Líbano: entrando no turbilhão
Em 1982, militantes da OLP utilizavam o sul do Líbano para atacar Israel. Naquela ocasião os libaneses estavam divididos por uma sangrenta guerra civil e nenhum grupo tinha controle de todo o território. Os israelenses se aliaram a milícias cristãs e invadiram o Líbano, tentando reunificar o país sob controle de seus novos amigos. Ao ocupar metade de Beirute, o exército de Israel cercou os campos de refugiados palestinos de Sabra e Chatila. As milícias cristãs entraram e executaram milhares de pessoas, no pior massacre dos conflitos do Oriente Médio.
O escândalo internacional e a oposição interna fizeram Israel recuar, embora suas tropas continuassem a ocupar o sul do Líbano por mais 18 anos, até 2000. Ao longo desse período, as milícias xiitas foram em grande medida substituídas por um novo grupo, mais radical, melhor armado e organizado, com apoio do Irã e da Síria. O Partido de Deus. Em árabe: Hezbolá.
O nome do ministro da Defesa de Israel que planejou a invasão do Líbano? General Ariel Sharon. Renunciou à pasta após Sabra e Chatila, mas recebeu outro posto ministerial.
Os ataques recentes do Hezbolá surpreenderam Israel pelo alcance e poder de fogo das armas, diz Paul Rogers, um de meus analistas internacionais preferidos. Ele afirma que os mísseis usados pelo grupo destruíram tanques e navios de guerra israelenses cujos mecanismos de defesa supostamente os protegeriam desse tipo de agressão.
Os bombardeios de Israel ao Líbano já mataram mais de 230, e estão concentrados na infraestrutura: estradas, aeroportos, usinas elétricas. Levando em conta que o país passou metade dos últimos 30 anos em guerra civil, não deve haver tanta coisa assim para destruir. Segundo a imprensa, um milhão de pessoas deixou o Líbano, apesar das dificuldades – a estrada para a Síria, principal rota de fuga, está sob ataque. A opinião pública em Israel manifesta alto índice de aprovação ao primeiro-ministro Olmert. Ele livrou-se até de uma investigação sobre corrupção. Nada como uma boa guerra.
Israel aposta que a escalada militar irá isolar o Hezbolá da população libanesa e que a liderança do país aceitará um acordo de paz. O maior obstáculo é que o governo do Líbano não controla todo seu território: partes do sul e vários subúrbios de Beirute estão sob domínio do Hezbolá, que tem apoio dos xiitas (o grupo majoritário do país) e que recebe armas e dinheiro da Síria (que mantinha tropas no Líbano até 2005) e do Irã. Há risco concreto de retorno da guerra civil libanesa no caso de ataque do governo ao Hezbolá.
O jornal libanês publicado, em língua inglesa, o Daily Star, deu editorial sobre as ameaças da guerra: “As ações de Israel em Gaza e no Líbano estão criando uma nova geração de militantes que não se deterão diante de nada para levar a vingança contra os EUA e Israel. Se o padrão atual se mantiver, a próxima geração de militantes irá sobrepujar seus predecessores, assim como o Hezbolá, o Hamas e a Al-Qaeda sobrepujaram a Frente Popular para a Libertação da Palestina e a Organização para a Libertação da Palestina.”
Na coluna direita do blog, coloquei links para sites de notícias e de análises internacionais, para quem quiser acompanhar a crise no Oriente Médio em detalhes.
3 Comentarios:
Não tenho nada coerente para comentar, Mauricio. Apenas dizer que estou muito, muito triste pela situação atual.
Pois é, Marcus. É ainda mais triste por ser uma guerra desnecessária, cujos resultados provavelmente serão os opostos aos objetivos anunciados por Israel.
abraços
Caro Igor,
Israel ocupou o Líbano por 20 anos e não conseguiu deter o terrorismo contra seu território. A contrário, só piorou. O que pretendem fazer agora? Destruir tudo, ocupar 30 anos e atacar a Síria?
Minha opinião é que Israel quer aproveitar a oportunidade favorável que tem diante de si - Bush nos EUA e um Irã ainda sem armas nucleares - para tentar um golpe de força contra o Hezbolá.
Daqui a pouco posto mais sobre o tema.
Não conheço ninguém em busca do Friedman, mas nestes dias o livro ganhou um ar bem contemporâneo. Os capítulos sobre o Líbano são magníficos, jornalismo de guerra de primeira qualidade.
Abraços
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