Verbitsky
Uma das novidades mais estranhas do governo Kirchner é ver o jornalista Horácio Verbitsky moderando sua veia crítica e se alinhando ao oficialismo. A ediçäo argentina da Newsweek trouxe nesta semana uma boa entrevista com o veterano repórter, que ganhou destaque escrevendo livros sobre temas explosivos como torturas e assassinatos na ditadura militar (El Vuelo), as ligaçöes da Igreja Católica com o regime autoritário (El Silencio, Doble Juego) e a corrupÇao desenfreada no Menemismo (Robo para la Corona). Verbitsky também conquistou respeito como presidente do Centro de Estudos Legais e Sociais (CELS), uma das ONGs que mais contribuíram para revelar as violaçöes de direitos humanos no regime militar.
Kirchner foi eleito presidente com apenas 22% dos votos, basicamente por sua atuaçäo anti-Menem e porque era um político de província, da remota Santa Cruz, sem envolvimento com as máfias e escändalos da elite nacional. Näo tinha um programa definido e precisava de apoio. Acabou se tornando o principal defensor da agenda de reparaçäo dos crimes da ditadura. É impressionante como essa questäo ganhou força em seu governo. Um marciano que chegasse à Argentina pensaria que o regime autoritário acabou há poucas semanas, apesar do fato ter ocorrido há mais de 20 anos.
A Newsweek chama Verbitsky de "o jornalista mais influente junto ao governo Kirchner" e lhe dá o crédito por ter inspirado várias medidas adotadas pelo presidente. Kirchner foi militante da Tendëncia, um setor de esquerda da juventude peronista nos já remotos anos 60 e 70. Mas nunca se envolveu com a luta armada. Fotos da ditadura inclusive o mostram em palanques ao lado de comandantes militares, embora no breve momento de euforia nacionalista pela ocupaçäo das Malvinas.
Talvez o maior triunfo politico de Kirchner tenha sido a exitosa renegociacao da divida externa. Mas persistem problemas economicos. A Argentina tem crescido a taxas altíssimas desde 2002, ou antes está recuperando os 20% do PIB que perdeu entre 1998 e 2001. Contudo, esse crescimento se dá de maneira desigual, concentrando renda. O pais hoje tem um fosso entre ricos e pobres quase täo ruim quanto o do Brasil, com uma significativa parcela de 10% da populaçäo vivendo na indigëncia.
A resposta do governo tem sido políticas sociais de assistëncia, como o Chefes e Chefas de Família. É semelhante ao nosso Bolsa Família, só que paga valores mais altos. Também há uma política (falha) de congelamento de preços, que näo tem conseguido deter a inflaçäo e provocou desabastecimento em algumas regiöes. A relaçäo com os movimentos sociais é o que descrevi no post sobre os piqueteros.
1 Comentarios:
Salve, meu caro.
Näo é tanta coincidëncia, o Russell é referëncia obrigatória para quem quer estudar RI na Argentina. Pode deixar que compro o livro e levo para vocë. Devo passar as festas de fim de ano no Brasil, só espero o site da Gol voltar ao ar para comprar a passagem...
Abraços
Postar um comentário
<< Home