A morte e a morte de Pinochet
Augusto Pinochet teve duas mortes. A de ontem colocou fim a sua existëncia biológica nesta terra, onde espero que näo deixe saudades nem seguidores. A primeira foi mais lenta, começou em 1998, quando foi preso em Londres, e se estendeu por anos. Acredito que essa é que terá mais impactos para a política sul-americana.
Recordemos a história: Pinochet foi detido a mando de um juiz espanhol, num processo envolvendo tortura e morte de cidadäos daquele país no Chile, durante a ditadura comandada por Pinochet (1973-1990). Na época houve muito estardalhaço na imprensa sobre questöes ligadas à suposta violaçäo da soberania chilena. Pura bobagem. O Direito Internacional mudou muito após a Segunda Guerra Mundial, sobretudo no que toca às questöes de direitos humanos e o Chile havia assinado a convençäo internacional contra a tortura, que prevë exatamente esse tipo de açäo.
Contudo a questäo era complicada porque ao deixar o governo Pinochet impös uma série de exigëncias que muito enfraqueceram a jovem democracia chilena. Uma delas era lhe dar o cargo de senador vitalício, buscando imunidade contra processos judiciais pelos crimes que cometeu quando era ditador.
De 1998 para cá a vida jurídica de Pinochet se tornou bastante animada, näo apenas pela questäo dos direitos humanos mas também pelas descobertas de seu milionário esquema de corrupçäo. Ironicamente, muitos fatos vieram à luz graças à nova legislaçäo antiterrorista dos EUA, que permitiu devassas mais eficientes no sistema financeiro. Devemos a essa a Bin Laden e Bush.
Nos últimos 15 anos, a direita chilena manteve um desempenho eleitoral bom, em torno de 30% a 40% dos votos, ampliado por um sistema político que sobrerepresenta as zonas rurais, tradicional bastiäo dos conservadores. No entanto, os dois principais partidos da direita - UDI e Renovaçäo Nacional - se afastaram progressivamente da figura de Pinochet, fazendo campanha em cima do ideário econömico neoliberal e näo do autoritarismo.
Houve muitas ditaduras militares no Cone Sul. A de Pinochet näo foi a mais violenta - duvidosa glória que cabe ao regime argentino de 1976-1983. Tampouco foi a mais bem-sucedida economicamente. Apesar do mito do sucesso do modelo chileno, durante os anos Pinochet a economia cresceu em média 3% ao ano, bem abaixo do desempenho do regime militar brasileiro. O que destaca o regime de Pinochet foi seu caráter de ditadura personalística, mais típico dos autoritarismos da América Central e do Caribe (Somoza, Trujillo) do que da América do Sul.
Um legado medíocre, para um personagem idem.
4 Comentarios:
em portugal mudou para pior com a democracia veio a corropçao e a droga aumentaram as desigualdades nada de positivo nos mostra que aqueles que critiam pinoche assim como salazar nao sao capazes de governar a casa deles quanto mais o pais e a prova esta no pais miseravel que temos de corruptos
Anonimo,
me corrija se eu estiver errado, mas durante o periodo ditatorial Portugal nao estava um tanto ocupado cometendo genocidio na Africa e exportando seus melhores jovens para a Franca e o Brasil? Pois eh.
Igor,
nao consegui acessar os links que voce mandou, me mande os titulos dos livros e te digo se os conheco.
Abracos
Salve, Igor.
O livro do Romero eh a melhor sintese da historia argentina no seculo XX. Muito bom.
O segundo livro eh do meu professor Roberto Russell e tambem eh excelente. Sem duvida compro um para voce.
Abracos
No conozco História Contemporânea da Argentina. Trataré de leerlo. Sé gracias a mis profesoras que Luis Alberto Romero, como Halperín Donghi, tienen un elevado prestigio en los ámbitos académicos, sus libros son serios y pueden servir de base para investigaciones.
Una síntesis de la historia argentina muy interesante para los neófitos puede ser Breve Historia de los Argentinos, de Félix Luna. Es un autor que tiende más a la divulgación. Personalmente lo recomiendo si no se tienen muchos conocimientos de la historia argentina. Otro autor de divulgación, el historiador "de moda" en estos días, es Felipe Pigna, caracterizado por revelar la historia no-oficial.
Muchos saludos
Patricio Iglesias
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