O Longo Amanhecer de Celso Furtado
Nesta quarta assisti no BNDES ao documentário “O Longo Amanhecer – cinebiografia de Celso Furtado”, pérola dirigida por José Mariani. Em cerca de uma hora, temos não só um relato emocionado da vida e pensamento de um dos melhores pensadores brasileiros mas também uma discussão rica e inteligente sobre o que o Brasil vai ser quando decidir crescer.
O fio condutor do filme é um depoimento do próprio Celso Furtado, já octagenário, concedido em julho de 2004, poucos meses antes de sua morte. As declarações são complementadas com entrevistas de parceiros intelectuais, entre os quais se destacam Maria da Conceição Tavares (lúcida, emocionada e brilhante como poucas vezes na vida), Francisco de Oliveira e João Manuel Cardoso de Melo.
A ênfase do Longo Amanhecer é entre 1949 e 1964, a fase em que Furtado teve forte atuação na vida política, como economista da CEPAL, diretor do BNDE, superintendente da Sudene e ministro do Planejamento. O Mestre comenta sobre o suicídio de Vargas, o Plano de Metas de JK, as dificuldades de João Goulart e as tensões sociais no Nordeste. Foram anos em que se pensou a sério um modelo para tirar o Brasil do subdesenvolvimento e como diz Cardoso de Melo, “o golpe de 1964 interrompeu a possibilidade de se construir um país decente.”
Conceição Tavares destaca bem a complementação entre o pensamento de Furtado sobre as origens dos problemas econômicos brasileiros e a habilidade de negociador político que o levou a conduzir alianças difíceis para implementar seus projetos. A menina dos olhos foi a Sudene e os depoimentos do Mestre e de Francisco de Oliveira impressionam pela crítica à “política hidráulica” de lutar contra a seca com grandes obras e a defesa de um modelo sócio-econômico que leve em conta a ecologia do semi-árido para formular políticas públicas. Anos-luz à frente de seu tempo, e muito mais avançado do que as propostas faraônicas do governo Lula de realizar a transposição do rio São Francisco.
Os liberais sempre combateram Celso Furtado e não surpreende o ostracismo político que experimentou nos governos Collor e FHC. Contudo, não é assim tão diferente na presidência de Lula. O Mestre foi reverenciado e respeitado, mas suas idéias, delicadamente afastadas. O Estado brasileiro investe recursos bilionários para financiar o serviço da dívida e a exportação de soja ou celulose, mantendo o país preso ao círculo vicioso da produção de baixo valor agregado. Desenvolvimento é outra coisa. Claro, muito mudou. O Brasil de 2006 também produz aviões, plataformas petrolíferas e participa de pesquisas científicas de ponta.
Mariani deu a seu documentário o título de um dos últimos livros de Furtado. Eu teria usado outro: A Construção Interrompida. O Mestre nos ensinou que o desenvolvimento não se limita ao crescimento econômico, mas engloba toda a gama de possibilidades da criação humana e da cultura. Retomar o desenvolvimento significa recolher os cacos de Brasil dispersos pela violência, miséria e fragmentação social e utilizá-los para levar adiante o processo de construção de nação.
O fio condutor do filme é um depoimento do próprio Celso Furtado, já octagenário, concedido em julho de 2004, poucos meses antes de sua morte. As declarações são complementadas com entrevistas de parceiros intelectuais, entre os quais se destacam Maria da Conceição Tavares (lúcida, emocionada e brilhante como poucas vezes na vida), Francisco de Oliveira e João Manuel Cardoso de Melo.
A ênfase do Longo Amanhecer é entre 1949 e 1964, a fase em que Furtado teve forte atuação na vida política, como economista da CEPAL, diretor do BNDE, superintendente da Sudene e ministro do Planejamento. O Mestre comenta sobre o suicídio de Vargas, o Plano de Metas de JK, as dificuldades de João Goulart e as tensões sociais no Nordeste. Foram anos em que se pensou a sério um modelo para tirar o Brasil do subdesenvolvimento e como diz Cardoso de Melo, “o golpe de 1964 interrompeu a possibilidade de se construir um país decente.”
Conceição Tavares destaca bem a complementação entre o pensamento de Furtado sobre as origens dos problemas econômicos brasileiros e a habilidade de negociador político que o levou a conduzir alianças difíceis para implementar seus projetos. A menina dos olhos foi a Sudene e os depoimentos do Mestre e de Francisco de Oliveira impressionam pela crítica à “política hidráulica” de lutar contra a seca com grandes obras e a defesa de um modelo sócio-econômico que leve em conta a ecologia do semi-árido para formular políticas públicas. Anos-luz à frente de seu tempo, e muito mais avançado do que as propostas faraônicas do governo Lula de realizar a transposição do rio São Francisco.
Os liberais sempre combateram Celso Furtado e não surpreende o ostracismo político que experimentou nos governos Collor e FHC. Contudo, não é assim tão diferente na presidência de Lula. O Mestre foi reverenciado e respeitado, mas suas idéias, delicadamente afastadas. O Estado brasileiro investe recursos bilionários para financiar o serviço da dívida e a exportação de soja ou celulose, mantendo o país preso ao círculo vicioso da produção de baixo valor agregado. Desenvolvimento é outra coisa. Claro, muito mudou. O Brasil de 2006 também produz aviões, plataformas petrolíferas e participa de pesquisas científicas de ponta.
Mariani deu a seu documentário o título de um dos últimos livros de Furtado. Eu teria usado outro: A Construção Interrompida. O Mestre nos ensinou que o desenvolvimento não se limita ao crescimento econômico, mas engloba toda a gama de possibilidades da criação humana e da cultura. Retomar o desenvolvimento significa recolher os cacos de Brasil dispersos pela violência, miséria e fragmentação social e utilizá-los para levar adiante o processo de construção de nação.
6 Comentarios:
Maria da Conceição Tavares lúcida, emocionada e brilhante?!?! Eu preciso ver essa...
Salve, Igor.
Desprezo eterno?! Meu Deus, espero que você tenha melhor opinião sobre este seu professor... Mas ao menos o seu ex-mestre se provou um excelente cineasta.
Glauco, meu caro.
Lembra da nossa aula-trote na faculdade de jornalismo? E o "livro" da Conceição indicado na bibliografia, "Por que choro - retratos do Brasil"? Ah, os bons tempos!
Mas falando sério, ela está muito bem no filme. E estava na platéia, rindo conosco das suas tiradas.
Abraços
Este comentário foi removido pelo autor.
Igor,
o trabalho do Mariani é relevante.
Sua opinião sobre ele é desprezível.
Sds.
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