Surpresas Eleitorais
“Você não está surpreso com o número de leitores do seu blog que votam em Alckmin?”, quis saber uma amiga que verificou a enquete ao lado. Nem tanto. Nos ambientes de classe média, média alta que freqüento – minhas turmas de pós-graduação, por exemplo - há muitos eleitores do PSDB. No sábado à noite, véspera das eleições, fui com amigas no Baixo Leblon e fiquei impressionado com a quantidade de pessoas vestindo camisas denunciando a corrupção no governo Lula. OK, o Leblon é a pátria dourada de Manoel Carlos. Mas também é, ou era, um núcleo da esquerda festiva carioca.
Algo estava no ar e não percebi. As pesquisas de boca de urna indicavam forte possibilidade de segundo turno, mas não vi nenhuma que conseguisse capturar o salto na popularidade de Alcmkin, que obteve 41,6% dos votos. Pelo contrário, a polêmica da semana entre meus colegas de doutorado era se o Ibope estava exagerando os votos do candidato do PSDB, por conta de detalhes na amostra estatística. Não estava. Cientista político não entende mesmo nada de política.
Fazendo o balanço inicial dos resultados, eis o que destaco:
1- O país está polarizado pela divisão geográfica do mapa acima. A maior parte do Norte/Nordeste está com o presidente, enquanto o Centro-Sul ficou com a oposição, exceções feitas a Rio de Janeiro, Minas Gerais e Espírito Santo. Como observa o Renato no blog Tordesilhas, essa divisão acende os piores preconceitos da nossa República Federativa.
2- Teremos um mês de chumbo grosso na campanha eleitoral. Tirem as crianças da frente da TV.
3- Congresso: eleitores reelegeram apenas 6 dos 67 acusados no escândalo das sanguessugas.
Apesar da reação aos escândalos de corrupção, estiveram longe de mostrar compromisso com a honestidade, como demonstram as vitórias de 7 mensaleiros (de 12 que concorreram), de Maluf na Câmara e, Deus nos proteja, de Collor no Senado - e declarando simpatia por Lula!!!. No Rio de Janeiro, a lista de deputados estaduais parece um conclave da Máfia. As principais famílias do crime organizado do estado estão representadas.
4-Apesar da surpresa de Alckmin, o PT saiu-se bem. Aumentou a bancada na Congresso e os governos estaduais, incluindo uma surpreendente vitória na Bahia, onde o ex-ministro Jacques Wagner derrotou o grupo de ACM. O partido como um todo não foi atingido pelos escândalos de corrupção no governo Lula (vide nota acima).
5- Mas no novo Congresso o governo segue em minoria. Precisará do apoio do PMDB e dos partidos de médio porte. Até aí, nada de mais, é o habitual no “presidencialismo de coalizão brasileiro”. Os líderes petistas têm ressaltado a importância de melhorar o relacionamento com o parlamento, foco de tantos problemas.
6- A cláusula de barreira complicou a vida de pequenos partidos, do novato PSOL aos tradicionais PPS, PV, PL. O PTB de Roberto Jefferson e o Prona de Enéas também estão na lista.
7 – Clodovil e o rei do forró Frank Aguiar foram eleitos para a Câmara dos Deputados. Como vou explicar isso na Argentina?
8- O que derrubou Lula na última semana? O dossiê? A ausência nos debates? O assunto é controverso – seus 48,6% dos votos estavam dentro da margem de erro das pesquisas. Ele pode muito bem não ter perdido apoio em escala significativa. A pergunta essencial é o que fez os indecisos se aglutinarem em torno de Alckmin. Interessante notar que a soma dos votos do ex-petistas Heloísa Helena e Cristovam Buarque – 9,5% - daria a vitória ao presidente no primeiro turno.
O melhor resultado da eleição: depois de meses de campanha fria, as pessoas voltaram a discutir política, animadamente. Nos ônibus, restaurantes, locais de trabalho, foi o assunto do dia. Antes tarde do que nunca!
5 Comentarios:
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Maurício, tem mais uma hipótese que pode explicar porque o Lula teve uma votação menor que a esperada: o alto absenteísmo nas camadas carentes e menos instruídas da população, onde o presidente tem mais votos.
Oi, Bruno.
A questão não é a queda dos votos em Lula, e sim a ascensão do Alckmin, e como isso não foi capturado pelas pesquisas.
Abraços
Um dos sanguessugas, o paraense Raimundo Santos, quase foi eleito, mas ficou como suplente.
Entretanto, o Pará mandou de volta para a Câmara o Jader Barbalho (campeão de votos, com mais de 300.000), o mensaleiro Paulo Rocha (mais votado do PT) e o cantor de brega Wladimir Costa (segundo mais votado do estado), que fez vergonha para nós no programa do Jô Soares.
Acho ótimo que Marcelo Déda e Jacques Wagner, da banda boa do PT, tenham começado a falar grosso contra a banda podre. Déda criticou duramente o PT paulista, e Wagner pediu a cabeça de Ricardo Berzoini.
Salve, Marcus.
Entre mortos e feridos, penso que o novo Congresso é mais do mesmo. Alguns corruptos não foram eleitos, outros entraram e gente boa saiu (como o Antonio Biscaia, por exemplo).
Sobre o Deda, dê uma olhada no blog do Rafael Galvão, ali ao lado. O rapaz, talentoso que ele só, é um dos responsáveis pela comunicação da campanha vitoriosa.
Salve, Igor.
Vi a charge sim, muito boa. E também a declaração de Lula sobre Collor. Acho que alguém quer perder a reeleição.
Estou curioso para ver como o presidente irá reagir. Se ele quiser mobilizar a militância, terá que dar explicações sobre seus assessores pegos com a mão no dossiê. E dar a cara a tapa nos debates.
Vem campanha quente por aí. Aguardemos.
Estou lendo uma biografia do Roosevelt. O próximo da fila é seu "O Bom Alemão".
Abraços
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