terça-feira, julho 11, 2006

Buenos Aires 100Km



“Buenos Aires 100 Km” é mais um bom filme que nos chega da Argentina. Sem ter pretensões a obra-prima, é uma história bem contada sobre a transição da infância para a adolescência numa cidadezinha de província.

Tudo se passa em torno de um grupo de amigos que se reúnem para jogar futebol, andar de bicicleta e tomar sorvete vendo a vida passar, meio abestalhada. Dois fatos quebram a rotina: a chegada de uma moça de Buenos Aires por quem um deles se apaixona e um ciclo de boatos que acabará por atingir os meninos, transformando para sempre a relação entre eles.

Cada um dos garotos tem seus pequenos dramas, mas o que ganha destaque é Estéban, que parece ser o alter ego do roteirista: um menino sensível, que vive simultaneamente o primeiro amor e as pontadas iniciais da vocação literária, para desgosto da família de pequenos comerciantes que sonha em vê-lo terminar a escola técnica e se tornar arquiteto.

A nostalgia é um dos grandes temas da arte – “Mas onde estão as neves d´outrora?”, perguntava-se um poeta medieval francês num momento difícil de uma vida atribulada. No entanto poucos países têm tanto saudosismo no centro de sua cultura quanto a Argentina. Talvez só Portugal.

“Buenos Aires 100 Km” tem esse clima nostálgico, de uma melancolia doce, da “grande dor das cousas que passaram”, como quer Camões. O futuro aparece nos planos dos personagens de sair do “pueblito de mierda” e vencerem os cem quilômetros que os separam da capital argentina e de uma vida mais rica e interessante. Mas esse dia nunca chega e um dos diálogos mais simples e tocantes do filme é justamente o da moça que se recusa a levar adiante a saudade, porque “o que acabou, acabou”.

A frase não é lá muito típica da Argentina, mas quem sabe reflita o novo estado de espírito de um país que se reinventa, aos trancos e barrancos.
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