Um Bom Destino
No fim de semana assisti a "El Buen Destino", mais recente lançamento do cinema argentino, que marca a estréia como diretora da atriz Leonor Benedetto. A trama aborda um grupo de amigos que se reúne no bar-título, numa cidadezinha de província. É um filme revelador de vários problemas sociais do país, talvez mais por seus defeitos do que pelas qualidades.
O elenco é encabeçado por Federico Luppi (foto), um bom ator que faz quase sempre o mesmo papel: o do intelectual idealista, meio derrotado pela vida, mas que mantém a pureza de seus sonhos. Neste filme ele segue o molde, na pele de um professor de história que enfrenta agressöes por um grupo de alunos de alunos adolescentes e arruaceiros, com ideologias racistas e extremistas.
O personagem de Luppi se encontra com amigos que sofrem de uma série de problemas, a maioria relacionado ao desemprego e/ou à queda brutal de seu padräo de vida, em funçäo da crise econömica. As situaçöes refletem os problemas clássicos: alcoolismo, dificuldades na relaçäo com a esposa, o lamento pelos tempos em que tudo era melhor etc.
O roteiro peca pelo sentimentalismo e pelo esquematismo. Quer a todo custo que o espectador se identifique com os amigos idelistas e puros, rejeitando a violëncia dos jovens que säo descritos como conformistas e "sobre-adaptados". Näo säo. Seu racismo e seu comportamento anti-social exprimem um descontentamento profundo com o mundo, que se destaca diante dos clichës do discurso do professor, que se queixa do humanismo perdido para o capitalismo selvagem. OK, e o que fazer depois?
O tema do "declinismo" é muito forte tanto na arte quanto nas ciëncias sociais argentinas, um questionamento constante sobre as causas da decadëncia sócio-econömica do país. Minha experiëncia por aqui inclusive me convenceu da importäncia de dar mais espaço a essa questäo em minha tese, porque é um elemento importante para explicar as transformaçöes políticas que quero analisar.
As tentativas de entender o declinismo resultaram em percepçöes importantes sobre a história argentina, em particular no que diz respeito a apontar as fragilidades do modelo de desenvolvimento nacional. Mas também signfica, em seus piores momentos, uma atitude derrotista diante da vida. Me impressiona a falta de confiança nas potencialidades deste país täo rico, com recursos naturais e capacidades humanas elevadíssimas. Mal comparando, é como um homem que perdeu um grande amor e precisa aprender a sorrir novamente para as mulheres bonitas que passam pela rua, em vez de chorar por uma que näo voltará nunca.
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