sábado, novembro 18, 2006

Isabel Perón


Por estes dias li uma biografia de Isabel Perón, terceira esposa do general e presidenta da Argentina nos difícilimos dias de 1974 a 1976. Sabia pouco sobre ela: era dançarina de cabaré quando conheceu Perón, seu governo foi um desastre e culminou no golpe militar que instaurou a pior ditadura da América Latina. O livro confirma essas impressöes, mas a realidade é mais interesante, diversificada e contraditória.

Isabel era o nome artístico - e depois político – de Maria Estela Martinez. A pesar do ofício, ela era uma moça de classe média tradicional, católica e prendada, que sabia tocar piano e falar francës. Mas também tinha um espírito rebelde e inquieto que a levou a romper com a familia e tentar uma mal-sucedida carreira artística. Conheceu Perón num cabaré, quando ele estava exilado no Panamá, já viúvo de Evita.

O idoso ex-presidente se encantou com a mulher bonita, 36 anos mais jovem, e totalmente dedicada a ele. Ela o acompanhou no exílio na Venezuela e finalmente da Espanha, onde formaram uma corte um tanto bizarra, mistura de sindicalistas peronistas, franquistas e sob a influëncia de José Lopez Rega, um policial dado a práticas místicas que virou secretário e faz tudo do casal, obtendo grande controle sobre Isabel.

Perón a usou como mensageira política na América Latina e quando recebeu permissäo para voltar ao país, fez com que ela fosse nomeada sua vice-presidente. O velho caudillo, sempre desconfiado, nao queria rivais ainda mais num momento de saúde frágil. Perón morreu meses depois de asumir a presidencia e Isabel recebeu um fardo muito mais pesado do que estava preparada. Crise econömica, violencia política correndo solta entre militares, guerrilhas, sindicalistas e o peronismo dividido e assustado com o “bruxo” Lopez Rega. Só podia acabar mal.

A autora da biografia, a historiadora Maria Saenz Quesada, analisa muito bem o papel público de Isabel. Sem o carisma de Evita, näo procurou competir com ela, mas tentou se apropriar de sua imagem e usar o comportamento de uma distinta senhora de classe média argentina. A ditadura a manteve presa por cinco anos e depois disso ela teve pouca participaçäo na vida política do país. Ainda vive, na Espanha, onde joga cartas com as velhas damas do franquismo. Um tanto fantasmagórico.

Saenz Quesada diz que o período da ditadura continua vivo na memoria, mas que Isabel foi esquecida. Certíssimo, até no show de tango que vi ontem se falava dos militares. A terceira esposa de Perón, contudo, virou um trauma nacional pesado até para este país täo acostumado a catástrofes.

***

Agora à tarde devo fazer uma pequena viagem de trem e navio para a cidade de Tigre e pelo delta do rio que a banha. Amanhä a idéia é passear em Buenos Aires por La Boca, Puerto Madero e Palermo, como despedida de uma amiga brasileira que parte em alguns dias.

2 Comentarios:

Blogger Maurício Santoro said... Weblog Commenting and Trackback by HaloScan.com

Salve, meu caro.

Tem sempre alguém olhando atrás da cortina, o diabo é esperar o tempo necessário até saírem os relatos dos bastidores...

Abraços

novembro 20, 2006 12:29 PM  
Anonymous Anônimo said... Weblog Commenting and Trackback by HaloScan.com

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