quinta-feira, dezembro 07, 2006

Kirchner e os Piqueteros



Nos últimos 15 anos o desemprego e o trabalham informal aumentaram numa enorme velocidade na Argentina, como em outros países da América Latina. Muitas pessoas ficaram sem trabalho fixo e passaram a sobreviver como conseguiam, recolhendo sucata e lixo, guardando carros, montando cooperativas e clubes de trocas, etc. Durante a crise de 1998-2002 surgiram vários movimentos sociais a partir desses grupos, tais como assembléias de bairros, restaurantes comunitários, panelaços e bloqueios de ruas. Em geral säo conhecidos como piqueteros.

Tais movimentos foram criados à margem do sistema político e näo foram incorporados por nenhum partido, ao que contrário do que Perón fez com os sindicatos nos anos 40. Os piqueteros deram muito trabalho ao governo Duhalde (2002-2003) e tëm relaçöes difíceis com Kirchner, exemplificada pelo caso de Luís D´Elia.

D´Elia (foto) é um lider piquetero de Matanzas, área pobre e violenta na regiäo metropolitana de Buenos Aires. Ele vem do ativismo de esquerda nos anos 60 e se tornou uma figura pública pelo seu grande poder de mobilizaçäo, chegou a liderar protestos de quase 100 mil pessoas. O grupo de D´Elia passou a apoiar Kirchner, que o nomeou secretário de habitaçäo. Outros movimentos piqueteros ficaram na oposiçäo. Nesta quarta, por exemplo, houve trës marchas deles contra o governo, por diversas razöes e outros quatro protestos de grupos variados. Acho que é o novo recorde nacional.

A aliança de D´Elia com Kirchner foi interrompida há poucas semanas, quando o secretário foi exonerado após fazer uma incursäo pela política internacional, defendendo o Irä. O motivo: a justiça argentina pediu a captura de políticos e diplomatas daquele país, por terem planejado em 1994 o atentado terrorista contra a AMIA, a mais importante entidade judaica de Buenos Aires. O ataque deixou algo em torno de 100 mortos e 300 feridos.

O que levou D´Elia a esse gesto? Simples, o governo Chávez é um importante aliado tanto do Irä quanto dos piqueteros, a quem distribui dinheiro e bolsas de estudo. O embaixador venezuelano na Argentina achou que devia se meter na questäo da AMIA. Foi um erro grosseiro, que levou a sua demissäo por Chávez e a pedidos de desculpas do presidente venezuelano a Kirchner.

D´Elia saiu atirando e chamou alguns de seus ex-colegas de governo de "cipaios", o equivalente em portuguës a "entreguista", "traidor da pátria". A política argentina é a melhor novela do país.

3 Comentarios:

Blogger Sergio Leo said... Weblog Commenting and Trackback by HaloScan.com

Vou parar porque já está pegandio mal, mas desta vez não resisto a mais um elogio. A melhor novela é seu relato da novela argentina. Que grande correspondente os jornais estão desperdiçando!
Já pensaste em oferecer uma pauta para essas revistas novas, a Piauí, por exemplo, mestre Santoro?

dezembro 07, 2006 4:04 PM  
Anonymous Anônimo said... Weblog Commenting and Trackback by HaloScan.com

Bom, como sempre este seu blog é incrivel! Estou me informando muito a respeito da Argentina. Bjs

dezembro 09, 2006 12:07 PM  
Blogger Maurício Santoro said... Weblog Commenting and Trackback by HaloScan.com

Mestre Sergio,

obrigado, fico até constrangido com os cumprimentos, porque gostaria de escrever um post täo bom quanto seu texto sobre o cooper do Collor no Central Park. Minha desculpa é que o Kirchner näo corre!

Tenho de fato pensado em mandar textos para a Piaui ou para o NoMínimo, além dos que irei enviar para o Ibase. Jornalismo é um vício difícil de extirpar...

Olá, Gigi.

Que bom, mas acredite que o que escrevo por aqui é apenas uma pequena fraçäo da vida deste país!

Abraços

dezembro 09, 2006 3:21 PM  

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