Recordações de Amar em Cuba
Fidel Castro se afastou (temporariamente?) do poder, por razões de saúde, abrindo especulações de que será substituído por seu irmão Raul e por novos dirigentes como Ricardo Alarcón. Tudo isso me fez pensar no filme a que assisti no fim de semana, “Cidade Perdida”, dirigido, produzido e estrelado pelo ator cubano-americano Andy Garcia.
Garcia interpreta Federico Fellove, o dono de uma elegante casa de shows em Havana, às vésperas da Revolução. Seus interesses são música, mulheres e espetáculos, mas a política entra à força em sua vida, quando dois de seus irmãos se juntam aos rebeldes que combatem o ditador Fulgêncio Batista. Para desgosto do pai dos três, um jurista catedrático de direito constitucional, que sonha em derrubar a tirania com eruditas citações de Sêneca.
Agora vou comentar o filme contando muitos detalhes sobre a trama e o final, portanto se você não quiser saber do resto, pare por aqui.
Um dos irmãos Fellove foge para Sierra Maestra e vai lutar na coluna guerrilheira comandada por Che Guevara. O outro ingressa no grupo Diretório Revolucionário e morre no fracassado ataque ao Palácio Presidencial. O DR não gostava de Castro por acreditar que ele não reestabeleceria a democracia:
“Vocês desconfiam que ele seja comunista?”
“Achamos que ele é fidelista”
A vitória da Revolução provoca o esfacelamento da família Fellove, principalmente pelo conflito com o irmão guerrilheiro. Para complicar as coisas, o personagem de Andy Garcia se apaixona perdidamente pela viúva do outro irmão, Aurora, interpretada pela belíssima atriz espanhola Inés Sastre.
O excelente roteiro é do escritor Guillermo Cabrera Infante, falecido recentemente. Recria com paixão o ambiente da elite pré-revolucionária em Cuba, o esplendor tropical, a vida elegante dos restaurantes, bares e casas de show. Há um personagem interpretado por Bill Murray, um humorista amigo de Federico, que é uma espécie de alter ego de Cabrera, com observações sarcásticas e tiradas espirituosas.
A visão da Revolução é aquela dos cubanos de Miami: todos os revolucionários são retratados como fanáticos, autoritários ou idiotas. Che Guevara é mostrado como um psicopata dominado pelos soviéticos (na verdade ele detestava a URSS e defendia uma aproximação mais intensa com o Terceiro Mundo), com direito a usar bomba de asma enquanto ordena fuzilamentos. O auge do melodrama é um dos Fellove indo confiscar pessoalmente a fazenda de tabaco do tio, o que faz o velho morrer de infarte no local. O sobrinho, angustiado, acaba cometendo suicídio.
Federico se vê impossibilitado de continuar com seu negócio e decide emigrar para os EUA. Ele é o que os cubanos chamam de gusano, o grupo que odeia a Revolução e recusa-se a participar dos acontecimentos. Isso se torna um problema sério quando Aurora passa a apoiar o novo governo e se torna íntima da cúpula revolucionária.
Em entrevistas, Andy Garcia falou do filme como a tragédia do exílio. Seu Federico Fellove é um homem que não está em casa nos EUA, mas que perdeu o país, a cidade e a mulher que poderiam ter dado sentido a sua vida.
3 Comentarios:
Imagine o que vai acontecer quando essa turma toda voltar para Cuba, com as recordações do país como era em 1958, as lembranças de infância, os amores antigos... Vai ser a maior onda de decepções da história contemporânea.
Abraços
Rapidinho...
Entendo que nós brasileiros temos uma visão mais romântico do Fidel Castro e do Che Guevara, mas a verdade é que ninguém está certo nessa discussão...
O Fulgêncio Batista era um contra-revolucionário que se corrompeu, tão quanto o Fidel Castro que era um revolucionário e hoje é, sozinho, uns dos homens mais ricos da América Latina.
A verdade sobre tudo é que o poder corrompe e o dinheiro cega...
all and all... o filme é muito bonito, bem feito e com um história muito sentida por alguém que sai de cuba e têm saudades da sua infância.
Assisti ao filme A Cidade Perdida e lembrei muito do dr jivago,filme proibido pela Direita. Hoje assistimos a censura disfarçada da esquerda ortodoxa e burra, que ainda defende o Ditador Fidel Castro.O filme é lindo, as músicas são belas e deixa a certesa que a democracia ainda é o único caminho, mesmo com suas distorções.
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