terça-feira, setembro 19, 2006

Jovens Inquietações na América do Sul



“Será que os jovens sul-americanos já estão mobilizados politicamente e falhamos em perceber isso, por que suas formas de organização são muito diferentes daquelas com que estamos acostumados?”. Essa foi a pergunta central da apresentação que fiz ontem, durante um seminário de dois dias para elaborar uma pesquisa sobre a juventude na América do Sul.

Razões para minha inquietação: há dois anos organizei um seminário no Chile, no Fórum Social daquele país, e todos me diziam que os jovens de lá não se interessavam por política. No entanto, o que foi diferente: vontade de participar, mas frustrada por não encontrar expressão nos canais tradicionais. A juventude esteve em peso no Fórum e dei muitas entrevistas em Santiago, falando sobre a experiência brasileira. Imagino que vários daqueles rapazes e moças estão envolvidos na Revolta dos Pingüins, os enormes protestos dos secundaristas chilenos.

Citei o caso em minha palestra, acrescentando outros exemplos históricos de mobilização juvenil na América do Sul, como a Reforma Universitária que se iniciou na Argentina em 1918 e se espalhou por todo o continente, bem como o movimento indígena katarista na Bolívia, cujos jovens líderes inovaram usando radionovelas em quéchua e partidas de futebol como modo de organização e propaganda.

Compartilhei com o público do seminário – pesquisadores e dirigentes de ONGs – minhas inquietações. Será que movimentos culturais como o hip-hop também não carregam um enorme potencial de mobilização? E a força das novas tecnologias de informação? Como podemos utilizá-la? Será que o atual boom do cinema latino-americano não expressa igualmente uma grande inquietação social, que também encontrará uma maneira de se posicionar politicamente?

Os debates foram muito bons e creio que embarcamos num projeto longo, de pelo menos dois anos, para pesquisar o tema.

4 Comentarios:

Blogger Sergio Leo said... Weblog Commenting and Trackback by HaloScan.com

Santoro, um comentário paralelo: seu comentário _ sobre como as manifestações populares podem ser sinal de disposiçao para a luta política _ me fez lembrar o livro do fernando Mollica, "Notícias do Mirandão", em que um grupo esquerdista decidido a implantar a luta armada chega à conclusão de que o povo já está armado, nas favelas, pelo tráfico, e resta só dar direção política e ideológica ao inconformismo popular. A coisa, nesse caso, não dá muito certo.

Lógico que você está falando de coisa diferente. E é interessante a provocação. Mas me incomoda ver que, embora haja um componente de crítica política em muito da cultura pop, há, ao mesmo tempo, um enorme conformismo.

O hip hop que você citou, por exemplo copia modelos estéticos e comportamentais do negro norte-americano. Guarda, em muito, o machismo do gueto. E é tremendamente individualista, ainda que corporativo...

setembro 20, 2006 12:17 PM  
Blogger Maurício Santoro said... Weblog Commenting and Trackback by HaloScan.com

Alô, Sergio.

Vejo o tráfico como uma força altamente opressiva e maléfica, ainda que inserida dentro de determinadas estruturas sociais e com uma relação ambigua com certos movimentos culturais.

Não me parece ser esse o caso do hip hop, que tem algumas das músicas mais críticas ao descalabro da violência brasileira. Com certeza existe também um machismo muito arraigado nele, mas ao mesmo tempo surgem grupos de hip hop femininos (NegAtiva, Melanina etc) desafiando esses padrões.

Quanto à influência estrangeira, sou plenamente favorável a que exista ampla integração de idéias, canções, sentimentos. Boa parte da riqueza da cultura brasileira vem justamente dessa capacidade de antropofagizar elementos externos, já nos diziam os modernistas. Certíssimos.

Meu caro Igor,

Você está no meu caderninho, o problema é que minha agenda é uma loucura e esta quinta e sexta já estão tomadas por pessoas a quem prometi cartas de recomendação e por colegas de trabalho.

Para a próxima semana, estou melhor, só não posso segunda. Escolha um dia e me mande um email.

Abraços

setembro 20, 2006 4:37 PM  
Blogger Sergio Leo said... Weblog Commenting and Trackback by HaloScan.com

Citei o livro do Molica pelo curioso, Maurício. Claro que não quis comparar com sua tese (-;
E se não tivessemos influências cruzadas não teríamos o chorinho, por exemplo. Mas me incomoda essa cópia quase literal que fazem, dos gestos, roupas, atitude... Sem tirar o mérito de gente coimo o MV Bill e outros que aproveitam o destaque que recebem para uma militância positiva.

agora pára de esnobar o pobre Igor e almoça com o cara, vai.

setembro 20, 2006 5:31 PM  
Blogger Maurício Santoro said... Weblog Commenting and Trackback by HaloScan.com

Oi, JM.

O tempo das pesquisas acadêmicas é mesmo muito longo (talvez longo demais) porque a burocracia é grande. É preciso discutir os objetivos e métodos com parceiros e financiadores, realizar entrevistas de campo, grupos de diálogo, etc.

Por conta disso, com freqüência a realidade está muito à frente das reflexões da universidade e dos acadêmicos. Jornalistas, músicos, cineastas e escritores (e blogueiros, por que não?) têm bem mais agilidade para capturar esse mundo que está nascendo.

Salve, mestre Sergio.

Vixe! O Igor ganhou um lobby poderoso!

Também não gosto da cópia simples, mas acho que existe um processo de adpatação cultural, em qualquer gênero, que começa com a imitação e depois vai acrescentando adaptações e invenções. A cultura brasileira é tão forte que é quase impossível que ela não transforme as influências estrangeiras.

Abraços

setembro 21, 2006 11:02 AM  

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