Cemitério da Recoleta
A maioria das pessoas se assusta quando digo que em Buenos Aires moro bem perto do cemitério da Recoleta, posso ver os túmulos da varanda. “Que coisa mórbida!”, me dizem. Na realidade o cemitério é um lugar muito bonito e agradável, além de uma tremenda aula sobre a história da Argentina.
No aspecto físico, o cemitério é um quadrilátero de poucos hectares, com bastante área verde, que se pode percorrer sem pressa em cerca de meia hora. Nele estão enterradas quase todas as personalidades de destaque do país, como ex-presidentes (Sarmiento, Alvear, Pellegrini, Aramburu), escritores e artistas (Victoria Occampo, Bioy Cesares) e membros das famílias mais ricas e poderosas.
Há visitas guiadas gratuitas com guias que contam casos curiosos sobre os túmulos mais bonitos, ilustram alguns pontos interessantes da história argentina e mostram um tanto das paixões e conflitos que finalmente encontraram a paz entre as alamedas arborizadas. Dom Alfredo, meu guia, tem inclinações filosóficas: “Cemitérios são a fronteira física entre a vida e a morte. Não deixem de visitar cemitérios famosos, como o Pére Lachaise em Paris, é uma ótima maneira de aprender história”.
O túmulo mais famoso da Recoleta, sem dúvida é o de Eva Perón, com sua inscrição mística de “voltarei e serei milhões”. O cadáver de Evita só foi descansar ali três décadas após sua morte, depois de um périplo macabro de seqüestros políticos e perversões sexuais. Visitei o cemitério com uma amiga peronista que observou a vingança final de Evita: “A oligarquia a desprezou durante toda sua vida, mas na morte ela é a mais visitada deste cemitério, onde está enterrada toda a elite argentina.”
Por ironias da história, a poucas centenas de metros da senhora Perón está o túmulo do general Aramburu, líder do golpe militar que derrubou seu marido, em 1955. Ele ordenou que o corpo de Evita fosse sepultado na Itália, sob nome falso. Nos anos 70, Aramburu foi seqüestrado e assassinado por guerrilheiros peronistas, os Montoneros. Não satisfeitos, anos depois eles seqüestraram o cadáver, num de seus enfrentamentos com os militares e a direita peronista.
Ignoro as recriminações que seus fantasmas possam trocar à noite. Ás vezes a história e os cemitérios podem ser demasiados vivos e palpitantes, sobretudo na Argentina.
4 Comentarios:
a história dos corpos mortos da argentina sempre me fascinou, no sentido do horror mesmo. Os corpos dos militares, os corpos da ditadura, os corpos de peron e evita. Parece que o ódio e o amor não se acabam com a morte. Impressionante isso.
Maray,
é verdade, a Beatriz Sarlo escreveu um livro muito bom sobre o tema, fazendo inclusive a relação com algumas histórias de vingança na literatura argentina. Chama-se "A Paixão e a Exceção - Borges, Evita, Montoneros".
Abraços
Caraca, q coincidência! Tô fazendo um post sobre o cemitérie da Recoleta, o Père Lachaise e o da Consolação. Passa no meu blog para dar uma olhada depois. Só tô editando as fotos. rs
Se quiser, podemos trocar links.
Eu passei por la mas nao tive a oportunidade de visitar o Recoleta amo a historia de peron e evita retornando por la irei visita-lo quero ler mais sobre eles e fantastica!
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