Política na Era de Clodovil
Brasília. Câmara dos Deputados. Gabinete esfumaçado. Clodovil está sentado em sua cadeira examinando um catálogo de decoração. No sofá, o senador Fernando Collor fala pelo celular com Faustão, dando uma entrevista sobre a importância da ética e rogando às crianças que permaneçam longe das drogas. Frank Aguiar dedilha em seu teclado uma canção sertaneja de dor de cotovelo. Um churrasqueiro presidencial entra afobado no gabinete e tira alguns dólares da cueca, perguntando se alguém topa ser ministro no segundo mandato de Lula. Um grupo de mensaleiros passa fazendo trenzinho no corredor e cantando "Ei, você aí, me dá um dinheiro aí!". Enéas aparece e abraça Clodovil: "Finalmente um parlamentar sem rabo preso! Vamos em frente, construir a bomba atômica!"
Acordo suando frio. Tenho que parar de jantar tarde, tão perto da hora de dormir.
Neste fim de semana a Alta Cúpula dos Doutorandos Iuperjianos esteve reunida para mais uma sessão de orgias e esbórnia, no qual a vida política do país foi passada em revista num cabaré de baixa reputação e preços altos - vocês não imaginam quanto me cobraram pelos bolinhos de bacalhau!
Entre as muitas revelações da noite dantesca esteve a de que um de nossos professores mais idolatrados, um dos pilares das ciências sociais brasileiras, havia concorrido ao cargo de deputado federal, com votação aproximada de 1/2.000 daquela de Clodovil. Isso mesmo: a celebridade teve dois mil vezes mais votos do que nosso luminar intelectual. Se Lênin tinha razão e "a prática é o critério da verdade", quem entende mais de política?
Em época de eleição muitas pessoas crédulas me procuram com olhar ansioso e ar esperançoso e me perguntam em quem devem votar. O tom é semelhante ao daquelas almas cândidas que aceitam folhetos de ciganas que prometem trazer o ser amado em três dias. Como não desejo fazer concorrência a esse povo sofrido, em geral gesticulo impaciente e lanço os buscadores de resposta à balbúrdia do mundo. Além disso, não entendo nada de política. Talvez saiba um pouco de cinema e de literatura, e mesmo assim estou desatualizado com os asiáticos.
Apesar das minhas recusas, as pessoas continuam a me procurar. "Mestre, devo dar a Lula uma segunda chance? Acho que ele realmente não sabia, e ajudou nas investigações." Ou então: "O Alckmin é honesto, não é? E foi bom administrador em São Paulo...".
Me chamaram para uma caminhada de apoio a Lula. Praia de Copacabana e Ipanema. Estou em dúvida entre dar um pulo lá e ir ver uma paródia de Chapeuzinho Vermelho no cinema.
É dura a vida de cientista político brasileiro. Alguém tem o email do Clodovil? Quero mandar meu currículo. Quero aprender com quem sabe.
5 Comentarios:
Gostei dessa idéia. Com um gesto, mandar os perguntadores ao mundo. Pior do que pensar no voto próprio, no segundo turno, é falar disso para quem quer saber em quem votar. Com todo respeito ao vizinho povo sofrido, o que me consola é não ter título de eleitor equatoriano, caro Santoro.
O negócio é tirar o Lulla de lá, depois a gente pensa!
Me propuz a ser uma séria fiscal do próximo Governo, mas sem o Lulla, portanto pra mim o GA é o Candidato!
À partir do ano que vem, começaremos à exigir reformas Política, Tributária, Previdência, etc, etc!
Betina
Meu caro Sergio,
nas minhas atuais circunstâncias eleitorais, não sou exemplo para ninguém. Também me consola o Equador, entre bananas e Chávez. Sempre pode piorar.
Betina,
suponho que você terá bastante trabalho pela frente, seja quem for o presidente...
Dom Igor,
almoço marcado, levarei seu livro. E a Alta Cúpula com freqüência descola descontos nos estabelecimentos de má reputação do Rio. Somos clientes fiéis.
Abraços
Salve, Julio.
Não consegui, acabei vendo um documentário sobre Marcello Mastroianni. Quero ver a Chapeuzinho pirada no próximo fim de semana.
Abraços
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