Rumo a uma teoria latino-americana de RIs?
Stanley Hoffmann escreveu que as relações internacionais são “uma ciência social americana”, devido à predominância das universidades dos EUA nos estudos sobre o tema. A frase é muito repetida, mas se olharmos com calma, veremos que há diversas contribuições valiosas às RIs vindas do Reino Unido, França, Canadá e dos países escandinavos, além do papel decisivo que os imigrantes da Europa Central e Oriental tiveram nas universidades americanas e até como altos funcionários públicos.
E qual o lugar da América Latina nessa história? Existem teorias latino-americanas sobre RIs, ou abordagens próprias ao continente para o estudo da política internacional? Nunca vi discussões a respeito no Brasil, mas acompanhei debates nessa linha na Argentina. Um de meus professores, Roberto Russell, inclusive organizou uma pesquisa em vários países buscando responder exatamente a essa pergunta.
A pesquisa identificou quatro correntes principais de análise das RIs na América Latina:
1) Enfoques jurídicos e idealistas;
2) Abordagens geopolíticas; em especial entre os militares
3) Estudos de natureza econômica, como os da CEPAL e da teoria da dependência;
4) Autores que adaptaram os pressupostos do realismo à realidade latino-americana.
Além dos quatro grupos, os autores também mencionaram estudos mais recentes, que aplicam à América Latina as novidades teóricas que começaram nos EUA após os anos 70, como estudos culturalistas e construtivistas.
De todas as interpretações, a que mais me interessa é aquela que toma como ponto principal a questão do desenvolvimento. Autores dos EUA e da Europa falam sobretudo dos problemas da guerra e da paz, mas em nosso continente a agenda do crescimento econômico e da inclusão social é prioritária e pelo menos no caso brasileiro é o eixo principal da formulação da política externa.
Esse pensamento não chegou a se constituir numa teoria de RIs, mas os esforços da CEPAL e dos teóricos da dependência passaram perto. Embora seu foco fosse a sociologia do (sub)desenvolvimento, suas interpretações discutem a participação da América Latina nas relações internacionais, em particular a inserção subordinada na economia global e as terríveis conseqüências dessa formação histórica. Encontrei uma rica sistematização dessa abordagem no livro América Latina en el Mundo: el pensamiento latinoamericano y la teoría de relaciones internacionales, do sociólogo argentino Raul Bernal Meza.
Outro ponto é a forte presença de um pensamento político latino-americano que expressa questões semelhantes, ao mesmo tempo, em vários países. A busca da integração regional é um tema constante, bem como o desenvolvimento econômico e social. Aí podemos pensar em exemplos como o movimento da reforma universitária, a valorização cultural de índios e negros, a teologia da libertação. Encontrei uma valiosa fonte de informações no livro El Pensamiento Latinoamericano en el Siglo XX: entre la modernidad y la identidad, do filósofo chileno Eduardo Deves.
Em suma, começo o ano empolgado com as leituras amplas sobre a América Latinha. Tenho para mim que, sem descuidar do que se produz atualmente nas universidades dos EUA e da Europa, essa herança continental me será bem mais rica e produtiva.
E qual o lugar da América Latina nessa história? Existem teorias latino-americanas sobre RIs, ou abordagens próprias ao continente para o estudo da política internacional? Nunca vi discussões a respeito no Brasil, mas acompanhei debates nessa linha na Argentina. Um de meus professores, Roberto Russell, inclusive organizou uma pesquisa em vários países buscando responder exatamente a essa pergunta.
A pesquisa identificou quatro correntes principais de análise das RIs na América Latina:
1) Enfoques jurídicos e idealistas;
2) Abordagens geopolíticas; em especial entre os militares
3) Estudos de natureza econômica, como os da CEPAL e da teoria da dependência;
4) Autores que adaptaram os pressupostos do realismo à realidade latino-americana.
Além dos quatro grupos, os autores também mencionaram estudos mais recentes, que aplicam à América Latina as novidades teóricas que começaram nos EUA após os anos 70, como estudos culturalistas e construtivistas.
De todas as interpretações, a que mais me interessa é aquela que toma como ponto principal a questão do desenvolvimento. Autores dos EUA e da Europa falam sobretudo dos problemas da guerra e da paz, mas em nosso continente a agenda do crescimento econômico e da inclusão social é prioritária e pelo menos no caso brasileiro é o eixo principal da formulação da política externa.
Esse pensamento não chegou a se constituir numa teoria de RIs, mas os esforços da CEPAL e dos teóricos da dependência passaram perto. Embora seu foco fosse a sociologia do (sub)desenvolvimento, suas interpretações discutem a participação da América Latina nas relações internacionais, em particular a inserção subordinada na economia global e as terríveis conseqüências dessa formação histórica. Encontrei uma rica sistematização dessa abordagem no livro América Latina en el Mundo: el pensamiento latinoamericano y la teoría de relaciones internacionales, do sociólogo argentino Raul Bernal Meza.
Outro ponto é a forte presença de um pensamento político latino-americano que expressa questões semelhantes, ao mesmo tempo, em vários países. A busca da integração regional é um tema constante, bem como o desenvolvimento econômico e social. Aí podemos pensar em exemplos como o movimento da reforma universitária, a valorização cultural de índios e negros, a teologia da libertação. Encontrei uma valiosa fonte de informações no livro El Pensamiento Latinoamericano en el Siglo XX: entre la modernidad y la identidad, do filósofo chileno Eduardo Deves.
Em suma, começo o ano empolgado com as leituras amplas sobre a América Latinha. Tenho para mim que, sem descuidar do que se produz atualmente nas universidades dos EUA e da Europa, essa herança continental me será bem mais rica e produtiva.
3 Comentarios:
Dom Maurício, vou para Buenos Aires no carnaval com a namorada. Estarás por aí?
Salve, meu caro.
Me passe os dias precisos por email. Devo fazer uma viagem a Patagonia em fevereiro, mas eh muito provavel que a gente se esbarre por aqui no carnaval.
Abracao
Devo chegar na noite do dia 17 e voltar dia 21.
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