Mercosul: a integração dos direitos humanos
Há quatro meses foi lançado o Comitê Brasileiro de Direitos Humanos e Política Externa e fui convidado a participar e dar uma ajuda no que diz respeito ao Mercosul. Claro que estou aprendendo muito mais do que colaborando - a imensa maioria dos livros e discussões sobre o bloco praticamente não menciona os DH. Mas há boas atividades no campo e ontem realizamos em Brasília o seminário "Participação em Política Externa e
Direitos Humanos no Mercosul", em parceria com o Ministério Público Federal.
Há muitas propostas interessantes na agenda de DH do bloco, em especial duas iniciativas argentinas - o estabelecimento do direito à verdade, justiça e memória histórica e a criação de um Instituto de Política Pública em Direitos Humanos. Ambas refletem a importância do tema naquele país, algo que vem da mobilização contra a ditadura militar e da intensa onda de mobilização social que acompanhou a crise recente.
O Brasil apresentou o projeto de criar uma comissão regional para lidar com o combate ao racismo. O tema está quente no debate político brasileiro, principalmente por conta das ações afirmativas em favor dos negros, e na América espanhola vem ganhando força pela questão indígena. O Paraguai contribuiu com a iniciativa Nin@ Sur, de proteção à criança, com ênfase no combate ao tráfico, exploração e venda.
Nosso seminário reuniu funcionários públicos, ativistas políticos e acadêmicos da Argentina, Brasil e Uruguai. Discutimos a estrutura dos DH no Mercosul e as iniciativas de participação em curso. A mais interessante é o Conselho Consultivo da Sociedade Civil do Ministério das Relações Exteriores da Argentina, com mais de mil organizações que incluem até catadores de papel. A palestra do embaixador que preside o Conselho foi uma das melhores do seminário, ele falou com paixão e entusiasmo. Sem dúvida, essa é uma experiência que quero acompanhar mais de perto.
Os desafios pela frente incluem não sobrecarregar a agenda de DH do Mercosul com itens que seriam melhor discutidos em outros fóruns internacionais, como a ONU ou a Organização dos Estados Americanos. Claro, a coordenação entre todas essas esferas é sempre difícil. Por isso mesmo é preciso conhecer bem o terreno e o que está em disputa.
Além das atividades do Comitê, os DH estarão no centro das minhas atividades acadêmicas deste semestre. Até o fim do ano preciso entregar cinco textos sobre o tema: artigos acadêmicos, jornalísticos, um capítulo de livro e um projeto de cooperação internacional. Também estou trocando idéias com um grupo de alunos da UnB que conheci no seminário, e que estão com uma ótima proposta para um trabalho de campo na África. Enfim, é um dos meus entusiasmos, agora sai de baixo.
2 Comentarios:
O Chacho Alvarez, presidente do Conselho de Representantes do Mercosul, disse que queria criar um Observatório de Democracia e Direitos Humanos, que se encarregaria não só de vigiar as eleições no bloco, mas também constatar o respeito aos direitos huamnos e sugerir medidas para garantí-los. Acho que é uma espécie de contra-ofensiva à tentativa de basear na OEA uma ainiciativa contra o Chávez e aliados. Curioso que isso nem tenha sido mencionado nesse seminário, Maurício.
Salve, Igor.
O trabalho é sempre numa perspectiva mais longa. Mas avança.
Caro Sergio,
há duas semanas estive num seminário onde o Chacho Alvarez expôs essa proposta, mas ela não foi retomada por nenhum palestrante no nosso evento, e nem consta da agenda da V Reunião de Autoridades de DH no Mercosul, que começou ontem em Brasília.
Concordo com você sobre a motivação da proposta do Observatório, mas não sei até que ponto outros países temam que ele acabe por se tornar um incômodo e um fórum de denúncias contra o governo.
Abraços
Postar um comentário
<< Home