLASTIA – Explosões.

LORDE – Au! Au! Au! Au!

PERSONAL SERENATOR – Alguém acalme o cachorro, por favor. Os fogos de artifício fazem parte do espetáculo.

DONO DO CACHORRO – Desculpe, é que ele não está acostumado. Mas continue...

PERSONAL SERENATOR – Vamos ouvir agora uma segunda canção, enviada à senhora por seu grande admirador.

SONOPLASTIA – Ritmo de Pagode. A letra: “Você diz que o seu casamento vai mal / e é por isso que você trai / Mas não quero ser seu amante / Pretendo ser algo mais.”

PERSONAL SERENATOR – É isso. Entrego para a senhora um CD com essa programação. Parabéns por ser tão amada.

VIZINHO – Que coisa brega! Ridículo!

VIZINHA – Astolfo, você nunca fez uma serenata para mim!

NARRADOR – Conseguirá a Rua Monte Alegre reencontrar a paz? Será que o tio Ricky obterá o perdão, após essa prova de amor? A venda de CDs de pagode subirá durante o Natal? A resposta para essas perguntas fica para os próximos capítulos da sua novela.

LOCUTOR – Este episódio de “Segredos de Família” é dedicado a Mario Vargas Llosa e a todas as tias da América Latina. Aproveitamos para recomendar na coluna “Blogs Conspiradores”, o site Cadê Teresa?, dedicado à música popular e assinado pelo jornalista Leonardo Lichote. Tenham todos uma boa tarde.

terça-feira, dezembro 14, 2004

Diálogos contra o Racismo


O mote da campanha Posted by Hello


Uma das coisas mais legais que fiz no IBASE neste ano foi ajudar a organizar uma campanha pública contra o racismo. Hoje de manhã lançamos a iniciativa com um belíssimo evento na Firjan. Tivemos a apresentação das peças publicitárias, testemunhos de pessoas que passaram por discriminação racial e até um espetáculo de dança. A ministra da Secretaria de Promoção de Políticas de Igualdade Racial também participou e inclusive deu um depoimento bastante pessoal e interessante.

A experiência de trabalhar na campanha foi rica por várias razões. O racismo é um dos problemas mais sérios deste país e até recentemente era pouco estudado (isso mudou, li trabalhos excelentes sobre o tema). Entrei de cabeça no assunto e me envolvi para valer com esse debate. Não foi só mais um projeto de trabalho.

Outro ponto foi ter acompanhado as várias fases de uma campanha desse tipo, desde as reuniões com publicitários para discutir slogans, cartazes e material de divulgação até a gravação de comerciais para TV. Infelizmente não consegui pegar também a preparação para o lançamento, pois quando fui transferido para a área de relações internacionais ficou impossível continuar no projeto, por conta da agenda de viagens.

A campanha surgiu de uma pesquisa sobre discriminação racial organizada pela Fundação Perseu Abramo, na qual 87% dos entrevistados admitem que há discriminação racial no país, mas apenas 4% da população se considera racista. Daí veio o mote, "Onde você guarda seu racismo?". As respostas foram as mais diversas: na cabeça, no coração, no medo, nas piadas.

Por coincidência, depois de trabalhar na campanha viajei por lugares onde a questão racial é importantíssima, como na África do Sul e os países andinos (nesse caso, em relação aos índios). Escrevi bastante sobre os apartheids de lá, e preparei para a revista do IBASE um artigo sobre o racismo no Brasil, que foi inclusive distribuído para a imprensa no kit de divulgação da campanha - o correspondente da Reuters me pediu para reproduzir alguns trechos no despacho da agência.

segunda-feira, dezembro 13, 2004

Os Sonhadores

Os Sonhadores” é um desses filmes do estilo “ame ou odeie”. Estou no primeiro grupo. A história de sexo, cinema e política ambientada em alguns dias turbulentos na Paris de maio de 1968 é a melhor que Bernardo Bertolucci dirigiu em muitos anos. A trama é simples: um americano tranqüilo, Matthew freqüenta a Cinemateca Francesa e se torna amigo de um casal de gêmeos, Theo e Isabelle. Quando os pais deles viajam, os três se trancam no apartamento da família e passam os dias jogando jogos sexuais e cinematográficos, enquanto a cidade vira de cabeça para baixo com os protestos dos estudantes e operários.

O título original francês, Les Innocents, era mais interessante. A princípio, parece que o ingênuo Matthew é que será iniciado pelos sofisticados e algo cínicos gêmeos franceses – o tema clássico da “corrupção” da América pela Europa, que está presente, por exemplo, em vários dos romances de Henry James. Mas à medida que o filme avança, percebe-se que a realidade é mais complicada e quem é inocente (ou sonhador) é uma questão para debate.

O cinema é uma parte essencial da trama e os personagens se referem o tempo todo a filmes famosos, inclusive jogando um tipo de mímica que tem papel importante na trama. Apesar de cinéfilo, minhas referências culturais são bem distantes das mencionadas no filme, mas a paixão pela tela de prata é a mesma, de modo que me diverti bastante. Dá para imaginar cenas parecidas com os filmes que gosto.

E ainda há, claro, a política. Você pode viver uma vida fechada no próprio prazer, dando as costas para o que acontece na sociedade? Pode mudar o mundo tentando permanecer fora dele? São algumas das questões colocadas pelo filme. As cenas das manifestações e barricadas são excelentes, em particular uma seqüência esplêndida em que “a rua entra na casa” e os protagonistas se envolvem nos protestos ao som de “Je ne regrette rien” (Não me arrependo de nada). Canção, aliás, que não páro de ouvir, na voz de Cássia Eller. Avec mes souvenirs, j´allume le feu...



sábado, dezembro 11, 2004

Finalmente o Brasil!! (e a reuniao dos Conspiradores)

Depois de uma nevasca que me deixou preso em Washington durante um dia inteiro e de perder meu voo de conexao, chego finalmente na Cidade Maravilhosa onde, imediatamente, ao sair do aviao, sinto o bafo quente da cidade na minha cara. Como eh bom estar de volta!

Aos poucos comeco a me readaptar a vida carioca. Comprovo o que o Mauricio jah tinha me informado: a Suzana Vieira ganhou um novo papel onde interpreta a si mesma com um sotaque ridiculo! Essas pequenas estabilidades da vida fazem bem para minha sanidade mental.

Os Conspiradores finalmente se reuniram rapidamente ontem para um almoco no Centro, no qual tive o prazer de comer arroz, feijao e bife a milanesa!! Meu colega conspirador continua afiado nos seus comentarios e eh um prazer reve-lo.

O blog completou ontem seis meses de existencia. Descobri para meu total espanto que ha varias pessoas que leem isso aqui (!!) mas nunca aparecem porque nao querem deixar comentarios. E que levam a serio! De qualquer maneira, agredecemos pelas visitas e por todo o apoio. Se a sorte permitir, acabo cruzando com alguem da cyberesfera por ahi.

Minha ideia para os proximos posts eh a seguinte: enquanto estiver no Rio, serei uma especie de turista acidental encontra Malinowski -- o turismo bate de frente com a antropologia dos nativos. Mas o melhor de tudo eh que farei os dois na minha propria cidade. (Aviso: para os amigos e colegas que fazem pouco de meu passado antropologico, aqui vai apenas um comentario -- "sem comentarios").

sexta-feira, dezembro 10, 2004

Tia Júlia e o Escrevinhador

Lima, anos 50. Numa sociedade provinciana, o jovem Mario, de 18 anos, sonha ser escritor rabiscando contos frustrados nos moldes dos autores europeus que admira. Enquanto isso ganha uns trocados como jornalista e se arrasta pela faculdade de Direito. Seu pequeno mundo sofre uma reviravolta quando chegam duas pessoas da Bolívia. Júlia, uma balzaquiana recém-divorciada, irmã da mulher de seu tio, e Pedro Camacho, um escritor de novelas que se torna a estrela da rádio onde Mario trabalha. Ao se apaixonar pela primeira e se tornar amigo do segundo, ele aprenderá que a literatura é inseparável da vida.

Mario constata que entre todos os pretensos literatos que conhece o único a realmente viver da literatura é Camacho, que prepara folhetins com tramas rocambolescas envolvendo incestos, obsessões, paixões mirabolantes. Os heróis são sempre "cinqüentões, na flor da idade, com bondade e retidão no espírito", como o próprio Camacho gosta de imaginar a si mesmo. E os vilões são argentinos, com conseqüências engraçadíssimas, de protestos diplomáticos a pancadarias nas ruas (o novelista comenta orgulhoso que no passado chegou a provocar movimentação de tropas nas fronteiras).

Vargas Llosa tece o enredo com muita ironia, intercalando os capítulos de seu romance com tia Júlia com os folhetins de Camacho - como quem pisca o olho para o leitor e diz que literatura é literatura e é bobagem fazer distinções entre gêneros supostamente cultos e nobres e outros popularescos e vulgares. As duas tramas esquentam quando o novelista começa a enlouquecer e misturar os enredos e personagens dos programas que escreve e, ao mesmo tempo, a família de Mario descobre o caso dele com a tia e inicia uma caça aos apaixonados.

Para mim, Vargas Llosa é uma admiração literária tardia. Meu encontro com seus romances excepcionais se deu quase por acaso, quando comecei "Conversa na Catedral" numa longa viagem de ônibus entre Santiago de Compostella e Barcelona. Depois disso, vieram em seqüência "O Paraíso na Outra Esquina", "Pantaléon e as Visitadoras", "Lituma nos Andes" e agora este "Tia Júlia e o Escrevinhador", que foi meu preferido. Não é todo dia que encontro alguém com tias mais excêntricas do que as minhas. A propósito, o romance é autobiográfico. Mario casou com a tia Júlia foi feliz. Não para sempre, mas por 8 anos. Depois casou de novo - com uma prima (é sério!).

terça-feira, dezembro 07, 2004

Vida de (dono) de Cachorro


Ele é maior do que a foto indica Posted by Hello

Há tempos quero escrever sobre o Lorde - este simpático vira-lata da foto acima - e como nesta semana faz 4 meses que ele está conosco, é um momento tão bom quanto qualquer outro.

A partir do momento que nos tornamos donos de um cachorro, entramos para um tipo de maçonaria, uma irmandade que se reconhece nas caminhadas com nossos animais de estimação. Como em toda sociedade secreta, temos nossos nomes de código. Meu vizinho, por exemplo, é "pai do Baby", em homenagem a seu pastor alemão. Eu costumo ser saudado com um "Veja, o Lorde saiu para passear" - este ser humano que vos escreve é um mero apêndice.

As pessoas tem uma enorme necessidade de humanizar os cachorros, em geral falando com eles como se fossem crianças pequenas, mesmo que tenham a idade de veneráveis anciões. No caso do Lorde, a questão mais imediata foi enquadrá-lo na estrutura familiar. Minha tia só o chama de "sobrinho" e meu pai se dirige a ele apontando para mim com um "vai lá brincar com seu irmão". Eu diria que ele se parece mais com um filho, que faz questão de atenção total.

É muito bom ter um cachorro novamente. Saio sempre para caminhar com ele por Santa Teresa, a cada vez fazendo um trajeto diferente. Vizinhos que nunca tinham falado comigo agora param para conversar, perguntam como vai o Lorde, se ele está mais comportado, o que tem comido etc. E a contrapartida é verdadeira: passei a reparar nos cachorros de todo mundo e com freqüência paro para brincar com eles.

segunda-feira, dezembro 06, 2004

40 Diretores

Viajo hoje a noite de volta para o Brasil. Vou aproveitar a volta ao calor -- nao soh do clima mas das pessoas. Vou aproveitar para descansar, passear e comer.

Antes de ir, resolvi postar um link interessante com uma lista dos 40 melhores diretores de cinema atualmente, todos eleitos pelos criticos de cinema do jornal ingles "The Guardian". Avisos: (1) nao concordo necessariamente com ela, mas os meus preferidos estao por lah; (2) listas sao SEMPRE parciais e bizarras; e (3) nao entendo porque o Almodovar ficou tao longe dos primeiros lugares. Vejo os amigos no Brasil, de onde vou postar pelo proximo mes.

sábado, dezembro 04, 2004

Derrapadas da Conferência

A sexta-feira, meu último dia desta curta viagem a Brasília foi dedicado integralmente à Conferência do PNUD. Há alguns meses o programa realizou uma pesquisa sobre democracia na América Latina que constatou que mais da metade da população do contintente aceitaria uma ditadura, contanto que o regime fosse bem-sucedido economicamente. O PNUD entrevistou acadêmicos, políticos, jornalistas e líderes sociais para analisar a situação - o centro do debate era se a democracia seria compatível com as gravíssimas desigualdades sociais da América Latina.

Supostamente, a conferência deveria tratar também desse tema. Infelizmente, a programação ficou bastante solta, cada palestrante falou do que quis. Os representantes oficiais do Brasil foram lastimáveis, mas os estrangeiros fizeram excelentes palestras, em especial dois argentinos (Dante Caputo, ex-chanceler de Alfonsín e Chacho Alvares, ex-vice-presidente de De La Rúa) e um português (Antônio Guterres, ex-primeiro-ministro).

Os acadêmicos também decepcionaram. Alain Touraine parecia um velho gagá, balbuciando abstrações teóricas em péssimo espanhol. Até meu mestre Wanderley embarcou num caminho tortuoso, defendendo que democracia nada tem a ver com combater desigualdade econômica. Creio que era verdade no século XIX, como nos EUA ou na Inglaterra, mas deixou de sê-lo há muito tempo, o Estado de Bem-Estar Social do século XX é a maior realização desse compromisso. Depois lhe perguntaram o que ele achava do voto obrigatório e ele se perdeu numa digressão sobre a Nova Zelândia e os zulus (acho que ele quis dizer maoris, os zulus estão na África do Sul).

A honra acadêmica foi salva pelo cientista político Fernando Abrucio (PUC-SP e FGV-SP) que fez uma brilhante exposição sobre federalismo e democracia. Uma aula magnifíca sobre o tema, que deu a todos nós muito sobre o que pensar.

Em suma, o evento ficou muito aquém do que poderia ter sido. Pelo menos fiz contatos importantes para o projeto de pesquisa e uma boa troca de figurinhas. Saí com boas inquietações sobre democracia na América Latina, que espero servirem para orientar leituras futuras.

O Poder Emburrece

Nossas aventuras no círculo do poder de Brasília estavam apenas começando. Na quinta fomos para um hotel perto do Palácio do Alvorada, onde aconteceu a conferência do PNUD sobre democracia. A programação foi alterada e Lula abriu o evento, em vez de encerrá-lo. Leu um discurso apenas razoável, cheio de chavões. O presidente tropeçou nas palavras e engoliu sílabas. Depois falou um pouco de improviso, de maneira mais espontânea, e a comunicação melhorou. Destacou a importância da integração da América do Sul, ponto que foi desenvolvido em seguida por seu assessor de relações internacionais.

Ao longo do dia falaram dois ministros, num nível próximo ao da indigência mental. Um deles disse que a formação colonial da América Latina havia sido boa, porque instalou o amor pela liberdade, como se evidenciava na Copa Libertadores da América (o Supremo deveria proibir metáforas futebolísticas). O ministro encarregado da coordenação com a sociedade civil fez um discurso na linha "Realizações do Governo para Dummies" no qual nos explicou como tudo vai muito bem no país, numa retórica mais ou menos assim: "A política XYZ é importante. É importante a política XYZ. XYZ é uma política importante". Foi constrangedor para uma platéia de acadêmicos e ativistas sociais que esperava análises (ou prestação de contas) mais elaboradas.

De onde menos se espera, daí é que não sai nada mesmo, já observou o sábio barão de Itararé. O Poder pode ou não corromper, mas em geral emburrece.

Na fila do almoço, uma cientista política americana começou a discutir com a equipe do meu projeto por conta do lugar. Vendo o nome no crachá, a cumprimentei: "Professora, gosto muito do seu livro sobre direitos humanos na política internacional, por favor, ocupe meu lugar". Ela perguntou quem eu era e ao saber do meu trabalho no IBASE, me convidou para almoçar. Pouco depois se juntaram a nós na mesa meu mestre Wanderley Guilherme e o assessor internacional do presidente. A conversa foi boa e tratou de política brasileira, eleições nos EUA, casos curiosos da vida acadêmica e por aí vai.

À noite, eu deveria ter ido a uma festa na casa do representante da ONU no Brasil. Mas a equipe do projeto se recusou a comparecer, incomodada com o clima oficialista do evento e a formalidade dessas ocasiões. O mundo ONG é bem mais solto. Como não iria sozinho à recepção, fui jantar com amigos de Brasília - ex-alunos que agora trabalham no Congresso ou no Itamaraty. O jantar foi ótimo, é sempre legal reencontrar pessoas de quem a gente gosta e ver que elas estão bem. Fiquei feliz em ver que a turma está se adaptando bem à capital e tocando seus projetos adiante.

"Aqui não há imprevistos!"

Cheguei a Brasília na quarta pela manhã, acompanhado por colegas do IBASE e por um grupo de pesquisadores que trabalha conosco num projeto sobre a participação da sociedade civil no governo Lula. A equipe é formada por pessoas de vários estados e passamos o dia inteiro em nossa reunião semestral, que ocorreu no Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento (PNUD).

À noite, fomos para a Escola Nacional de Administração Pública, onde ficamos hospedados em nossos dias na capital. Chegando lá, um problema: uma das pesquisadoras do grupo não constava da lista que o PNUD enviara à escola e o recepcionista não queria lhe dar um quarto. Já era noite e não havia mais ninguém no escritório do programa.

- Bem, posso conversar com o gerente e ver se arranjamos isso, amanhã o pessoal da ONU entra em contato e resolve a situação - argumentei com o recepcionista.
- O gerente já foi embora.
- O senhor pode telefonar para ele?
- Não tenho o telefone. Mas ele liga para cá, às vezes, de noite.
- Mas como é que vocês fazem quando acontece um imprevisto e precisam entrar em contato com ele?
- Senhor, aqui não há imprevistos - me informou o recepcionista, no tom de quem recita o regulamento da FUNAI a um nativo.

E é uma escola de administração pública!

quarta-feira, dezembro 01, 2004

Reforma Politica e a Era Vargas

Dois artigos muito interessantes me chamaram a atencao na Revista Ciencia Hoje deste mes (novembro). [Explicacao: eu recebo a revista Ciencia Hoje como uma cortesia/convenio da SBPC com a Capes e acho a revista extremamente interessante].

Um deles, escrito por Jairo Nicolau, aponta para a importancia e as dificuldades de implementar uma reforma politica no Brasil (PDF). Jairo argumenta que dois topicos devem ter maxima prioridade na reforma politica: fidelidade partidaria e financiamento das campanhas eleitorais. Concordo e acho que fortalecer os partidos eh uma maneira de controlar a corrupcao e aumentar as ligacoes entre o eleitorado e seus representantes.

O outro artigo, escrito pelo mestre Jose Murilo de Carvalho, propoe uma chave de leitura da Era Vargas baseada na tensao entre liberdade e igualdade. Para ele, infelizmente a nossa historia eh marcada por essa tensao -- que nao precisa existir necessariamente -- mas acabamos sempre voltando a ela.
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