segunda-feira, dezembro 04, 2006

Bin Laden no Rio Uruguai


Nas livrarias de Buenos Aires está disponível um romance sobre uma guerra entre Argentina e Uruguai, que começa quando um grupo do país vizinho seqüestra o corpo de Gardel. A realidade é sempre mais estranha do que a ficçäo e o conflito argentino-uruguaio em torno das papeleras tomou proporçöes alarmantes e um tanto ridículas, envolvendo de supostos terroristas suicidas ao Exército uruguaio.

Recapitulemos os fatos: a empresa finlandesa Botnia anunciou planos de construir fábricas de celulose na cidade uruguaia de Fray Bentos, separada da Argentina pelo rio Uruguai. Na outra margem, a populaçäo reclamou afirmando que as águas seriam poluídas. O governo Kirchner apoiou os manifestantes e iniciou uma campanha para impedir a construçäo das papeleras. O conflito foi piorando na medida que os protestos argentinos fecharam várias vezes a fronteira entre os dois países e a Argentina sofreu derrotas diplomáticas internacionais importantes na Corte da Haia e no Banco Mundial.

Há alguns dias, o marido da secretária de Meio Ambiente da Argentina disse a uma jornalista americana que uma senhora idosa havia se oferecido para um atentado suicida contra a Botnia. Em circunstäncias normais a Bin Laden do rio Uruguai seria apenas motivo de piada, mas o governo Tabaré Vázques reagiu colocando o exército uruguaio para ocupar as papeleras e protege-las de eventuais ataques dos manifestantes argentinos, que ameaçam cruzar a fronteira e fazer justiça com as próprias mäos, com ou sem mulher-bomba.

A relaçäo entre Argentina e Uruguai atingiu seu pior momento desde que Perón falou em bombardear Montevidéu, nos anos 50. O turismo está prejudicado e as autoridades daquele país temem por um péssimo veräo. Ao mesmo tempo, näo é nada bom o envolvimento dos militares numa crise política desse porte. Com a história que temos no Cone Sul, näo se brinca com essas coisas. O que acontecerá se um soldado uruguaio matar um militante argentino?

Por que o governo Kirchner age deste modo? Discutimos o assunto na universidade e a conclusäo é que seu comportamento se explica por razöes de política doméstica: chegou à presidëncia com pouco poder e tentou de tudo para ampliar sua base de apoio. Viu nos manifestantes ambientais uma boa oportunidade para bancar o defensor do meio ambiente (ele näo tem tradiçäo na área) e impor uma posiçäo dura no plano internacional. Náo contou com a resitëncia ferrenha dos uruguaios e com a escalada do conflito, que parece ter saído do controle de todos os envolvidos.

Há poucas semanas chegou à regiäo um enviado do rei da Espanha, escolhido pelas partes para ser um intermediário na negociaçäo. Os jornais locais afirmam que Sua Majestade está preocupada e acha que seu prestígio pode sair abalado dessa crise. Com certeza! E só Alá sabe o que Bin Laden pensa do descrédito do terrorismo suicida...

3 Comentarios:

Blogger Sergio Leo said... Weblog Commenting and Trackback by HaloScan.com

Pois é caro Santoro (ou devo chamá-lo Eduardo Fratelli?), reclamam que Lula não intervém nessa cumbuca, e o emissário do rei vai ver a encrenca em que se meteu Sua Majestade. Briga de gaúcho é fogo.

Quando vais fazer um resminho de sua premiada tese sobre a Bolívia? Estás devendo!!

dezembro 04, 2006 8:04 PM  
Blogger Edukadores said... Weblog Commenting and Trackback by HaloScan.com

Eu falo do conflicto no meu blog http://edukadores.blogspot.com

dezembro 04, 2006 10:17 PM  
Blogger Maurício Santoro said... Weblog Commenting and Trackback by HaloScan.com

Ok, vamos aos comentários.

Mestre Sergio, segundo me consta o governo Kirchner recusou o oferecimento brasileiro para intermediar, o que é coerente com a postura de estimular o conflito para supostos ganhos eleitorais internos.

O ensaio sobre a Bolívia é muito simples, é basicamente um estudo histórico sobre como a disputa por recursos naturais é o centro da politica daquele país. E ainda acho que a questäo agrária é mais explosiva do que a do gás.

Edukadores,

bem interessante seu blog. Concordo inteiramente: Galtieri está aplaudindo do inferno.

Aliás, em linhas gerais, a crise das papeleras se parece com a disputa entre Argentina e Brasil pelos rios do Cone Sul, ou mesmo com o conflito entre Argentina e Chile. Ambos fruto da overdose de geopolítica das ditaduras locais.

Igor,

justamente pelo fato de que o país perdeu muito poder, compensaçöes simbólicas como as papeleras ganham importäncia desmesurada. Vamos ver como a coisa corre por aqui.

Abraços

dezembro 05, 2006 6:17 PM  

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