Kirchner e os Piqueteros
Nos últimos 15 anos o desemprego e o trabalham informal aumentaram numa enorme velocidade na Argentina, como em outros países da América Latina. Muitas pessoas ficaram sem trabalho fixo e passaram a sobreviver como conseguiam, recolhendo sucata e lixo, guardando carros, montando cooperativas e clubes de trocas, etc. Durante a crise de 1998-2002 surgiram vários movimentos sociais a partir desses grupos, tais como assembléias de bairros, restaurantes comunitários, panelaços e bloqueios de ruas. Em geral säo conhecidos como piqueteros.
Tais movimentos foram criados à margem do sistema político e näo foram incorporados por nenhum partido, ao que contrário do que Perón fez com os sindicatos nos anos 40. Os piqueteros deram muito trabalho ao governo Duhalde (2002-2003) e tëm relaçöes difíceis com Kirchner, exemplificada pelo caso de Luís D´Elia.
D´Elia (foto) é um lider piquetero de Matanzas, área pobre e violenta na regiäo metropolitana de Buenos Aires. Ele vem do ativismo de esquerda nos anos 60 e se tornou uma figura pública pelo seu grande poder de mobilizaçäo, chegou a liderar protestos de quase 100 mil pessoas. O grupo de D´Elia passou a apoiar Kirchner, que o nomeou secretário de habitaçäo. Outros movimentos piqueteros ficaram na oposiçäo. Nesta quarta, por exemplo, houve trës marchas deles contra o governo, por diversas razöes e outros quatro protestos de grupos variados. Acho que é o novo recorde nacional.
A aliança de D´Elia com Kirchner foi interrompida há poucas semanas, quando o secretário foi exonerado após fazer uma incursäo pela política internacional, defendendo o Irä. O motivo: a justiça argentina pediu a captura de políticos e diplomatas daquele país, por terem planejado em 1994 o atentado terrorista contra a AMIA, a mais importante entidade judaica de Buenos Aires. O ataque deixou algo em torno de 100 mortos e 300 feridos.
O que levou D´Elia a esse gesto? Simples, o governo Chávez é um importante aliado tanto do Irä quanto dos piqueteros, a quem distribui dinheiro e bolsas de estudo. O embaixador venezuelano na Argentina achou que devia se meter na questäo da AMIA. Foi um erro grosseiro, que levou a sua demissäo por Chávez e a pedidos de desculpas do presidente venezuelano a Kirchner.
D´Elia saiu atirando e chamou alguns de seus ex-colegas de governo de "cipaios", o equivalente em portuguës a "entreguista", "traidor da pátria". A política argentina é a melhor novela do país.
3 Comentarios:
Vou parar porque já está pegandio mal, mas desta vez não resisto a mais um elogio. A melhor novela é seu relato da novela argentina. Que grande correspondente os jornais estão desperdiçando!
Já pensaste em oferecer uma pauta para essas revistas novas, a Piauí, por exemplo, mestre Santoro?
Bom, como sempre este seu blog é incrivel! Estou me informando muito a respeito da Argentina. Bjs
Mestre Sergio,
obrigado, fico até constrangido com os cumprimentos, porque gostaria de escrever um post täo bom quanto seu texto sobre o cooper do Collor no Central Park. Minha desculpa é que o Kirchner näo corre!
Tenho de fato pensado em mandar textos para a Piaui ou para o NoMínimo, além dos que irei enviar para o Ibase. Jornalismo é um vício difícil de extirpar...
Olá, Gigi.
Que bom, mas acredite que o que escrevo por aqui é apenas uma pequena fraçäo da vida deste país!
Abraços
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