Um Adeus às Armas?
Passei esta quinta no Palácio do Itamaraty, no Rio de Janeiro, no dia inicial da “I Conferência sobre Política Externa e Política Internacional – O Brasil no mundo que vem aí”. O objetivo do evento é expor as posições do Ministério das Relações Exteriores à comunidade acadêmica brasileira. Investimento grande: convidaram umas 150 pessoas, em geral coordenadores de cursos de relações internacionais, de todo o país. Em cada mesa de debates, diplomatas e professores universitários. Estava presente toda a direção do Itamaraty.
O ministro Celso Amorim falou por cerca de uma hora, numa palestra que teve um certo sabor de despedida. Há rumores de que ele não permanecerá no cargo num eventual segundo mandato de Lula e em vários momentos seu tom era o de alguém que fazia o balanço de uma tarefa difícil, destacando o que foi obtido e o que fica para depois. Não era o estilo de quem tem pela frente mais quatro anos. Mencionou até o desejo de voltar a se dedicar à toeria das relações internacionais.
Amorim se queixou dos problemas no relacionamento com a imprensa e com a política interna. Penso mesmo que a conferência é um esforço de relações públicas do Itamaraty para melhorar o diálogo com os formadores de opinião. Infelizmente, o nível das palestras e dos debates foi apenas razoável, com exceção de duas ótimas falas: a do diplomata Roberto Azevedo, sobre OMC, e a do professor Luis Salomão, que tratou de política energética.
O debate sobre minha área de especialização, a América Latina, os palestrantes exprimiram a opinião de que há países com os quais o Brasil não tem nada a ganhar (os que assinaram tratados de livre comércio com os EUA) e os que são aliados (os que não o fizeram). Essa visão fecha possibilidades importantes de cooperação: 1) Com o México, que tem mencionado o desejo de tornar-se membro associado do Mercosul; 2) Com as nações da América Central, que estão num ambicioso programa de obras de infraestrutura em torno do Canal do Panamá, da qual participam empresas brasileiras; 3) Com o Chile, cujas elites empresariais estão nadando em dinheiro por conta da alta do cobre, e buscam opções de investimento. 4) Além disso, a dicotomia não explica porque um país do “bem”, a Bolívia, impôs a pior derrota da política externa brasileira em vários anos.
Na sexta-feira, os debates prosseguem com mesas sobre países e regiões: EUA, China, Índia, África, Europa e Oriente Médio. Vejamos o que sai daí.
Uma ótima conseqüência da conferência foi encontrar toda comunidade de relações internacionais do Rio: colegas de doutorado, de docência na universidade, alunos, ex-orientandos, a turma toda. É um povo muito divertido, que faz o trabalho acadêmico ser alegre e leve. Como deve ser.
4 Comentarios:
Salve Maurício, vim te convidar para visitar o site do Instituto Millenium, onde estou trabalhando. Os temas que abordamos, embora ligados às políticas públicas de uma forma geral, são bem variados. Acho que podem gerar boas discussões.
www.institutomillenium.org
abs
Paulo
Tá... mas com a Venezuela agora, como fica o Mercosur?
Salve, Paulo.
Já conheço o trabalho do instituto, principalmente através das publicações.
Mestre Glauco,
com a Venezuela de membro pleno, o Mercosul fica com 75% do PIB sul-americano e submete a conturbada política venezuelana à cláusula democrática do bloco.
Pode ser que modere o comportamento de Chávez, pode ser que não adiante em muito. Em todo caso, o pior que poderia ocorrer é deixar a Venezuela isolada dentro do continente.
Abraços
Dom Pupo,
é evidente que a cláusula democrática, por si só, não garante nada, mas pode ser um estímulo importante na mediação de crises. Penso no que houve com a tentativa de golpe de Lino Oviedo no Paraguai.
Num cenário turbulento como o da Venezuela, é sempre uma ajuda. Embora na conferência tenha sido comentado que a embaixada brasileira em Caracas tem apenas três diplomatas.
Houve uma discreta troca de farpas entre Amorim e S.P. Guimarães, por causa de umas declarações contundentes (para variar) que o segundo deu sobre o Mercosul.
Abs
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