A Revolução dos Pingüins
Há uma visão generalizada do Chile como um país conservador, mais alinhado aos EUA do que à América Latina. Compartilhei de muitas dessas opiniões, mas chegou a hora de rever os (pré)conceitos, porque os acontecimentos recentes além dos Andes apontam para uma sociedade dinâmica, viva e com lições importantes para a democracia no continente.
Consideremos a “Revolução dos Pingüins”, como os estudantes secundaristas chilenos são conhecidos devido à cor do uniforme. Cerca de 800 mil jovens envolveram-se em paralisações e protestos, exigindo passe livre nos ônibus e melhora da qualidade do ensino e da infraestrutura das escolas. O número impressiona em qualquer lugar e é incrível num país com apenas 16 milhões de habitantes.
A revolta estudantil mobiliza jovens de 15, 16, 17 anos, a primeira geração a crescer após a redemocratização chilena, iniciada em 1990. Quando estive em Santiago me diziam com freqüência que a juventude do país não se interessava por política e se importava apenas em suas questões individuais. Balela. O que ocorria é que não se sentiam representados pelos partidos e associações tradicionais. O Fórum Social Chileno foi interessantíssimo e contou com participação majoritária de jovens – fico feliz em saber que muitos dos meus colegas do evento estão no movimento dos pingüins.
Os líderes dos estudantes tomaram as ruas três meses após a posse da presidenta Michelle Bachelet, do Partido Socialista. A polícia reprimiu os pingüins com violência, Bachelet, reagiu despedindo o comandante policial.
Hoje existem na América do Sul países com ampla mobilização popular e manifestações nas ruas: Argentina, Bolívia, Chile. A pressão força os governos a agir. No Brasil, Colômbia e Uruguai temos populações bem mais passivas, anestesiadas pela violência ou desiludidas pela corrupção e ineficiência do sistema político.
A retórica populista do presidente Lula, comparando-se sempre a um pai de família, é típica do quadro de uma cidadania pouco consciente e desmobilizada. Não imagino Bachelet respondendo aos estudantes dizendo-se mãe deles, receberia tremenda vaia em resposta. Mas nós, brasileiros, devemos gostar de sermos tratados como crianças, tanto que as pesquisas indicam que reelegeremos nosso Grande Pai no primeiro turno.
3 Comentarios:
Na época em que eu militava no PT, li um discurso do Lula onde ele também se portava como pai dos militantes. Ele usava metáforas não menos infelizes que as que usa hoje.
Falando sobre os estudantes, eles voltaram em massa às ruas ontem (segunda), e o Globo Online publicou uma bela galeria de fotos.
Salve, Marcus.
Dos discursos do Lula que ouvi no PT o que me ficou mais era o tratamento de "companheiro", a idéia de pessoas que caminham juntas num projeto político.
O paternalismo do presidente é um retrocesso horrível, contraria toda a trajetória dos movimentos sociais nos últimos 30 anos.
Li a reportagem do Globo e impressiona a capacidade de mobilização dos secundaristas chilenos, bem como sua habilidade para conseguir apoio em outros setores sociais.
Abraços
Encontrei, seu blog por acaso.
Muito bacana, seu texto sobre a Revolta dos pingüins. Quanto a isso, tenho uma nova.
Em breve, vai sair um Doc. sobre a luta, da galera mexicana.
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