Yo Presidente
Ontem assisti ao documentário "Yo Presidente" no qual däo entrevistas os chefes de Estado que governaram a Argentina desde que o país voltou a ser uma democracia, período turbulento que incluiu dois atentados terroristas contra associaçöes judaicas, hiperinflaçäo, saques, corrupçäo generalizada, a gigantesca crise de 2001 e meia dúzia de governos interrompidos. Só Menem conseguiu cumprir seus dois mandatos até o fim.
O tom do filme é irönico e bem-humorado, em alguns momentos lembra Michael Moore, mas sem tanta contundëncia.
Diante de um quadro täo turbulento, o que impressiona é a banalidade dos presidentes, embora eu excetue Alfonsin (1983-1989) que tomou decisöes difíceis e importantes, como impulsionar o processo de integraçäo com o Brasil. Ainda assim, seu depoimento no filme é pouco mais do que dizer que seu governo foi ótimo, como qualquer chefe de almoxarifado que defende sua gestäo na hora do café.
Ainda assim, há um contraste marcante entre o austero apartamento de classe média em que Alfonsín recebe a equipe e a mansäo campestre cinematográfica de Menem, vigiada por um bando de capangas armados. Ele parece um cantor de churrascaria aposentado, com uma tintura de cabelo que faria inveja à de Sarney.
De la Rúa, que herdou a batata quente de Menem, aparece como um velhinho simpático mas um tanto confuso - se embaraça ao ser questionado sobre fotos de seu escritório em que aparece Viagra na mesa ("É um ótimo remédio, mas näo o tomo"). Parece um tio bonachäo que assumiu responsabilidades muito além de suas capacidades, cömico se näo fosse trágico - sua decisáo de reprimir as grandes manifestaçöes de dezembro de 2001 resultou em dezenas de mortes.
Da seqüencia de presidentes que o sucederam naqueles dias de crise, merece destaque Eduardo Duhalde, o único que permaneceu por mais de uma semana. Ele havia sido vice-presidente de Menem e compartilha com o chefe o gosto pela tintura de cabelo. O mais interessante da entrevista é o modo como sua esposa interfere nas perguntas e lhe passa broncas. Ela tem fama de brava e perdeu uma eleiçäo para o senado para a mulher de Kirchner, cuja reputaçäo é semelhante.
Kirchner näo é entrevistado no filme, mas ainda näo conheci ninguém por aqui que seja admirador do presidente. Apesar dos seus 70% de popularidade, é criticado nos círculos acadëmicos que freqüento como autoritário e muito dado à retórica, embora faça pouco na prática.
Vi "Yo Presidente" numa sessäo matinal, de ingresso mais barato, onde passei pela insólita situaçäo de ser a única pessoa presente. Pobre Argentina: uma política täo complicada e o único que aparece para ver o filme é um pesquisador estrangeiro.
E os EUA? Os democratas conquistaram a Cämara dos Deputados e talvez levem também o Senado. Por aqui, a interpretaçäo é que o partido é mais protecionista e que deve dificultar as negociaçöes comerciais, eventualmente até rejeitando os tratados de livre comércio que foram assinados entre Estados Unidos, Colömbia e Peru.
4 Comentarios:
Sobre as eleições americanas(com a renuncia do Rumsfeld e tudo) saiu uma foto emblemática do que significa uma eleição nos Estados Unidos no " O Dia" de hoje.
Eleitores votando numa lavanderia.
Asbs
Alexandre
Coemçaste bem suas crônicas portenhas, caríssimo Santoro. O Duhalde, baixinho e de cabe~ção, era conhecido como "tachinha" por aí, lembra? Belas observações sobre o Alfonsin e o de la Rúa. Gostaria de ver aqui se v. confirma as informações que recebo sobre o autoritarismo do Kirchner, que controla empresários e imprensa com mão de ferro (ameaças de represálias e quejandas). Quem se espanta no Brasil, com o suposto autoritarismo de Lula em relação à imprensa, ou mesmo com o Chávez em Caracas, não sabe o que se faz por aí, não é verdade?
Nobre Alexandre,
Ótima charge. Por aqui, a melhor foi uma foto de Bush gritando com o cachorro "quero sua demissäo!". Legenda: Bush procura culpados pelo fracasso no Iraque.
Grande Sergio,
é exatamente isso. Kirchner é um caudilho da província alçado por um golpe de sorte à presidëncia. Ele se beneficia de um crescimento asiático da economia, mas a situaçäo social é bastante ruim. O tema em discussäo é a derrota que o PJ sofreu na província de Missiones (o governador local queria reeleicao sem limites) e o debate sobre se o presidente será ou náo candidato em 2007. Ele diz que é preciso esperar e depois cumprir a vontade do povo...
Abracos
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