Saudades de Cuba
Está no ar uma onda de nostalgia pela Revolução Cubana, em três excelentes iniciativas culturais: o documentário brasileiro “Soy Cuba”, a exposição sobre arte cubana no Centro Cultural Banco do Brasil e a publicação do livro “Cuba: uma nova história”, do inglês Richard Gott.
O documentário conta os bastidores do filme cubano-soviético “Soy Cuba: o mamute siberiano”, um épico sobre as lutas sociais da ilha realizado nos anos 60. Os encontros e desencontros dos artistas dos dois países receberam olhar sensível do diretor Vicente Ferraz, no qual se ressalta a admiração profissional pelas técnicas inovadoras que desenvolveram, e também a simpatia humana e política por um tempo em que cineastas e atores acreditavam que podiam mudar o mundo e transmitir uma mensagem humanista. Bom complemento é o documentário “Rocha Que Voa”, de Eryk Rocha, que fala do periodo que seu pai Glauber passou em Cuba.
A exposição sobre arte cubana está no CCBB do Rio de Janeiro e é um painel fascinante por cem anos de pintura e escultura da ilha, das telas sensuais do modernismo à arte pop-política da Revolução. As obras contemporâneas são mais sombrias e tratam da emigração em massa e das dificuldades econômicas do chamado “período especial”, no qual o país precisou aprender a se virar sem o patronato da falecida URSS.
Por fim, o livro de Gott é uma síntese objetiva e competente da história de Cuba, do início da colonização espanhola até os dias atuais. Aprendi muito sobre a ascensão de Fulgêncio Batista – personagem bem mais interessante do que o esteriótipo do ditador latino-americano clássico; sobre os movimentos sociais que antecederam a Revolução e me surpreendi com a influência cubana nas guerras africanas e na queda do apartheid da África do Sul, bem maior do que eu pensava.
A cereja do bolo é a análise da situação de Cuba na última década e meia, com dados impressionantes sobre a tragédia econômica do país e a substituição do açúcar pelo turismo como principal indústria da ilha. Gott também examina o aumento dos movimentos de dissidência e contestação, particularmente aqueles ligados à Igreja Católica. Creio que é o primeiro historiador a escrever sobre a nova geração de líderes cubanos que na prática administram o país há alguns anos, com Fidel Castro cada vez mais afastado do cotidiano do governo. – pessoas como o diplomata e político Ricardo Alarcón.
Visitei em Cuba em 2001 e sou um apaixonado pelo país. Mas não fiquei otimista com o que vi. Parafraseando Drummond, o socialismo é apenas um slogan na parede – e como dói! Penso também nos versos que W.H. Auden escreveu durante a guerra civil espanhola:
We are left alone with our day, and the time is short, and
History to the defeated
May say Alas but cannot help nor pardon
1 Comentarios:
Salve, meu caro.
Aproveite a primeira brecha no seu horário e vá ver a exposição! Além de belíssima, acho que trará idéias para seu trabalho sobre arte, cultura e identidade nacional.
Bem, se você não aparecer hoje na UCAM, nos vemos amanhã na Escola de Guerra Naval.
Abraços
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