Caché
“Caché” é um dos melhores filmes da temporada, estrelado por meu ator francês favorito, Daniel Auteil. Ele interpreta Georges, um intelectual refinado e culto que apresenta um programa literário na TV. A auto-imagem idealizada da França.
A vida bem-sucedida de Georges é abalada quando sua família começa a receber vídeos que mostram imagens do cotidiano da casa. Alguém os está espionando. Logo depois, chegam cartões com desenhos infantis de sangue e violência. A esposa (Juliette Binoche) fica perplexa, mas ambos escondem tudo do filho adolescente.
Aos poucos o espectador descobre que Georges desconfia sobre quem seja a pessoa misteriosa que envia os vídeos, mas prefere ocultar suas suspeitas da mulher. A chave para o caso está na relação complicada que manteve quando criança com empregados argelinos de sua família, em particular com um gesto vergonhoso e mesquinho que cometeu naquela época, cujas conseqüências trágicas continuam a atormentá-lo.
O passado que Georges se esforça para manter escondido – mas que insiste em retornar para assombrá-lo – é uma metáfora brilhante para o mal-estar que a França da “liberdade, igualdade e fraternidade” sente em lidar com sua história de opressão e tirania como poder colonial na África e na Ásia. O massacre dos argelinos em Paris, durante protesto pela independência de seu país nos anos 60, de certa maneira detona a trama. A História se imiscuindo na vida dos personagens, pingando sangue por todos os lados.
O enredo está estruturado como um mistério policial, mas só superficialmente. Com certeza, muitos espectadores se frustrarão com a falta de respostas para várias perguntas do filme. O que importa são os sentimentos que ele retrata. Uma França de tensões raciais à flor da pele, marcada pela cultura do medo com relação ao Outro, principalmente se ele tiver tez escura e/ou for muçulmano. “Caché” foi lançado poucos meses antes da revolta das banlieus, mas as fagulhas estavam todas lá.
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